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Em reunião de emergência em Paris, líderes europeus dizem que Ucrânia não pode aceitar 'paz ditada'

Pressionados por aproximação entre Trump e Putin, países do continente evitam pregar afastamento de Washington, mas parecem coesos sobre o aumento de gastos militares

Presidente da França, Emmanuel Macron, após encontro de emergência de líderes europeus em Paris  (AFP)

Presidente da França, Emmanuel Macron, após encontro de emergência de líderes europeus em Paris (AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 19h23.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2025 às 19h25.

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Na véspera de uma reunião entre representantes dos EUA e da Rússia para discutir a guerra na Ucrânia, líderes europeus se reuniram de forma emergencial em Paris para declarar que qualquer proposta sobre o conflito precisa contar com o aval dos ucranianos. Eles ainda buscaram formas de reiterar seu apoio a Kiev, mesmo com divergências sobre gastos militares e o potencial envio de tropas para uma força de manutenção de paz.

Sem convite para a reunião marcada entre americanos e russos na Arábia Saudita, os líderes, convocados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, afirmaram que não existe a possibilidade de um acordo de paz que não conte com a participação de Kiev. O chanceler alemão, Olaf Scholz, rejeitou uma "paz ditada" por Washington e Moscou.

“Continuaremos a apoiar a Ucrânia, a Ucrânia pode continuar a confiar em nós”, disse Scholz na saída do encontro. “[A Ucrânia] não aceitará tudo o que lhe for apresentado sob quaisquer condições.”

Trump, Putin e a preocupação europeia

A proximidade entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, que conversaram por uma hora e meia na semana passada, tem preocupado Kiev e os membros europeus da Otan, a principal aliança militar ocidental. Representantes do governo americano, como o secretário de Defesa, Pete Hegseth, sinalizam que as terras ocupadas pelos russos podem não ser devolvidas e que a entrada da Ucrânia na aliança não é viável. Os ucranianos também ficaram de fora da reunião em Riad.

Trump afirmou no domingo não acreditar em um conflito entre a Rússia e a Otan, enquanto seu vice, J.D. Vance, declarou a uma plateia incrédula na Conferência de Segurança de Munique que a maior ameaça à Europa não é Moscou, mas sim o "afastamento dos valores democráticos".

A chegada de Trump à Casa Branca não impacta apenas o futuro da guerra, mas também questiona os bilionários pacotes de defesa e exige uma compensação econômica, citando as riquezas minerais da Ucrânia. Desde a eleição do republicano, os líderes europeus tratam como quase consensual a necessidade de assumir um maior papel em sua própria segurança.

“Todos os participantes desta reunião percebem que o relacionamento transatlântico, a Aliança do Atlântico Norte e nossa amizade com os Estados Unidos entraram em uma nova fase. Todos nós vemos isso”, disse o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, sem pregar um rompimento com Washington.

Europa amplia gastos militares

Nos últimos anos, a Polônia elevou seus gastos com defesa para 4,7% do PIB, bem acima da meta de 2% estabelecida pela Otan, pressionando países mais ricos, como Alemanha e França, a investirem mais na segurança coletiva da região. Até mesmo líderes de países onde o aumento de despesas militares é impopular, como a Alemanha, não descartam um incremento no orçamento no futuro próximo.

Outro tema debatido em Paris foi o pedido da Ucrânia por "garantias de segurança", condição que o presidente Volodymyr Zelensky considera essencial para iniciar um diálogo direto com Putin. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que seu governo pode ajudar a fornecer condições de segurança, mas cobrou um papel dos EUA nesse processo.

Em um artigo publicado no jornal The Daily Telegraph, Starmer sugeriu o envio de tropas britânicas para integrar uma força de manutenção de paz na Ucrânia, e prometeu discutir o tema com Trump. “Temos que reconhecer a nova era em que estamos e assumir a responsabilidade por nossa segurança”, afirmou em entrevista coletiva.

Compromissos do Leste Europeu

Embora Starmer tenha sugerido o envio de tropas como demonstração do compromisso com a defesa da Europa, a ideia não tem muitos adeptos. Olaf Scholz e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, consideram cedo para discutir o tema, enquanto a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que há “muitas questões mais urgentes” a serem resolvidas.

“A Rússia está ameaçando toda a Europa agora, infelizmente”, disse Frederiksen, ressaltando que não há sinais de que Moscou queira paz. “[Grifar] O mais importante agora é garantir que os ucranianos obtenham tudo o que precisam para não perderem esta guerra.”

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, reforçou que não planeja enviar forças polonesas à Ucrânia e cobrou mais investimentos para os países do Leste Europeu.

“A Polônia e os países do flanco oriental estão na linha de frente, fazendo fronteira com Rússia, Bielorrússia e a Ucrânia devastada pela guerra. Se a União Europeia não consegue se defender, por que deveria dar garantias aos outros?” questionou Tusk.

Em suas redes sociais, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que os líderes reunidos em Paris reafirmaram que a Ucrânia merece paz “por meio da força” e que a Europa precisa reforçar sua defesa.

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