Mundo

Eleição em Taiwan: maior medo não é de invasão, diz pesquisador que esteve lá

Mauricio Moura comenta que taiwaneses temem mais um estrangulamento naval do que uma invasão armada neste momento

Apoiadores do partido DPP durante comício em Tainan, na sexta, 12 (Yasuyoshi Shiba/AFP)

Apoiadores do partido DPP durante comício em Tainan, na sexta, 12 (Yasuyoshi Shiba/AFP)

Publicado em 12 de janeiro de 2024 às 14h43.

Última atualização em 12 de janeiro de 2024 às 16h39.

Neste sábado, 13, os cidadãos de Taiwan votam para escolher um novo presidente e um novo Parlamento, em um pleito que chama a atenção do mundo pelo risco de aumentar as chances de um confronto militar entre a China continental e Taiwan, o que levaria à um embate direto entre Estados Unidos, que apoiam Taiwan, e o governo chinês.

Para o professor Mauricio Moura, no entanto, a maior preocupação imediata não é o risco de invasão, mas de bloqueio naval. “Isto pode estimular mais exercícios militares. Imaginava-se que o pior cenário seria invasão, mas não é.  A consequência maior seria o que chamam de estrangulamento marítimo, com barreiras da China de acesso à ilha pelo mar", disse, durante entrevista ao vivo para a EXAME.

Moura, que é sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, e professor da Universidade George Washington, esteve em Taiwan nos últimos dias. Três candidatos disputam a Presidência na votação, de turno único. São eles o vice-presidente, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP); que lidera as pesquisas, o ex-policial Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT); e o líder do pequeno Partido Popular de Taiwan (PPT), Ko Wen-je.

"Quando estive em Taiwan recebi no celular um alerta de exercício militar da China, mas notei que a população da ilha é acostumada com essas ações de Pequim. Se o DPP vencer na Presidência e o KMT no congresso, dificilmente os chineses vão querer estabelecer relações com Taiwan. Mas, se o KMT vencer, o diálogo com a China comunista será maior. Diálogo que não existe por parte do governo atual".

“Na opinião pública de Taiwan, há a percepção de que não haverá uma invasão, independente do cenário. O atual vice-presidente é de uma ala do partido que tem um viés mais separatista, que defende a independência de Taiwan. Mas ele amenizou o discurso sobre esse assunto”, prossegue.

yt thumbnail

Antes de votarem para presidente, a população pode escolhe os membros para o Congresso, em um sistema de voto distrital misto. "Três quartos das vagas são para o distrital e um quarto para o partido. Há uma possibilidade grande de ter um candidato do DPP eleito, mas sem a maioria no Congresso. Se houver um cenário de divisão entre o presidente e o Congresso, não serão possíveis grandes avanços na situação com a China, pois o Legislativo tem muita força nesse caso", explica.

Moura vê também um aumento da preocupação dos taiwaneses com questões domésticas na reta final da campanha. “Os indecisos, que estão na casa dos cinco pontos percentuais, estão mais ligados ao dia-a-dia de Taiwan, como a inflação que subiu com a pandemia, o que representa um grande problema ao DPP. Além da questão da empregabilidade, diante do envelhecimento da população. Essas questões cotidianas serão decisivas, tanto que na reta final da campanha, tanto o KMT, quanto o DPP desviaram a atenção sobre a China e passaram a olhar mais para a inflação, educação e empregabilidade", disse.

"O argumento é que se ganhar o DPP, a China pode aumentar a pressão sobre os exercícios militares e fazer barreiras comerciais. A comunidade empresarial de Taiwan é super dividida. Quem é do setor de tecnologia é pro-governo, já o setor automotivo, têxtil e farmacêutico faz muito comércio com a China e, por isso, torce pelo KMT", afirma. 

Acompanhe tudo sobre:TaiwanChinaEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia