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Debate sobre corrupção pauta eleição no Panamá

País realiza neste domingo primeiro pleito eleitoral após a divulgação dos Panama Papers

Cortizo: candidato do Partido Revolucionário Democrático (PRD) lidera as pesquisas de intenção de voto (Carlos Jasso/Reuters)

Cortizo: candidato do Partido Revolucionário Democrático (PRD) lidera as pesquisas de intenção de voto (Carlos Jasso/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2019 às 07h18.

Última atualização em 3 de maio de 2019 às 09h39.

A corrupção está no centro do debate público nas eleições que ocorrem no Panamá neste domingo, 5. Na data, 2,7 milhões de eleitores sairão de suas casas para votar na primeira eleição presidencial desde a divulgação dos Panama Papers em 2016, que revelaram uma rede de corrupção entre empresas e governos de todo o mundo.

Ao longo dos últimos meses, os candidatos, que apresentam poucas diferenças em suas propostas de governo, brigaram entre si para tentar convencer a opinião pública de que são a pessoa certa para liderar o Panamá em sua tentativa de mudança de imagem perante o mundo. Nos últimos quarenta anos da democracia no Panamá, Partido Revolucionário Democrático (PRD) e Partido Panameñista se alternam no poder. Laurentino “Nito” Cortizo, do PRD, de esquerda moderada, lidera a última pesquisa, realizada entre 22 e 28 de abril pela StratMark Consultores, com 40,1% das intenções de voto. Em segundo lugar está Rómulo Roux, do Mudança Democrática, com 26%. José Blandón, do Panameñista, e Ricardo Lombana, do Popular, têm, respectivamente, 10,2% e 8,9% das intenções. Outros 10,6% dos eleitores não sabem em quem votar ou vão votar em branco.

Como não há segundo turno, o vencedor de domingo assumirá a Presidência, que hoje é ocupada por Juan Carlos Varela, do Panameñista. O atual presidente é impedido pelas leis locais de concorrer a reeleição imediata. Ao longo de seu mandato, Varela vinha tentando superar a crise de imagem causada pela divulgação dos Panama Papers, mas foi criticado por não ter anulado os contratos do governo com a empreiteira brasileira Odebrecht, que reconheceu ter pagado 59 milhões de dólares em propinas ao país entre 2010 e 2014.

Procuradores estimam que nos últimos 15 anos a Odebrecht pagou mais de 100 milhões de reais em subornos no país. A maior parte dos contratos foi assinada entre 2009 e 2014, quando Ricardo Martinelli, hoje preso, estava na Presidência. Em um acordo costurado entre o Ministério Público brasileiro e o panamenho, a Odebrecht concordou em pagar multa de 220 milhões de dólares ao país e colaborar com as investigações da Justiça.

Cortizo, da centro-esquerda, tem usado a relação dos partidos opostos com a empreiteira brasileira para ganhar pontos com o eleitorado. “O que a Odebrecht fez na América Latina é inaceitável, é uma empresa que tem que ter muito cuidado com o que faz aqui neste país”, disse em entrevista ao canal local TVN-2. Não que seu PRD seja perfeito, mas estava fora do poder durante os anos em que a corrupção aconteceu em maior intensidade. No Panamá, na investigação da Odebrecht, cerca de 80 pessoas foram acusadas, entre eles os filhos do ex-presidente Martinelli, que teriam recebido 56 milhões de dólares da empreiteira.

Apesar da confusão política, o Panamá é o país da América Latina que mais cresce economicamente. Para 2019, o World Bank estima um crescimento de 6% na economia panamense, embora o tema seja pouco abordado no debate político. Desde 2017, quando deixou de reconhecer a província de Taiwan, o país tem assinado cada vez mais acordos bilaterais com os chineses.

Na eleição de domingo, o povo irá mostrar com quais temas se preocupa mais. Se Cortizo se consagrar vencedor, terá cinco anos para seguir os passos de Varela e tentar limpar a imagem de corrupção do Panamá. Tudo isso enquanto tenta manter o crescimento econômico.

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