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Mulher, negra e ex-procuradora: quem é Kamala Harris, a vice de Joe Biden

Escolha de uma senadora progressista, com histórico de luta contra o sistema de justiça dos EUA, pode impulsionar chapa democrata contra Donald Trump

Kamala Harris: senadora de 55 anos tem o potencial de impulsionar votos da comunidade progressista dos EUA para a chapa com Joe Biden (Tom Williams/Getty Images)

Kamala Harris: senadora de 55 anos tem o potencial de impulsionar votos da comunidade progressista dos EUA para a chapa com Joe Biden (Tom Williams/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 11 de agosto de 2020 às 18h44.

Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 15h53.

Finalmente o candidato democrata às eleições americanas, Joe Biden, divulgou o nome de sua vice: a senadora democrata Kamala Harris.

Biden, um homem branco de 77 anos, escolheu uma mulher negra, de 55 anos, para estar a seu lado no pleito contra o atual presidente republicano Donald Trump, que tem um perfil conservador e um histórico de declarações machistas e racistas.

Atualmente, Kamala é senadora pela Califórnia, mas no ano passado foi uma rival e crítica de Biden ao disputar a nomeação do partido democrata para assumir a corrida eleitoral. Nos últimos meses, ambos se aproximaram e seu nome ganhou projeção com o crescimento dos debates antirracistas nos Estados Unidos, impulsionados pelos protestos liderados pelo movimento "Black Lives Matter".

Essa será a primeira vez que os EUA têm uma candidata à vice-presidência negra. Se eleita, ela também se tornará a primeira mulher a ocupar esse cargo em mais de 200 anos de história de eleições democráticas no país.

"Quando Kamala era procuradora-geral, ela trabalhou próxima de Beau [filho falecido de Biden]. Eu observei quando eles foram atrás de grandes bancos, levantaram os trabalhadores e protegeram mulheres e crianças de abusos. Eu fiquei orgulhoso lá e estou orgulhoso agora de tê-la como companheira nesta campanha", escreveu Biden em seu Twitter.

A democrata da Califórnia nasceu em Oakland e é filha de dois pais imigrantes: uma mãe indiana e um pai jamaicano. Ela foi criada principalmente pela mãe, uma pesquisadora sobre câncer de mama e ativista dos direitos civis.

"Minha mãe sabia muito bem que estava criando duas filhas negras", escreveu ela em sua autobiografia, The Truths We Hold. "Ela sabia que sua pátria adotiva veria Maya [irmã de Kamala] e eu como meninas negras e estava determinada a garantir que nos tornássemos mulheres negras confiantes e orgulhosas."

Em seu perfil oficial no Senado, ela declara que passou a vida lutando contra a injustiça. "Crescendo em Oakland, Kamala tinha uma visão panorâmica do movimento dos Direitos Civis", diz o texto.

Ela se formou na Howard University, uma histórica universidade para pessoas negras em Washington. Depois, também estudou direito e começou uma carreira bem-sucedida como promotora.

Em 2003, ela, mais uma vez, subverteu o sistema e se tornou a primeira mulher a ser promotora pública na cidade de San Francisco, na califórnia. Depois, foi a primeira mulher e também a primeira negra a assumir o cargo de procuradora-geral da Califórnia.

"Nessa função, ela trabalhou incansavelmente para responsabilizar as empresas e proteger as pessoas mais vulneráveis ​​do estado", diz o texto em seu perfil no site do Senado.

Sua missão, resume, é lutar pelos direitos de todos, com foco em reformular direitos trabalhistas, o sistema de justiça criminal americano, além de fazer da saúde um direito para todos e apoiar a luta contra o uso abusivo de substâncias ilicitas, os opioides principalmente.

Todas essas características de Kamala podem ser decisivas para o pleito eleitoral, que ainda não foi adiado em decorrência da pandemia do novo coronavírus e está marcado para 3 de novembro.

Diferentemente do Brasil, nos EUA o voto não é obrigatório e, com uma chapa composta por uma vice-presidente mulher e negra, os democratas podem conquistar importantes votos da comunidade progressista americana.

Sua atuação contra o atual modelo do sistema de justiça dos EUA — país que tem a maior população carcerária do mundo, com mais de 2 milhões de presos — mas não contra a impunidade também tem o potencial de impulsionar a sua chapa com Biden nesta eleição que é a mais aguardada do ano em todo o mundo.

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