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Morre George Pell, ex-tesoureiro do Vaticano que enfrentou acusação de pedofilia

George sofreu complicações cardíacas fatais após cirurgia no quadril, disse o arcebispo Peter Comensoli, seu sucessor como arcebispo de Melbourne

O cardeal George Pell, assessor do Papa (Remo Casilli/Reuters)

O cardeal George Pell, assessor do Papa (Remo Casilli/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de janeiro de 2023 às 13h32.

Última atualização em 11 de janeiro de 2023 às 13h48.

O cardeal australiano George Pell, ex-assessor financeiro do papa Francisco, que passou mais de 400 dias em confinamento solitário até que suas condenações por abuso sexual infantil fossem anuladas, morreu nesta terça-feira, 11, aos 81 anos. Ele sofreu complicações cardíacas fatais após cirurgia no quadril, disse o arcebispo Peter Comensoli, seu sucessor como arcebispo de Melbourne.

Embora mais moderado do que outros cardeais conservadores da Cúria, ele nunca escondeu sua oposição às reformas de Francisco. Isso não foi impeditivo para que fosse incluído pelo pontífice no conselho de cardeais que o ajudaria no governo da Igreja, e depois o tornasse prefeito da nascente Secretaria de Economia (ministério das finanças), que traria ordem às contas pouco transparentes da Santa Sé.

Um réquiem para Pell deve ser realizado na Basílica de São Pedro no Vaticano, nos próximos dias. A expectativa é de que o papa participe do rito fúnebre. O corpo também deve ser levado de volta à Austrália para uma missa fúnebre e ser enterrado na cripta da Catedral de Santa Maria, em Sydney.

O arcebispo católico de Sydney, Anthony Fisher, disse que a morte foi um choque. “Caberá aos historiadores avaliar seu impacto na vida da igreja na Austrália e além, mas foi considerável e será duradouro”, disse.

“Para muitas pessoas, especialmente da fé católica, este será um dia difícil”, declarou o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese.

A jornalista Lucie Morris-Marr, que escreveu o livro Fallen sobre o julgamento de Pell, disse no Twitter que a morte de Pell “será um gatilho terrível para muitos australianos afetados pelo abuso sexual de crianças católicas e não apenas para os envolvidos em seu julgamento”.

Apesar de absolvido de acusações de abuso sexual de crianças que remetiam à 1990, Pell, junto à arquidiocese de Melbourne, enfrentava processo civil na Austrália. O caso foi apresentado pelo pai de um ex-coroinha que alegou ter sido abusado sexualmente por Pell.

O pai afirma ainda ter sofrido efeitos psicológicos em decorrência dos abusos do filho, que morreu em 2014 por overdose acidental de drogas. “Um julgamento civil provavelmente teria dado a oportunidade de interrogar Pell e realmente testar sua defesa contra essas alegações”, disse Lisa Flynn, diretora jurídica da Shine Lawyers. “Ainda há uma grande quantidade de evidências para essa alegação.”

Acusações de pedofilia

Pell nasceu em 8 de junho de 1941, o mais velho de três filhos de um boxeador campeão peso-pesado. A mãe Margaret Lillian era de uma família católica irlandesa. Ele cresceu na cidade regional vitoriana de Ballarat. Com 1,93 metro de altura, era chamado pelo apelido "Ranger" e foi um talentoso jogador de futebol australiano. Chegou a receber uma proposta oferecido de contrato para ser jogador profissional e jogar pelo Richmond, mas optou pelo seminário.

Ex-arcebispo de Melbourne e Sydney, tornou-se o terceiro oficial mais graduado no Vaticano depois que o papa Francisco o convocou em 2014, para reformar as finanças notoriamente opacas do Vaticano, como o primeiro "czar financeiro" da Santa Sé. Passou três anos como prefeito da recém-criada Secretaria de Economia, onde tentou impor padrões internacionais de orçamento, contabilidade e transparência.

Pell voltou à Austrália em 2017 em tentativa de limpar seu nome de acusações de sexo com crianças que datam do tempo como arcebispo. Um júri do Tribunal do Condado do estado de Victoria inicialmente o condenou por molestar dois coroinhas, de 13 anos, no final da década de 1990.

O cardeal cumpriu 404 dias em confinamento solitário antes que o plenário do Supremo Tribunal anulasse por unanimidade suas condenações em 2020. Durante o tempo na prisão, Pell manteve um diário documentando tudo. Nele, refletiu sobre a natureza do sofrimento, o papado de Francisco e as humilhações da prisão enquanto lutava para limpar seu nome por um crime que insistia nunca ter cometido.

Pell e seus apoiadores acreditavam que ele foi uma espécie de "bode expiatório" de todos os crimes da resposta malfeita da Igreja Católica australiana contra o abuso sexual do clero. Vítimas e críticos dizem que ele sintetizou tudo de errado na maneira com que a igreja lidou com o problema.

O cardeal teve apoio e foi defendido por Francisco. "Ele teve de ficar na Austrália por quase dois anos por essa calúnia e, então, foi considerado inocente, mas fizeram o pobre sujeito pagar caro", disse o papa, em entrevista ao canal de televisão italiano Mediaset, neste Natal.

Embora absolvido, a reputação do ex-tesoureiro permaneceu manchada pelos escândalos. A Comissão Real da Austrália para Respostas Institucionais ao Abuso Sexual Infantil apontou que ele sabia de clérigos molestavam crianças na década de 1970, mas não tomou as medidas adequadas para lidar com isso.

Pell havia testemunhado remotamente à comissão durante quatro dias em Roma em 2016. Após seu testemunho, Pell se encontrou com sobreviventes australianos que viajaram a Roma para ouvir o testemunho dele pessoalmente. Ele reconheceu que falhou em agir sobre uma alegação de uma década atrás e prometeu trabalhar para acabar com a onda de suicídios em sua cidade natal australiana de Ballarat, onde dezenas de pessoas tiraram sua vida como resultado do trauma. “Agora sabemos que era um dos piores lugares da Austrália [para crimes sexuais infantis]”, disse Pell na época.

Depois que ele foi considerado responsável por não tomar as medidas adequadas pela Comissão Real, Pell disse que ficou surpreso com as descobertas e que elas não foram "apoiadas por evidências".

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