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Deportados pelos EUA esperam repatriação em abrigo em selva no Panamá: 'tem jaulas com grades'

Governo negou acesso a jornalistas e organizações de ajuda humanitária; doenças como a dengue são endêmicas na região

Imigrantes deportados enfrentam condições precárias em abrigo na selva de Darién, Panamá (ARNULFO FRANCO/AFP/Getty Images)

Imigrantes deportados enfrentam condições precárias em abrigo na selva de Darién, Panamá (ARNULFO FRANCO/AFP/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 15h08.

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Cerca de 100 imigrantes deportados pelos Estados Unidos para o Panamá, em sua maioria asiáticos, foram instalados na quarta-feira em um abrigo na inóspita selva de Darién, onde terão de esperar até serem repatriados — sem um prazo definido para que isso aconteça. As condições do local são precárias, segundo relataram os detidos ao The New York Times. Doenças, incluindo a dengue, são endêmicas na região, e o governo panamenho negou acesso a jornalistas e organizações humanitárias.

“Parece um zoológico; há jaulas com grades”, disse o migrante iraniano Artemis Ghasemzadeh, de 27 anos, após chegar ao acampamento depois de uma viagem de quatro horas da Cidade do Panamá. “Eles nos deram um pedaço de pão velho. Estamos sentados no chão.”

O grupo inclui oito crianças, segundo uma pessoa com conhecimento da situação, que pediu anonimato. Advogados argumentam que é ilegal deter pessoas no Panamá por mais de 24 horas sem uma ordem judicial.

O vice-ministro das Relações Exteriores do Panamá, Carlos Ruiz-Hernández, confirmou que 97 pessoas foram transferidas para o local.

“Eles não são detentos”, afirmou. “É um campo de migrantes onde eles serão atendidos, não um campo de detenção.”

Ruiz-Hernández negou a existência de jaulas e afirmou que o campo é a melhor opção disponível para abrigar os imigrantes. Segundo ele, são oferecidos comida, água e atendimento médico.

Em entrevista ao programa de notícias Panamá En Directo, o ministro da Segurança do Panamá, Frank Ábrego, afirmou que os migrantes estão sendo mantidos no local “para sua própria proteção” e porque as autoridades precisam verificar suas identidades.

Pressão dos EUA e estratégia de deportação

A transferência faz parte de uma política do governo Donald Trump para deportar imigrantes sem permissão legal nos Estados Unidos. O Panamá concordou em receber 299 migrantes deportados, colaborando com a administração americana.

Os EUA enfrentam dificuldades para deportar pessoas para países como Afeganistão, Irã e China, mas, por meio de pressão diplomática, persuadiram o Panamá a aceitá-las.

Antes da transferência para a selva de Darién, os imigrantes ficaram em um hotel na Cidade do Panamá, sem permissão para sair, apesar de o governo alegar que eles não estavam privados de liberdade. A advogada Jenny Soto Fernández, que tentava representar vários deles, foi impedida de visitá-los ao menos quatro vezes, segundo relatou ao New York Times.

Migrantes relatam medo e tentam pedir ajuda

Em um comunicado, o Ministério da Segurança informou que 97 migrantes foram levados para o abrigo San Vicente, em Darién. O local fica 230 km a leste da capital, e a viagem até lá dura mais de cinco horas.

Dos 299 migrantes deportados recentemente pelos EUA, 175 continuam no hotel Decapolis, aguardando uma possível repatriação voluntária.

Até o momento, 41 passagens aéreas já foram compradas para deportados:

  • 9 para a Turquia
  • 17 para a Índia
  • 8 para a China
  • 5 para a Geórgia
  • 1 para o Nepal
  • 1 para Kosovo

Nas janelas do hotel Decapolis, alguns migrantes penduraram cartazes escritos à mão com frases como “Por favor, nos ajude” e “Não estamos seguros em nosso país”.

O hotel é vigiado pela polícia e não está recebendo turistas, segundo um funcionário informou à AFP.

Uma migrante chinesa, Zheng Lijuan, tentou fugir, mas foi capturada no território da Costa Rica e devolvida ao Panamá.

Migrantes relataram que foram despojados de seus passaportes e da maioria de seus telefones no hotel em que estavam detidos.

Panamá enfrenta dilema diplomático

O ministro da Segurança, Frank Ábrego, convocou uma coletiva de imprensa após a repercussão do caso. Segundo o New York Times, pelo menos uma pessoa tentou cometer suicídio no hotel.

Os migrantes disseram que inicialmente foram informados de que seriam levados a outro hotel, mas, na realidade, foram transportados para o interior do Panamá. Dois migrantes conseguiram compartilhar sua localização em tempo real com jornalistas do Times, permitindo que o jornal rastreasse a movimentação do grupo.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estão encarregados de ajudar na repatriação ou realocação desses migrantes em outros países.

Durante uma visita à América Latina, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, conseguiu acordos com Panamá e Guatemala para servirem como destinos intermediários para migrantes deportados pelos EUA. Na segunda-feira, a Costa Rica também aderiu ao plano.

O Panamá aceitou colaborar com os EUA após ameaças de Trump de que "tomaria de volta" o Canal do Panamá caso o país não reduzisse sua "influência" chinesa.

Até o momento, apenas o Panamá recebeu migrantes deportados como parte da nova política dos EUA. No entanto, 200 migrantes chegarão à Costa Rica nesta quinta-feira, incluindo 50 crianças, segundo o presidente costarriquenho, Rodrigo Chaves.

(Com AFP e The New York Times)

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