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Grupo Wagner e Rússia: tudo o que se sabe até agora sobre a rebelião contra Putin

O desentendimento entre o governo da Rússia e o grupo paramilitar ganhou grandes proporções depois que o líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, acusou o exército de bombardear suas bases

Grupo Wagner: líder convocou rebelião armada contra o governo russo (Arkady Budnitsky/Anadolu Agency/Getty Images)

Grupo Wagner: líder convocou rebelião armada contra o governo russo (Arkady Budnitsky/Anadolu Agency/Getty Images)

Publicado em 24 de junho de 2023 às 09h05.

Última atualização em 24 de junho de 2023 às 15h12.

O grupo paramilitar Wagner, que até então era aliado do Kremlin na guerra da Ucrânia, convocou uma rebelião armada para derrubar o governo Putin. 

O desentendimento entre o governo da Rússia e os mercenários ganhou grandes proporções depois que o líder do grupo, Yevgeny Prigojin, acusou o exército de bombardear suas bases próximas à linha de frente da guerra da Ucrânia.

Veja o que se sabe até agora sobre o conflito entre a Rússia e o grupo Wagner

Líder do Wagner pede para grupo recuar para evitar um derramamento de sangue

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo paramilitar Wagner, afirmou neste sábado, 24, que ordenou que seus homens, que se aproximavam de Moscou, voltassem para suas bases para evitar um possível derramamento de sangue na capital da Rússia. 

O gabinete do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse que costurou um acordo com os mercenários em troca de garantia de segurança dos rebeldes. A revolta da milícia russa é o grande desafio de Putin em mais de 23 anos no poder.

Grupo Wagner se aproxima de Moscou

O grupo paramilitar Wagner avançam em direção de Moscou nesta sábado, 24, após tomar Rostov-on-Don, no sul da Rússia, na noite de sexta-feira. O exército russo realiza ataques aéreos contra os mercenários, mas eles seguem a caminho do Kremlin, com objetivo final de derrubar o governo de Vladmir Putin.

Os combatentes do exército privado comandado pelo Yevgeny Prigozhin iniciaram uma corrida de 1.100 km até Moscou após tomarem a cidade de Rostov. Segundo a agência Reuters, transporte de tropas e um caminhão plataforma com um tanque passaram pela cidade de Voronezh, cerca de metade do caminho até a capital russa. Não houve relatos de que os rebeldes encontraram resistência na rodovia. 

Moscou reforça segurança de Moscou

O governo russo reforçou a segurança do Kremlin enquanto o grupo Wagner avança.  A Praça Vermelha foi fechada por policiais. A mídia russa mostrou fotos de pequenos grupos de policiais com metralhadoras na periferia sul de Moscou. As autoridades da região de Lipetsk, ao sul da capital, disseram aos moradores para ficarem em casa. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, pediu para que as pessoas evitem o máximo circular, uma vez que a cidade está com sob regime anti-terrorista.

O que é o Grupo Wagner?

Fundado em 2014, o Wagner é um grupo paramilitar privado de mercenários composto por ex-soldados, prisioneiros e civis russos e estrangeiros. O líder da equipe de elite é o oligarca Yevgeny Prigozhin, com forte ligação ao Kremlin. As primeira missões do grupo ocorreram em Donbass, no leste da Ucrânia, e na península da Crimeia, quando os mercenários ajudaram as forças separatistas a tomar a região.

Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para lutar em conflitos no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Com a guerra da Ucrânia, Putin utilizou os mercenários no conflito. Segundo estimativas, os paramilitares têm mais de 20 mil soldados na guerra da Ucrânia.

O líder, Yevgeny Prigozhin, afirmou que 25 mil soldados estão prontos para derrubar o ministro da defesa russo. 

Quem é Yevgeny Prigojin, ex-vendedor de cachorro quente e líder do grupo Wagner

Prigojin nasceu em São Petersburgo em 1961 e foi preso por cometer pequenos delitos na adolescência e foi condenado por quase 10 anos. Quando saiu da prisão, ele e sua mãe começaram a vender cachorro quente e depois abriram um restaurante, foi quando ele conheceu Vladimir Putin. Ele se tornou um oligarca rico após conseguir contratos lucrativos de refeições com o com o Kremlin, o ficou conhecido como o “chef de Putin”.

