Israel propõe plano para estender trégua em Gaza após 1ª fase; Hamas exige que acordo seja cumprido
Proposta foi feita pelo enviado norte-americano, mas o grupo islamista Hamas quer o início da segunda fase do acordo
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Agência de notícias
Publicado em 2 de março de 2025 às 11h35.
Israel aprovou neste domingo uma proposta para estender, temporariamente, a atual trégua na Faixa de Gaza, após a conclusão da primeira fase do cessar-fogo com o Hamas sem um acordo para avançar para a segunda etapa.
A proposta, feita pelo enviado norte-americano Steve Witkoff, abrangeria o feriado muçulmano do Ramadã, que termina no fim de março, e a Páscoa judaica, que ocorre em meados de abril, informou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em comunicado.
A primeira fase da trégua entrou em vigor em 19 de janeiro, após mais de 15 meses de um conflito desencadeado pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra o sul de Israel, o mais mortal da história do país.
Durante essas semanas, o grupo islamista libertou 25 reféns e devolveu os corpos de outros oito a Israel, em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses.
A segunda fase desse cessar-fogo deveria começar neste domingo, com o objetivo de finalizar a libertação dos reféns em Gaza e pôr fim definitivamente à guerra, mas as negociações para seu início ainda não foram concluídas.
Essa próxima etapa do acordo deveria levar ao fim permanente do conflito em Gaza.
Segundo o comunicado israelense, a extensão da trégua permitiria a libertação da metade dos reféns que permanecem em Gaza um dia após sua entrada em vigor, e os demais seriam libertados quando um acordo para um cessar-fogo permanente fosse alcançado.
O movimento islamista palestino Hamas inicialmente não se pronunciou, embora seu porta-voz, Hazem Qasem, tenha declarado anteriormente que o grupo rejeitava "a ampliação da primeira fase na formulação proposta pela ocupação (Israel)".
Qasem pediu aos mediadores que "obrigassem a ocupação a cumprir o acordo em suas diferentes fases".
Segundo Max Rodenbeck, analista do centro de estudos International Crisis Group, "o cessar-fogo provavelmente não entrará em colapso", apesar de a segunda fase do acordo não ter sido iniciada.
O braço armado do Hamas divulgou imagens que pareciam mostrar um grupo de reféns israelenses em Gaza, acompanhadas da mensagem: "Apenas um acordo de cessar-fogo os devolverá com vida". A AFP não pôde verificar imediatamente o vídeo.
Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque do Hamas, 58 continuam em Gaza. O Exército israelense considera que 34 delas estejam mortas.
O cenário preferido por Israel é garantir o retorno de mais reféns por meio da extensão da primeira fase, disse o ministro da Defesa israelense, Israel Katz.
Uma fonte palestina próxima às negociações declarou à AFP que Israel propôs ampliar a primeira fase em sucessivos intervalos semanais, visando realizar trocas de reféns por prisioneiros palestinos a cada semana, mas o Hamas rejeitou o plano.
A política interna de Israel também influencia a relutância de Netanyahu em iniciar a segunda fase prevista no acordo de trégua.
O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder da ala de extrema-direita de sua coalizão de governo, ameaçou renunciar caso a guerra não seja retomada após o fim da primeira fase.
"O governo israelense pode cair se entrarmos na segunda fase", explicou Michael Horowitz, chefe de inteligência da consultoria de gestão de riscos Le Beck.
Por sua vez, o Hamas pressiona fortemente pelo início da segunda etapa, após as grandes perdas sofridas durante a devastadora guerra.
"Reafirmamos nossa disposição de completar as etapas restantes do acordo de trégua", declarou o grupo em uma mensagem direcionada à cúpula da Liga Árabe, que será realizada em 4 de março no Cairo.
"Rejeitamos categoricamente [...] a presença de qualquer força estrangeira no território da Faixa de Gaza", acrescentou.
Israel reiterou nos últimos dias que precisa manter tropas em Gaza, em uma área fronteiriça com o Egito, para impedir o contrabando de armas pelo Hamas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou no sábado que todos os esforços diplomáticos sejam feitos para evitar a retomada da guerra, "o que seria catastrófico".
A trégua permitiu a entrada de mais ajuda humanitária no território palestino, onde mais de 69% dos edifícios foram danificados ou destruídos, quase toda a população está deslocada e a fome ameaça, segundo as Nações Unidas.
A guerra começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro, que resultou na morte de 1.218 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A campanha militar de retaliação de Israel matou mais de 48.000 pessoas na Faixa de Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.