Desafios políticos para Emmanuel Macron após a queda do governo Barnier (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 18h37.
A queda do governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, derrotado em um voto de não confiança na Assembleia Nacional, reduziu a margem de ação do presidente Emmanuel Macron. A derrota de Barnier ocorreu após menos de 100 dias no cargo e gerou novos pedidos para que o presidente deixe o cargo, que se tornam cada vez mais estridentes. Embora a saída de Barnier não signifique necessariamente a queda de Macron, o líder francês agora tem pela frente uma série de opções difíceis para garantir governabilidade até o fim de seu mandato, em 2027.
Em setembro, Macron escolheu o conservador Michel Barnier como primeiro-ministro em um movimento voltado para a estabilidade política, dois meses após as eleições legislativas que resultaram em uma Assembleia Nacional sem maiorias claras, dividida entre os blocos de esquerda, centro-direita e extrema-direita. A decisão foi uma tentativa de evitar a vitória da ultradireita francesa nas eleições para o Parlamento Europeu, mas Macron não pode convocar novas eleições legislativas até julho de 2025, o que limita suas opções.
Em meio à crise política, várias alternativas surgem para o presidente. Uma delas seria nomear Barnier novamente, uma prática que remonta a 1962, quando o presidente Charles de Gaulle nomeou George Pompidou novamente após uma derrota em moção de censura. No entanto, Barnier descartou essa possibilidade, dizendo em entrevista: "Quero servir. Mas que sentido tem uma nova nomeação como primeiro-ministro?"
Caso Barnier não retorne ao cargo, os nomes que circulam para substituir o ex-negociador do Brexit incluem o atual ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, e o aliado centrista de Macron, François Bayrou.
A principal questão que se coloca agora é se Macron conseguirá manter o apoio da direita. Em setembro, a nomeação de Barnier foi possível porque seu partido, Os Republicanos (LR), decidiu deixar a oposição e apoiar a aliança de Macron. No entanto, o líder do LR, Laurent Wauquiez, já declarou que o compromisso de apoio era válido apenas para Barnier, o que indica que a aliança com a direita pode ser difícil de manter. O desafio para Macron é garantir uma coalizão que permita a governabilidade até o fim de seu mandato, sem sacrificar sua imagem e sem parecer responsável pela crise atual.
Diante da situação, alguns membros de sua coalizão, como o ex-ministro Gabriel Attal, propuseram um "acordo de não censura" com a direita, mas também com o Partido Socialista, que faz parte da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP). Esse governo poderia incluir ministros de centro-direita, evitando a dependência do Reagrupamento Nacional (RN), de extrema-direita, liderado por Marine Le Pen.
Por outro lado, há aqueles que defendem uma aproximação com a esquerda, incluindo a NFP. Alguns socialistas apoiam um pacto "sem censura" com outros partidos, exceto a extrema-direita, mas com um governo de esquerda. No entanto, essa proposta entra em conflito com a posição do partido de esquerda A França Insubmissa (LFI), que defende a implementação do seu programa sem concessões. Além disso, os socialistas rejeitaram a possibilidade de um governo liderado pelo ex-primeiro-ministro Bernard Cazeneuve.
Outra alternativa seria a nomeação de um governo tecnocrático, uma medida que já foi usada na Itália para superar crises políticas. Esse governo, focado na administração cotidiana e cobrança de impostos, poderia enfrentar desafios no Parlamento, especialmente na votação do orçamento de 2025, o que poderia levar à eventual queda de Barnier. No entanto, a opção por um governo tecnocrático é rejeitada por alguns membros da aliança de Macron, que argumentam que, por trás da técnica, sempre há uma dimensão política.
A pressão para que Macron renuncie tem aumentado, não apenas da esquerda, mas também de membros da direita. A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, afirmou que "cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho", sugerindo que uma antecipação da eleição presidencial seria a única saída para a crise. Em resposta, Macron, em visita à Arábia Saudita, afirmou que as falas sobre sua renúncia "não fazem sentido" e reforçou que honraria sua confiança até o último momento, destacando a força econômica da França e suas reformas, além de suas instituições estáveis.
No entanto, as incertezas políticas continuam, e a França enfrenta uma crise política que exige decisões rápidas e precisas para garantir a governabilidade nos próximos anos.