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Conflito armado em Israel pode sair do controle, diz especialista

Lançamento de mísseis já causou 50 mortes; intensificação bélica tira foco da origem do confronto e corre o risco de se tornar mais letal

O estudioso britânico Simon Mabon, da Universidade de Lancanter, no Reino Unido (Foto/Divulgação)

O estudioso britânico Simon Mabon, da Universidade de Lancanter, no Reino Unido (Foto/Divulgação)

CA

Carla Aranha

Publicado em 12 de maio de 2021 às 14h50.

Última atualização em 12 de maio de 2021 às 15h03.

O britânico Simon Mabon, professor de relações internacionais da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, tem acompanhado com atenção o desenrolar dos recentes conflitos em Israel, que já ocasionaram a morte de 50 pessoas. Mabon perdeu a conta de quantas vezes esteve na região. Centrado no estudo do Oriente Médio, o britânico é autor do clássico Saudi Arabia and Iran: Power and Rivalry in the Middle East (Arábia Saudita e Irã: Poder e Rivalidade no Oriente Médio). Para Mabon, o confronto entre palestinos e israelenses corre o risco de se intensificar. "O uso de poderio bélico por parte do Hamas, grupo palestino, e do governo de Israel está tirando atenção do verdadeiro foco do conflito, um protesto da juventude contra ocupações em Jerusalém", diz. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Quais são as principais causas do conflito?

Há vários ângulos que precisam ser olhados. Começou com um protesto dos palestinos em Jerusalém contra a iniciativa de Israel de tirar palestinos de suas casas para colocar israelenses. Eles já vêm protestando há um tempo. Recentemente, a repressão policial israelense contra os manifestantes aumentou, o que levou a mais manifestações e a violência escalou.

E o que mais aconteceu?

Nos últimos dias, o grupo Hamas começou a tentar capitalizar a situação para reassegurar sua posição como líder do povo palestino e passou a lançar foguetes contra Israel. O que amigos meus palestinos comentam é que há muita raiva contra o Hamas porque o grupo está tentando capturar um movimento que começou com protestos de rua espontâneos com muito apoio popular.

Existe uma sensação de que o Hamas está liderando os protestos em Jerusalém?

Para o mundo, sim, mas não é o que está acontecendo. O problema é que o Hamas está em uma situação difícil na política palestina. O grupo vem perdendo boa parte de sua influência, por não ser visto como uma liderança para apoiar os palestinos ou defender os interesses do povo junto à Israel.

Essa é uma boa estratégia?

Essa decisão do Hamas, de atacar Israel agora, é um erro porque tira do foco do colonialismo em Jerusalém e as críticas que o governo israelense vem recebendo por levar adiante essa política. Com o Hamas lançando mísseis contra Israel, o governo israelense pode dizer tranquilamente que está se defendendo do terrorismo.

Existe algum grupo que represente os interesses palestinos atualmente?

Não. E não há novos líderes emergindo dos protestos. Existem as lideranças de grupos como o Fatah, Hamas, Jihad Islâmica, que se estabeleceram como partidos políticos, mas seus líderes são mais velhos e, em alguns casos, um pouco corruptos. Eles não desfrutam de muita confiança. Um dos grandes problemas é a falta de uma liderança nova e vibrante. Talvez os líderes mais antigos impeçam qualquer mudança em sua posição ao barrar a ascensão dos mais jovens.

É uma situação então que não deve melhorar nem se os dois lados parem de lançar mísseis?

Exatamente. Essas tensões existem há mais de oito anos. Trata-se de uma questão ideológica e de direitos sobre a terra, o que tem levado à violência e ao luto. É um ciclo que existe há décadas, na verdade.

O conflito pode escalar mais?

Sim, existe esse risco. Espero que isso não aconteça. Mas por vezes essas coisas acontecem rapidamente e podem sair do controle. Uma situação como essa exige muito trabalho, muito esforço diplomático para não escalar.

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