Palavra-chave: crise política na França após derrubada de Michel Barnier
Agência de notícias
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 16h56.
Última atualização em 5 de dezembro de 2024 às 17h44.
O presidente da França, Emmanuel Macron, fez um duro discurso contra a oposição, creditando à esquerda e à extrema direita a atual crise política no país, que teve na derrubada do premier Michel Barnier, na quarta-feira, 4, um de seus episódios mais dramáticos. No pronunciamento na TV, Macron garantiu que cumprirá seu mandato até o final, rejeitando os pedidos para que renuncie, defendeu seu governo e disse que, nos próximos dias, anunciará o nome de um novo primeiro-ministro.
Ainda em meio ao impacto da demissão de Barnier, após menos de 100 dias no cargo, Macron disse que ele foi derrotado em um voto de não confiança “porque a extrema direita e a extrema esquerda se uniram, numa frente anti-republicana, e porque as forças que até ontem governavam a França optaram por se aliar-se", completando que "nunca assumiria a responsabilidade pelos outros.”
“Os deputados do Reagrupamento Nacional e da Frente Popular (coalizão de esquerda) escolheram a desordem. Não para fazer, mas para desfazer. Por que esses deputados escolheram a censura?”, questionou Macron. “Porque estão pensando nas eleições presidenciais.”O presidente defendeu a escolha de Michel Barnier, concluída em setembro, reafirmando, como o fez ao longo do complicado processo para definir e aprovar o nome do premier, que era um nome de consenso, e que tinha chances de ser aprovado sem sobressaltos.
"Durante este verão [no Hemisfério Norte], realizei amplas consultas, primeiro para tentar convencer as forças políticas a trabalharem em conjunto, como é feito entre muitos dos nossos vizinhos", disse Macron. [Barnier] provavelmente reuniria a maioria na Assembleia e no Senado da direita republicana ao centro, incluindo os radicais e as forças independentes e dos territórios.
Mas Macron não anunciou o nome do sucessor no posto, algo que prometeu fazer "nos próximos dias". Até lá, o cargo será ocupado interinamente por Barnier.
“Vou instruir o primeiro-ministro a formar um governo de interesse nacional. O primeiro-ministro terá de realizar as suas consultas e formar um governo rígido ao seu serviço”, declarou. “Espero plenamente que consiga surgir uma maioria para adotar o próximo Orçamento no Parlamento.”Macron vive em estado permanente de crise política desde a votação para o Parlamento Europeu, dominada pela extrema direita, em junho, e por sua decisão de convocar eleições legislativas antecipadas para, segundo ele, "esclarecer o cenário" no país. O resultado foi um Legislativo ainda mais dividido, com a extrema direita, a esquerda e o centro estabelecendo seus próprios feudos, e com uma margem de manobra ainda menor do que a que o presidente tinha na legislatura anterior.
A indicação de Michel Barnier, um veterano do campo conservador, como primeiro-ministro foi encarada por Macron como um gesto pelo apaziguamento, mas o resultado passou longe do esperado.
O premier era atacado pela esquerda, que reivindicava o posto por ter vencido as eleições concluídas em julho, e também pela extrema direita, que o acusou de não estar aberto ao diálogo. Em um movimento impensável em tempos mais "normais", os dois campos, rivais existenciais, se uniram contra Barnier quando ele usou uma manobra para aprovar, sem o aval do plenário, um trecho do Orçamento anual. Era o prenúncio de um voto de não confiança, aprovado na quarta, e da renúncia, oficializada nesta quinta-feira em carta ao presidente.
“O nosso papel, aquele que os eleitores nos deram um mandato, é protegê-los. [Michel Barnier] na verdade não quis mudar o Orçamento, não parou de atacar as empresas, os franceses... Diante disso, só houve uma possibilidade, derrubar o orçamento”, disse nesta quinta-feira, em entrevista ao canal CNews, a líder do Reagrupamento Nacional (extrema direita) e provável candidata à Presidência, Marine Le Pen. Para ela, a derrubada de Barnier "não foi um golpe político, mas um ato político".
No pronunciamento, Macron reiterou que não renunciará ao cargo, como quer boa parte do espectro político francês — ele, que não poderá concorrer à reeleição, tem mais dois anos de mandato.
“O mandato que me foi confiado democraticamente é um mandato de cinco anos e irei exercê-lo integralmente até ao seu fim. A minha responsabilidade passa por garantir a continuidade do Estado, o bom funcionamento das nossas instituições, a independência do nosso país e a proteção de todos”, disse Macron.