Mundo

Condições para Israel acabar com a guerra não mudaram, diz Netanyahu

Na véspera, o presidente americano Joe Biden havia dito que o governo israelense tinha uma proposta permanente de cessar-fogo em Gaza

Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, voltou a defender destruição do Hamas como objetivo da guerra (JACQUELYN MARTIN/POOL/AFP /Getty Images)

Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, voltou a defender destruição do Hamas como objetivo da guerra (JACQUELYN MARTIN/POOL/AFP /Getty Images)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 1 de junho de 2024 às 10h07.

As condições para Israel acabar com a guerra não mudaram, disse o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, em pronunciamento no perfil oficial no X, antigo Twitter.

Segundo ele, tais condições são "a destruição das capacidades militares e governativas do Hamas, a libertação de todos os reféns e a garantia de que Gaza já não representa uma ameaça para Israel". "A noção de que Israel concordará com um cessar-fogo permanente antes que estas condições sejam cumpridas é um fracasso", completou.

A declaração foi feita após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, dizer que Israel ofereceu uma nova proposta para garantir um cessar-fogo em Gaza e a soltura de reféns presos durante a guerra com o Hamas. Netanyahu ainda afirmou que, segundo o acordo, Israel continuará insistindo que tais condições sejam cumpridas antes que um cessar-fogo permanente seja estabelecido.

Anteriormente, Netanyahu já havia afirmado pela rede social que uma equipe de negociação estava autorizada a apresentar uma proposta para libertação mais rápida possível dos reféns, mas "que também permitiria a Israel continuar a guerra até que todos os seus objetivos fossem alcançados, incluindo a destruição das capacidades militares e governativas do Hamas". "A proposta apresentada por Israel, incluindo a transição condicional de uma fase para a seguinte, permite a Israel defender estes princípios", acrescentou.

Declaração de Biden

O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou nesta sexta-feira, 31, que o governo de Israel tem uma proposta permanente de cessar-fogo em Gaza e endossou o plano, que prevê a retirada das tropas do território palestino e a libertação dos reféns que estão nas mãos do Hamas.

Em Washington, ele disse que o Hamas não é mais capaz de realizar outro ataque violento contra Israel, como o que aconteceu em 7 de outubro, porque o grupo teve seu poder de fogo reduzido após meses de ataques. "Está na hora de esta guerra acabar, de o dia seguinte começar", disse o presidente, na Casa Branca.

Segundo o presidente americano, este é um "momento decisivo", já que o Hamas sinalizou querer uma trégua. "Este é realmente um momento decisivo", disse Biden. "Israel fez sua proposta. O Hamas diz que quer um cessar-fogo. Este acordo é uma oportunidade de provar que eles realmente estão falando sério."

Três fases

A proposta israelense seria dividida em três fases: primeiro, um cessar-fogo de seis semanas; em seguida, a retirada das tropas de Israel do território palestino; por fim, a troca de idosos e mulheres reféns pela libertação de prisioneiros. No entanto, ele afirmou que ainda existem detalhes a serem negociados entre os dois lados.

"Desde que o Hamas cumpra os seus compromissos, um cessar-fogo temporário se tornará, nas palavras da proposta israelense, o fim permanente das hostilidades", disse Biden.

Apesar da declaração do presidente americano, Israel não falou publicamente sobre a proposta de cessar-fogo apresentada ou sobre como este acordo seria diferente dos outros. Nos últimos meses, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já havia contradito Biden em diversas ocasiões e, anteriormente, declarou que o objetivo de Israel é a destruição completa do Hamas.

Distanciamento

Os extremistas palestinos também nunca aceitaram qualquer pacto de trégua, declarando que os combates precisam antes terminar, para que depois os reféns sejam liberados e um acordo seja feito.

Biden tem sofrido uma pressão crescente por conta do apoio incondicional à campanha militar de Israel em Gaza. Os comentários de ontem do presidente foram os primeiros sobre a guerra no Oriente Médio desde que um ataque israelense incendiou um acampamento palestino em Rafah, ao sul de Gaza, e matou 45 pessoas, incluindo mulheres e crianças.

Uma análise feita pelo New York Times constatou que as bombas utilizadas por Israel foram fabricadas nos EUA. A situação levantou questões sobre a responsabilidade americana no número de mortos no conflito, que ultrapassa a marca de 36 mil. A situação tem gerado reflexos no país, e estudantes protestaram em campi universitários e nas ruas de diversas cidades americanas.

Demissões

Dentro do governo americano, o contorcionismo de Biden para apoiar Israel também vem causando estragos. Na semana passada, a Casa Branca teve de lidar com duas demissões de funcionários do Departamento de Estado insatisfeitos com as decisões do presidente.

A principal perda foi a de Stacy Gilbert, uma veterana diplomata com 20 anos de carreira, que trabalhava no Escritório de População, Refugiados e Migração. Ela teria reclamado, segundo funcionários do Departamento de Estado, que o governo falsificou um relatório, no início de maio, para absolver Israel da responsabilidade pelo bloqueio do fluxo de ajuda humanitária em Gaza, ignorando o parecer de seus próprios especialistas.

A decisão foi de alto risco, porque, de acordo com uma cláusula da Lei de Assistência Estrangeira, os EUA são obrigados a interromper a venda de armas e a assistência de segurança a qualquer país que tenha bloqueado a entrega da ajuda humanitária americana.

Questionado sobre as alegações de Gilbert, um porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, negou que o governo tenha falsificado documentos. "Apoiamos o relatório divulgado", disse. "Não somos um governo ou um departamento que distorce os fatos, e as alegações são infundadas."

Quem também pediu para sair foi Alexander Smith, da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Ele pediu demissão na segunda-feira após o cancelamento de última hora de uma apresentação sobre mortalidade materna e infantil entre os palestinos.

"Não posso fazer meu trabalho em um ambiente no qual pessoas específicas não podem ser reconhecidas como totalmente humanas, ou onde os princípios de gênero e direitos humanos se aplicam a alguns, mas não a outros, dependendo de sua raça", escreveu Smith.

Baixas americanas

Desde o início da guerra em Gaza, nove funcionários do alto escalão do governo americano pediram demissão citando o apoio incondicional a Israel. Mas o problema é maior, segundo o ex-diretor de assuntos públicos e legislativos, Josh Paul, o primeiro a se demitir, em outubro. Ele disse que mais de 20 de pessoas haviam pedido demissão discretamente, sem uma declaração pública.

Acompanhe tudo sobre:Benjamin NetanyahuIsraelJoe BidenHamasEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Projeto de energias renováveis no Deserto de Taclamacã recebe aporte bilionário da China

Claudia Sheinbaum confirma participação na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro

Coreia do Norte deve pedir tecnologia nuclear da Rússia em troca de soldados, diz Coreia do Sul

Inflação na zona do euro registrou aumento de 2% em outubro