Ele virou um combatente de guerra ocorreu após os movimentos separatistas apoiados pela Rússia em 2014 no Donbass, no leste da Ucrânia. Prigojin fundou o grupo Wagner para ser um grupo paramilitar que lutaria em qualquer causa apoiada pela Rússia, em qualquer lugar do mundo.

Prigozhin ganhou influência política e se lançou em um confronto com autoridades políticas e militares que parece ter ido além da retórica.

Por que o grupo Wagner quer derrubar o governo russo

O líder da milícia Wagner acusou na sexta-feira, 23, o exército de Moscou de bombardear suas bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar. 

O exército negou as acusações, que chamou de "provocação", enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Yevgeny Prigozhin, por tentativa de motim.

A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.

Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o exército russo estava "se retirando" no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, que afirma que a contraofensiva de Kiev fracassa. "As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem", declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.

"Não há controle algum, não há vitórias militares" de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos "se banham em seu sangue", referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares. Putin e seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, afirmam, por sua vez, que o Exército está "repelindo" todos os ataques ucranianos.

Grupo Wagner afirma ter tomado cidade no sul da Rússia

O líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, gravou vídeos em que anunciava a tomada de controle das instalações militares de Rostov-on-Don, no Sul da Rússia, e exigiu uma reunião com o comando da Defesa do país, ameaçando marchar até Moscou caso as demandas não fossem atendidas. Nas imagens, divulgadas pela plataforma Telegram, Prigojin cobrava que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o chefe das Forças Armadas do país, Valery Gerasimov, fossem a Rostov encontrá-lo.

Rússia instala regime de operação antiterrorista

A Rússia instaurou, neste sábado, um "regime de operação antiterrorista" na região de Moscou, depois que o grupo paramilitar Wagner afirmou ter controlado os territórios militares da cidade de Rostov. O escritório do Wagner em São Petersburgo, por exemplo, foi alvo de buscas de forças militares neste sábado, de acordo com agências locais de notícias.

A medida reforça os poderes dos serviços de segurança e prevê a instalação de inspeções de documentos de identidade e de veículos nas vias. Também autoriza a suspensão temporária dos serviços de comunicação, caso seja necessária. Com isso, todos os eventos e acontecimentos marcados para este sábado em Moscou foram cancelados, anunciou o prefeito da capital russa, Serguéi Sobianin.

Putin promete punir o grupo Wagner por traição

O presidente russo, Vladimir Putin, disse neste sábado que o levante militar é uma "punhalada pelas costas" e acusou o líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, de "trair" o país por suas "ambições pessoais". Em pronunciamento na televisão, Putin prometeu punir quem trair as Forças Armadas, destacou que a rebelião é uma "ameaça mortal" para o Estado russo e clamou pela unidade do país, afirmando que não permitirá uma "guerra civil" no território nacional.

Putin assegurou que os rebeldes serão "inevitavelmente punidos". O presidente reconheceu que o cenário em Rostov-on-Don, cidade tomada pelo grupo paramilitar nesta madrugada, é "difícil" e reconheceu que o funcionamento dos "órgãos de administração civil e militar está de fato bloqueado" na cidade, onde fica o quartel-general militar da ofensiva na Ucrânia. No entanto, disse que o governo russo vai adotar medidas para estabilizar a situação.

Como a disputa entre Rússia e Wagner pode afetar a guerra na Ucrânia?

Este motim representa o mais grave desafio ao qual Putin teve que enfrentar em seu longo mandato, e a crise de segurança mais importante para a Rússia desde que chegou ao poder, ao final de 1999.

A situação poderia desviar a atenção e os recursos em plena ofensiva na Ucrânia, e coincide, ainda, com a contraofensiva anunciada por Kiev para recuperar territórios. O exército ucraniano informou que está "observando" a luta interna entre Prigozhin e Putin.

Moscou, no entanto, advertiu que o exército ucraniano estava aproveitando a situação para reunir suas tropas perto de Bakhmut frente a uma ofensiva.

No plano internacional, Estados Unidos, França, Alemanha e União Europeia informaram que acompanham a situação de perto.

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