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Divisão em grupo islamita abre espaço para negociar no Mali

O Movimento Islâmico do Azawad, uma cisão do grupo islamita armado Ansar Dine, anunciou querer "avançar em direção a uma solução pacífica" no Mali


	Soldados franceses no Mali: esta divisão ocorre cerca de duas semanas após o início, no dia 11 de janeiro, da intervenção militar francesa no país
 (Eric Feferberg/AFP)

Soldados franceses no Mali: esta divisão ocorre cerca de duas semanas após o início, no dia 11 de janeiro, da intervenção militar francesa no país (Eric Feferberg/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2013 às 12h07.

Bamako - Um dos três grupos islamitas que ocupam o norte do Mali, o Ansar Dine (Defensores do Islã), se dividiu em dois, e uma das partes anunciou que quer "avançar em direção a uma solução pacífica", no 14º dia de intervenção militar francesa no país.

Este anúncio ocorre no momento em que organizações de defesa dos direitos humanos exigem a abertura de uma investigação sobre as acusações de abusos, inclusive execuções sumárias, pelas tropas malinenses no centro do país contra as comunidades árabe e tuaregue, que compõem os grupos islamitas armados.

Esses grupos, que controlam há mais de nove meses o norte do Mali, têm sido alvos de bombardeios da aviação francesa e pela primeira vez nesta quinta-feira demonstraram suas divisões.

O novo grupo se apresenta como o Movimento Islâmico do Azawad (MIA). O Azawad é o nome dado pelos tuaregues ao norte do Mali.

"O MIA afirma da maneira mais solene que se desvincula totalmente de qualquer grupo terrorista, condena e rejeita qualquer forma de extremismo e de terrorismo e se compromete a combatê-los", afirma o grupo em um comunicado recebido pela AFP.

"Composto exclusivamente de nacionais (malinenses), o MIA reafirma sua independência e sua vontade de avançar em direção a uma solução pacífica" para a crise no Mali, acrescenta o comunicado. O grupo diz ocupar a região de Kidal, mais de 1.500 km ao noroeste de Bamaco, perto da fronteira nigeriana.

Os tuaregues lutam há anos por independência.


O MIA "faz um chamado às autoridades malinenses e à França para um fim das hostilidades" e para dar início a um "diálogo político inclusivo", após o início, no dia 11 de janeiro, da intervenção militar francesa no Mali para ajudar o exército malinense a reconquistar o norte do país, dominado desde 2012 por grupos islamitas ligados à Al-Qaeda, entre eles o Ansar Dine, onde cometeram diversos abusos em nome da sharia (lei islâmica).

O secretário-geral da MIA é Alghabasse Ag Intalla, procedente de uma das grandes famílias tuaregues da região de Kidal, que dirigiu a delegação de Ansar Dine nas negociações realizadas no fim de 2012 em Ouagadougou sob a mediação de Burkina Faso sobre a crise do Mali.

Ag Intalla afirma ser da "ala moderada" do Ansar Dine, grupo liderado por um ex-rebelde tuaregue, Iyad Ag Ghaly.

Há meses, mediadores da África Ocidental e argelinos tentam dissociar o Ansar Dine dos outros dois grupos islamitas armados presentes no norte do Mali, em grande parte formados por estrangeiros: a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (Aqmi) e o Movimento para a União e a Jihad na África Ocidental (Mujao).

No terreno, os três grupos são alvos de ataques aéreos principalmente em Gao e Timbuctu. Soldados franceses e malinenses retomaram nos últimos dias o controle da cidade de Diabali (oeste), Konna e Duentza (centro) das mãos dos grupos islamitas armados.

Mas as acusações de abusos cometidos por soldados malinenses se multiplicam. Segundo a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), que acusa os soldados do Exército malinense de terem praticado "uma série de execuções sumárias", ao menos 11 pessoas foram executadas em Sevare (650 km a nordeste de Bamaco).


A ONG Human Rights Watch (HRW), que pediu o envio de observadores da ONU, indicou que está investigando "denúncias de graves abusos envolvendo membros do Exército malinense".

O ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, pediu na quarta-feira que o comando militar malinense mantenha uma "vigilância extrema" diante dos riscos de abusos, já que sua "honra está em jogo".

"O Exército deve ser irrepreensível e não vamos tolerar atos que condenamos dos terroristas", indicou na noite de quarta-feira o Governo malinense em um comunicado.

Mais de 2.300 soldados franceses já estão mobilizados no Mali, número que vai aumentar, principalmente depois que Paris obteve na segunda-feira a ajuda dos Estados Unidos no transporte de tropas e material da França para a África Ocidental.

Enquanto isso, as primeiras unidades da Missão Internacional de Apoio ao Mali (MISMA) começaram a se deslocar em direção ao centro do país.

Em Washington, a secretária de Estado americana Hillary Clinton pediu um reforço da ajuda americana na luta contra os grupos islamitas no Mali, comparando a ameaça da Aqmi à de Bin Laden e aos atentados de 11 de Setembro de 2001.

"As pessoas me dizem o tempo todo que a Aqmi não atacou os Estados Unidos. Sim, mas antes de 11 de setembro, não tínhamos sido atacados em nosso território desde, acredito, a guerra de 1812 e Pearl Harbor", explicou em uma audiência no Senado.

*Matéria atualizada às 13h06

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