Donald Trump e Joe Biden: o democrata é o preferido entre os apostadores (Morry Gash/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 14h38.
Última atualização em 1 de outubro de 2020 às 06h02.
As chances do candidato democrata Joe Biden subiram alguns pontos percentuais nas casas de aposta nesta quarta-feira, 30, nas primeiras horas após o debate presidencial nos Estados Unidos. Biden e o presidente Donald Trump se enfrentaram na noite de ontem no primeiro debate da campanha.
O embate entre os dois candidatos foi agressivo e marcado por interrupções, com ambos atropelando o mediador Chris Wallace, da Fox News, e pouca articulação e propostas de ideias.
Apesar das críticas de analistas americanos ao baixo nível do debate, na média das casas de aposta, Biden foi de 54% de apostadores colocando dinheiro em sua vitória para 59% nas primeiras horas desta quarta-feira, após o debate. No Betfair, um dos maiores sites do tipo no mundo, Biden chegou a 63% das apostas hoje.
No fim de agosto, Trump cresceu entre os apostadores e chegou a empatar com Biden, mas o democrata voltou a ter liderança maior nas semanas seguintes.
A média das apostas é compilada pelo site Real Clear Politics, que também analisa médias das pesquisas eleitorais e outras estatísticas. O resultado leva em conta os lances em sites de apostas como Betfair, Betsson e Bwin — a modalidade de apostas em resultados políticos, proibida no Brasil, é autorizada nos Estados Unidos e em alguns outros países.
As pesquisas com eleitores também mostram que Biden saiu relativamente vitorioso, embora o debate não tenha tido um ganhador claro. Sondagem da CBS mostrou que 48% dos espectadores que assistiram ao debate consideraram Biden vencedor. Outros 41% disseram que Trump venceu e 10% avaliaram que deu empate.
Os Estados Unidos só têm pouco mais de 10% de eleitores indecisos a ser conquistados, com a eleição sendo uma das mais polarizadas dos últimos anos. Há pouca gente disposta a mudar de ideia mesmo nos estados decisivos, os chamados swing states, que não são tradicionalmente nem republicanos nem democratas, e têm mais votos em aberto.
Biden lidera em alguns desses estados decisivos, que deram vitória a Trump em 2016, mas com margem apertada ou empate técnico na maioria deles.
"No agregado, achei que o debate não contribuiu tanto para nenhum dos lados. Mas um empate técnico favorece quem está na liderança", ressaltou o economista Arthur Mota, da EXAME Research, casa de análise de investimentos da EXAME, ao comentar sobre o debate no programa Questão Macro desta quarta-feira (assista ao programa no fim da reportagem).
Para Mota, a liderança de Biden não só nas pesquisas, mas nas casas de aposta, por ser o local onde as pessoas colocam dinheiro, é um indicativo importante a ser acompanhado.
Com a disputa acirrada e muitos votos pelos correios, que demoram mais a ser contabilizados, os Estados Unidos podem passar dias depois de 3 de novembro sem saber o vencedor. A demora abre espaço para que Trump alegue que há fraude, sobretudo nos votos pelos correios, modalidade em que Biden lidera.
A perspectiva de uma crise política e até o envolvimento da Suprema Corte após a eleição deve seguir sendo observada pelos mercados.
O debate de ontem também impactou as bolsas nas primeiras horas do dia, com os índices futuros dos Estados Unidos começando a cair ainda durante o programa. No começo do pregão desta quarta-feira, contudo, as bolsas americanas se recuperaram e sobem mais de 1% devido à expectativa por estímulos — o pregão de hoje é o último de setembro, mês em que os índices mundo aforam devem fechar em queda acumulada.
As bolsas europeias também abriram em queda nesta madrugada, nas horas seguidas ao debate, e seguem em baixa. O índice europeu Stoxx 600 caía na casa dos 0,10% às 14 horas de hoje.
O VIX, chamado "índice do medo" que reflete a instabilidade dos mercados globais, abriu na casa dos 25 pontos hoje, embora com resultado similar ao dos dias anteriores mesmo com o debate.
A perspectiva de uma vitória de Biden também é negativa para parte do mercado financeiro, e as pesquisas mostrando que o democrata pode ter saído como vitorioso também impactaram. Outra preocupação são as declarações de Trump sobre não repassar o poder de forma democrática caso o rival vença. “Durante o debate, o [índice americano] S&P 500 futuro até subiu, mas, quando veio o resultado das pesquisas, ele caiu de vez. O mercado não é pró-Biden”, afirmou à EXAME Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
(Com Guilherme Guilherme)