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Joia da Nova York industrial dará lugar a novos arranha-céus

Aquela que um dia foi a maior refinaria de açúcar do mundo dará lugar a cinco torres de casas futuristas


	Refinaria de Domino Sugar: construção mudará a imagem do bairro de Williamsburg
 (Getty Images)

Refinaria de Domino Sugar: construção mudará a imagem do bairro de Williamsburg (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2014 às 09h36.

Nova York - Aquela que um dia foi a maior refinaria de açúcar do mundo deixará muito em breve sua privilegiada localização no East River para dar lugar a cinco torres de casas futuristas, um projeto que simboliza melhor que nenhum outro as tensões entre a velha e a atual Nova York.

O conselho municipal deu na semana passada o sinal verde definitivo ao polêmico projeto, que terá um orçamento de US$1,5 bilhão.

A previsão é de que sejam construídos quase 2.300 apartamentos e várias salas comerciais em edifícios de até 55 andares com algumas das melhores vistas da cidade.

A construção mudará para sempre a imagem do bairro de Williamsburg, na margem oriental do rio que separa Manhattan e Brooklyn, apagando uma das últimas lembranças de seu passado industrial que será substituído por modernos arranha-céus de formas originais.

A refinaria de Domino Sugar, uma imponente construção de tijolo erguido em 1880, foi, em sua época, a de maior tamanho no mundo todo e chegou a produzir mais da metade do açúcar consumido nos Estados Unidos.

O declive chegou na segunda metade do século XX e, em 2004, foi fechada definitivamente, justo em uma época em que começava a se acelerar a vertiginosa transformação de Williamsburg de bairro operário a local da moda.

Hoje, o esplendor da Domino Sugar não passa de um icônico letreiro amarelo.

O local, provavelmente o mais interessante das ruínas industriais de Nova York, se transformou em um imã para os fotógrafos e, em parte, em um símbolo da resistência dos moradores às mudanças sociais e urbanísticas que afetam à cidade.

Se há uma palavra da moda em Nova York essa é a "gentrificação" ("gentrification", em inglês), o processo pelo qual a população original de muitas regiões se vê progressivamente afetada por outra de maior poder aquisitivo.

E se há um distrito onde o fenômeno está hoje em voga esse é o Brooklyn, com Williamsburg encabeçando.


A região passou em poucos anos de uma área dedicada principalmente à pequena indústria para se transformar na primeira Meca da cultura alternativa da cidade e, progressivamente, no lugar mais desejado para jovens e não tão jovens endinheirados.

Como ocorreu antes em bairros de Manhattan, os velhos armazéns se transformaram em "lofts" para artistas e, depois, muitos deles foram derrubados para dar lugar a reluzentes edifícios de concreto e vidro.

No caso da Domino Sugar, os defensores do projeto veem uma oportunidade para modernizar uma desejável região da cidade, atualmente, coberta de lixo e arames.

A transformação de um grande símbolo do passado industrial da "Big Apple" em apartamentos de luxo, no entanto, provocou uma pequena revolução na cidade.

Grupos de moradores iniciaram a campanha "Save Domino" para reivindicar a conservação da antiga fábrica e propor usos alternativos, enquanto outros centraram a batalha em garantir que o novo desenvolvimento incluísse também casas populares.

Em uma cidade como Nova York, onde a média de preço de um apartamento disparou para mais de US$3 mil mensais, a questão tem sua importância.

É nisso que acredita o novo prefeito da cidade, o democrata Bill de Blasio, que transformou a ideia em uma de suas prioridades.

Nos últimos meses, Blasio negociou com os donos dos terrenos da Domino Sugar um aumento no número de casas populares no novo projeto.

A proposta ganhou rapidamente o apoio de muitos moradores e autoridades municipais, pois além de conservar a parte central da refinaria, com uma reforma para uso comercial, aumentava as áreas verdes e melhorava a integração com o resto do bairro.

Finalmente, 700 das 2.282 casas estarão reservadas para famílias de rendas baixa e média e os modernos desenhos do estudo de arquitetos SHoP - responsável por outros grandes projetos no Brooklyn como o Barclays Center - começarão a se tornar realidade no final de ano.

Uma decrépita, mas ainda orgulhosa fábrica dará seu lugar a novas torres de apartamentos de luxo, em um sinal implacável dos tempos. Enquanto isso, o sempre veemente debate entre a Nova York que foi e a que é e será continuará animando a vida na cidade.

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