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Milei começa 2º ano no cargo com expectativa por liberação cambial e saída da recessão

País deve ter retração do PIB de 3,5% em 2024, mas crescer 5% em 2025, segundo o FMI

Javier Milei, presidente da Argentina, durante discurso em Buenos Aires (Juan Mabromata/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, durante discurso em Buenos Aires (Juan Mabromata/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 04h00.

O presidente da Argentina, Javier Milei, começa seu segundo ano de governo nesta terça-feira, 10, com vários indicadores a comemorar, como a queda da inflação e a conquista de superávits fiscais desde o início do ano. Por outro lado, há expectativa pelo fim da recessão que veio na esteira do ajuste fiscal e pela liberação do acesso a dólares, uma promessa de campanha.

Após assumir, Milei tomou medidas duras, como cortar 30% dos gastos públicos, enxugar aposentadorias e repasses federais para as províncias, além de cortar subsídios, encaminhar a privatização de estatais e demitir funcionários públicos. Até outubro, 31 mil deles foram dispensados, segundo o governo

Com isso, a Argentina passou a ter superávit fiscal em 2024, depois de anos de déficits. A inflação, baixou para 2,7% ao mês em outubro. Em dezembro de 2023, estava em 25,5% ao mês.

No entanto, o país vive uma recessão e deverá fechar 2024 com queda de 3,5% do PIB, projeta o FMI. Com isso, a pobreza também cresceu e atinge 53% da população. Em 2023, 40% dos argentinos estavam nessa condição. 

Para 2025, a expectativa é de retomada da economia,, com crescimento do PIB de 5%, puxado não só pelo cenário fiscal, mas pela melhora da produção agrícola e do avanço da exploração de gás das reservas de Vaca Muerta, no sul do país.

"Estamos começando a ver sinais de que a Argentina está saindo da recessão, mas é uma recuperação heterogênea", aponta Juan Carranza, analista político. Ele aponta que há melhora em setores como o agro, que se recupera de uma seca forte, e de mineração, onde foram criadas regras para facilitar investimentos e tem havido aumento da produção de gás na reserva de Vaca Muerta, no sul do país.

Já a construção civil está em situação ruim, especialmente porque Milei cortou obras públicas, como parte do esforço para economizar dinheiro público. 

Fim das restrições cambiais

No próximo ano, outra grande expectativa é o fim do “cepo”, o conjunto de restrições que limitam a aquisição de dólares pelos argentinos. Como faltam dólares no país, sucessivos governos foram criando limitações de compra.

O modelo gerou uma burocracia enorme, pois cada finalidade possui cotações diferentes e as compras grandes dependem de aprovação estatal. Isso dificulta transações, como a importação de máquinas pelas fábricas e o faturamento da venda de soja exportada pelos agricultores. 

“É certeza que as restrições cambiais não vão estar mais na Argentina no ano que vem. É muito importante sair do cepo cambial. Mas é mais importante fazer isso de modo que não gere estresse na economia, nos investimentos e para nossos cidadãos. Para isso, não colocamos uma data limite, mas condições", afirmou Luis Caputo, ministro da Economia, durante um evento em São Paulo na semana passada.

Caputo diz, no entanto, não saber ainda em que trimestre do ano a mudança ocorrerá. As principais condições para o fim do cepo são que as emissões de pesos sejam estabiizadas de vez, que a inflação se mantenha sob controle e que o Banco Central argentino ajeite seu balanço. Hoje, a entidade está com reservas negativas. Ou seja: não tem dólares suficientes para honrar seus compromissos. 

A expectativa é que a renegociação do acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que está em andamento e deve ser concluída nos primeiros meses de 2025, possa trazer mais alguns bilhões para recompor as reservas do BC e acelerar o fim das restrições. 

O movimento, no entanto, será arriscado: se for feito sem cuidado, o fim dos controles cambiais poderá gerar uma queda livre do valor do peso, algo capaz de gerar uma nova crise e trazer de volta a inflação elevada. 

"A maioria dos preços estão dolarizados, então qualquer efeito no câmbio têm impacto na inflação. O risco de um salto inflacionário também depende de como oferta e demanda vão se acomodar", diz Carranza. 

Em outubro de 2025, Milei terá outro teste nas urnas: haverá eleições legislativas de meio de mandato, em outubro, e os argentinos poderão dizer na prática o quanto estão apreciando, ou não, as medidas do presidente, que somava 50,2% de aprovação em novembro, de acordo com a consultoria CB.  

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