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Macron espera que Milei se una a 'consenso internacional' antes da reunião de cúpula do G20

Francês teme que posição de argentino em relação às mudanças climáticas possa levar à saída da Argentina do Acordo Climático de Paris

Macron vai se reunir com Milei neste sábado na Argentina (Ludovic Marin/AFP)

Macron vai se reunir com Milei neste sábado na Argentina (Ludovic Marin/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 16 de novembro de 2024 às 11h01.

O presidente francês Emmanuel Macron se reunirá com Javier Milei, admirador de Donald Trump, na Argentina, no sábado, na esperança de conduzi-lo ao caminho do “consenso internacional” antes da cúpula do G20 no Brasil.

Macron deve chegar no final do sábado em Buenos Aires, onde será recebido em um jantar privado por seu colega argentino, que o receberá novamente no domingo antes de ambos partirem para o Brasil para participar da cúpula do G20 no Rio de Janeiro nesta segunda e terça-feira.

Foram dias agitados para Milei, que acaba de voltar da residência de Trump na Flórida, onde participou de um fórum conservador no qual propôs a criação de uma “aliança” com os Estados Unidos, a Itália e Israel para salvaguardar “o legado ocidental”, que, em sua opinião, está ameaçado pela “hegemonia cultural da esquerda”.

Milei e Trump têm a ideia de dar as costas aos principais acordos climáticos multilaterais.

Nesse contexto, Macron, do lado oposto, espera “superar” as “diferenças”, especialmente sobre o meio ambiente, a fim de “convencer a Argentina a aderir ao consenso internacional (...) e às prioridades do G20”, de acordo com fontes do Eliseu, a sede da presidência francesa.

A Argentina retirou sua delegação das negociações climáticas da COP29 no Azerbaijão na quarta-feira, em uma decisão abrupta e inesperada, e há especulações de que ela pode se retirar do Acordo Climático de Paris.

Macron é um dos poucos líderes estrangeiros a visitar Buenos Aires desde que Milei assumiu o cargo em dezembro.

— Será um teste para o peso e a influência de Macron na América Latina — disse Oscar Soria, diretor da The Common Initiative, uma organização ambiental com sede em Nova York.

— Se Macron não conseguir convencer Milei a permanecer no Acordo de Paris, isso mostrará que ele perdeu sua influência na região — acrescenta, temendo que isso abra caminho para outras retiradas ‘em cascata’ por parte dos países sul-americanos.

O presidente argentino também está causando preocupações para o governo brasileiro.

A tensão entre a Casa Rosada e o Brasil escalou na reta final da negociação para a elaborar a declaração final que será anunciada pelos presidentes na cúpula de chefes de Estado e de governo do G20, no início da semana que vem.

Em meio a rumores sobre eventuais contatos entre Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ganharam força após uma visita relâmpago do argentino aos Estados Unidos, onde participou de um jantar junto ao presidente eleito Donald Trump, a delegação argentina, confirmaram fontes do governo brasileiro, tentou barrar a menção no documento uma iniciativa central para a presidência brasileira do G20: a taxação dos super-ricos.

A cada dia que passa, cresce o temor de que a presença de Milei, que esta semana também anunciou seu desejo de negociar um acordo de livre comércio com os EUA, o que violaria regras internas do Mercosul, na cúpula vire uma enorme dor de cabeça para o Brasil de Lula.

Os temores se aprofundaram após o encontro entre Milei e Trump na quinta-feira, no resort de Mar-a-Lago, e, coincidência ou não, a mudança de posição dos negociadores argentinos que já estavam no Rio. De acordo com fontes do governo brasileiro, “a mudança de posição dos argentinos é uma jogada claramente política, e um ataque a uma bandeira que contraria os interesses econômicos dos aliados de Milei”.

Conflitos com líderes de direita

Para Alejandro Frenkel, especialista em relações internacionais da Universidade Nacional de San Martín, Macron está interessado em “se estabelecer como uma figura representativa” em questões ambientais e “marcar uma contraposição”. O líder francês já havia se oposto ao ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro em relação ao desmatamento.

Além disso, considerando a forte oposição dos agricultores franceses a um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, algo que a Argentina é atualmente a favor, Macron poderia usar as diferenças em questões ambientais como “um argumento para não avançar” nas negociações entre blocos, disse Frenkel à AFP.

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Embora controversas localmente, as reformas de Milei para trazer a Argentina de volta ao equilíbrio fiscal e tentar sair de uma profunda crise econômica são bastante elogiadas pela França que as considera “indo na direção certa”.

Paris também pretende aprofundar as relações econômicas, especialmente na área de metais críticos, já que o grupo de mineração Eramet acaba de inaugurar uma mina de lítio na Argentina. De acordo com Ariel González Levaggi, do Conselho Argentino de Relações Internacionais (CARI), Macron também deve aproveitar sua visita para promover a possível venda de submarinos Scorpène franceses, embora a presidência francesa esteja minimizando o estado das negociações.

Para ele, “a prioridade não está tanto nas questões políticas da agenda bilateral, que claramente não estão muito alinhadas, mas em outras questões que têm a ver com a possibilidade de um acordo para a venda de equipamentos militares”.

— A Argentina não tem atualmente nenhum submarino operacional e, para a Marinha argentina, essa é uma prioridade — acrescentou.

— Se isso funcionar, a visita de Macron para os franceses seria bem-sucedida, além das questões de mudança climática ou da agenda levantada por Milei.

No domingo, Macron também prestará homenagem aos cerca de 20 cidadãos franceses que desapareceram e foram assassinados durante a ditadura militar argentina (1976-1979), uma página negra da história argentina sobre a qual Milei é regularmente acusado de revisionismo por seus detratores.

Após a Argentina e o G20, Macron viajará para o Chile, onde na quinta-feira fará um discurso em Valparaíso sobre sua política para a América Latina.

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