Com acordo de J&J e Merck, EUA terá doses para todos os adultos até o fim de maio, diz Biden
O governo americano anunciou nesta terça-feira acordo entre a Merck americana e a Johnson & Johnson's para produção conjunta de vacinas. Não há informação sobre se o acordo pode se estender ao Brasil
Carolina Riveira
Publicado em 2 de março de 2021 às 19h55.
Última atualização em 3 de março de 2021 às 16h18.
Os Estados Unidos terão doses de vacina contra o coronavírus para toda a população adulta do país até o fim de maio. A nova projeção foi divulgada nesta terça-feira, 2, pelo presidente Joe Biden, em pronunciamento em que oficializou um acordo entre as americanas Merck e Johnson & Johnson's para aumentar a produção de vacinas.
Com o acordo, que foi costurado pela Casa Branca, a Merck americana (que fora de EUA e Canadá opera sob o nome de MSD) usará sua capacidade industrial nos Estados Unidos para envasar e fabricar o insumo para a vacina da J&J.A FDA, agência reguladora americana, aprovou a vacina da J&J neste fim de semana.
Somadas, Pfizer/BioNTech, Moderna e J&J devem entregar 220 milhões de doses até o fim de maio para os 260 milhões de adultos nos Estados Unidos.
Agora, com o novo acordo, a expectativa do governo americano é que o número seja ainda maior para chegar à promessa de ter doses para todos. Em pronunciamento anterior, Biden havia previsto ter doses para os adultos até o fim de julho, dois meses mais tarde.
"Como consequência do processo de aceleração que eu ordenei, e acabei de descrever, este país terá vacinas suficientes para atender a todos os adultos nos Estados Unidos até o fim de maio", disse Biden em pronunciamento nesta terça-feira. "Isso é um progresso. Um progresso importante."
A parceria entre J&J e Merck costurada pelo governo americano se baseia no Ato de Produção de Defesa, uma lei de 1950 usada para ampliar a produção de artigos de guerra em meio ao começo da Guerra da Coreia (1950-1953).
Mesmo após as doses entregues, a vacinação efetiva de todos ainda pode demorar, como reforçou o governo hoje. A vacinação nos Estados Unidos tem ocorrido a uma taxa de mais de 1,8 milhão de doses por dia nas últimas semanas, acima da meta inicial de 1,5 milhão estipulada pelo governo Biden. O avanço já tem feito o número de novos casos diminuir no país, assim como ocorreu em outros lugares de vacinação avançada, como Israel.
Após um começo de vacinação conturbado no ano passado, os Estados Unidos chegaram a 77 milhões de doses aplicadas até esta terça-feira (mais do que infectados pela covid-19). São 23 doses aplicadas a cada 100 habitantes, ante quatro doses a cada 100 habitantes no Brasil.
A vacina da Johnson & Johnson's era uma das mais aguardadas por precisar de somente uma dose, enquanto as demais vacinas aprovadas até agora precisam de duas. O imunizante também pode ser mais facilmente transportado, enquanto as vacinas de RNA precisam de temperatura muito baixa, o que dificulta a logística.
Para o acordo de produção, o governo americano vai fornecer à Merck 268,8 milhões de dólares para adaptar suas fábricas para produzir a vacina, segundo comunicado desta terça-feira.
A Merck — que apesar de ser uma das principais fabricantes de vacinas do mundo, não tem uma vacina própria contra a covid-19 — já havia cogitado acordos nos Estados Unidos com outras fabricantes, como Pfizer e Moderna; mas o modelo com base no RNA mensageiro dessas duas vacinas dificulta a transferência de tecnologia.
Já a vacina da J&J usa métodos mais tradicionais, baseada no adenovírus — assim como a vacina de Oxford/AstraZeneca e a Sputnik V.
A chegada da vacina da J&J é uma das maiores vitórias do governo americano no esforço de imunização. Só os Estados Unidos compraram, sozinhos, mais de 100 milhões de doses. Ao todo, pelo menos 88 países já compraram mais de meio bilhão de doses da vacina da J&J até agora. O Brasil, por enquanto, não tem acordo com a farmacêutica.
Os Estados Unidos têm pouco mais de 330 milhões de habitantes e reservou mais de 1 bilhão de doses de diversas farmacêuticas, muitas com a vacina ainda em desenvolvimento. O país por enquanto usa as vacinas de Pfizer e Moderna, ambas americanas.
Nesta terça-feira, as primeiras pessoas foram vacinadas com a vacina da J&J nos EUA.
Apesar do começo da vacinação, a J&J ainda tem cronograma de fabricação incerto. As primeiras doses usadas nos Estados Unidos vieram da fábrica da empresa na Holanda e apenas envasadas em Michigan. Uma nova planta em Baltimore para a produção das vacinas também está sendo finalizada.
A J&J recebeu 1 bilhão de dólares do governo americano para a pesquisa da vacina no ano passado. Em troca, prometeu entregar 37 milhões de doses até o fim de março e 100 milhões até o fim de junho. No entanto, a companhia disse que só 20 milhões serão entregues neste mês, a maioria nas últimas semanas de março.
Com base no acordo, a Merck deve dedicar duas plantas nos Estados Unidos para fazer as doses da Johnson & Johnson's. Uma delas envasará a substância, enquanto a segunda efetivamente fabricará os insumos para a vacina. A principal expectativa está nessa segunda frente, com a esperança de que a participação da Merck aumente sobremaneira a oferta da vacina nos Estados Unidos e no mundo.
Apesar da expectativa sobre o acordo, pode demorar até alguns meses para que a fábrica da Merck fique adaptada para a produção e a distribuição das vacinas.
Ainda não há manifestações sobre se a parceria entre as duas empresas pode envolver produção fora dos Estados Unidos. Procurada pela EXAME, a assessoria de imprensa da Merck no Brasil — que opera fora de EUA e Canadá com o nome de MSD — afirmou que ainda não há informações sobre o tema.
No Brasil, a MSD atua na produção de vacinas como a do HPV e da Hepatite A, feitas no Instituto Butantan após acordos de transferência de tecnologia. A empresa não fabrica as vacinas com infraestrutura própria no país. Assim, para eventuais acordos, seria necessária uma parceria com alguma fabricante nacional.
A Merck americana ou MSD é uma das principais fabricantes de vacinas do mundo, após se separar da empresa alemã de mesmo nome. Já a Merck alemã opera sob o nome EMD nos Estados Unidos e no Canadá, e como Merck no Brasil e em outros países. A companhia alemã não está envolvida no acordo.