ROSTOV-ON-DON, RÚSSIA - 24 DE JUNHO: Membros de Wagner em guarda após o grupo paramilitar Wagner ter assumido o controle da sede do distrito militar do sul da Rússia em Rostov-on-Don (Arkady Budnitsky/Anadolu Agency/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 26 de junho de 2023 às 06h42.
Yevgeny Prigojin, chefe do grupo paramilitar privado Wagner, liderou uma rebelião armada na Rússia no sábado, e afirmou que suas forças chegaram a 200 km de Moscou. Veja como os eventos se desenrolaram ao longo dos últimos dias.
Em uma série de publicações nas redes sociais a partir das 11 da manhã de sexta-feira, pelo horário de Moscou, Prigojin questionou os motivos apresentados pelo Kremlin para a guerra na Ucrânia, e acusou o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, de ter ordenado ataques aéreos contra os combatentes do grupo Wagner. "O mal representado pela liderança militar do país precisa ser parado", disse em uma gravação de voz, publicada por volta das 21h.
As agências de segurança da Rússia denunciam Prigojin em uma série de anúncios na imprensa estatal. O Serviço Federal de Segurança (FSB), a principal agência de inteligência do país, abriu uma investigação contra Prigojin por rebelião armada.
Vídeos começaram a circular nas redes sociais mostrando veículos blindados das Forças Armadas e da Guarda Nacional posicionados em Moscou e Rostov no Don, de onde Prigojin disse que seus combatentes estavam se aproximando.
Apesar das medidas de defesa, as forças do Grupo Wagner tomam Rostov no Don com pouca dificuldade. Por volta das 7h30, Prigojin publicou um vídeo do comando militar regional, afirmando estar no controle das instalações centrais da cidade. Imagens em redes sociais mostraram os combatentes em meio à rotina da cidade: comandando o trânsito em vias centrais, andado pelas ruas com café e pedindo fast food.
Com os combatentes consolidando o controle de Rostov no Don, suas forças passaram a olhar para o Norte, rumo a Moscou. Uma coluna de veículos blindados e de transporte de tropas saiu de Rostov. Outra coluna saiu de áreas ocupadas da Ucrânia em direção a Voronej. Também não enfrentaram resistência e aparentemente abateram algumas aeronaves militares russas no caminho.
Vladimir Putin fez um pronunciamento na televisão ao povo russo, pedindo união diante do que ele chamou de guerra contra a Ucrânia e seus aliados. "Ações que dividem nossa unidade são uma punhalada nas costas de nosso país e nosso povo", disse.
As colunas blindadas avançaram pela região de Voronej sem entrar em grandes cidades e pararam em uma via expressa de Elets, uma cidade na região de Lipetsk a cerca de 400 km de Moscou. A coluna incluía tanques, veículos blindados, ao menos um lançador de foguetes e muitos caminhões de transporte de tropas. Também não houve qualquer resistência.
A imprensa estatal da Bielorrússia anunciou, de forma surpreendente, que o presidente do país, Alexander Lukashenko, negociou um acordo para que Prigojin interrompesse o avanço das tropas. O chefe do Grupo Wagner disse em uma mensagem de áudio que suas forças chegaram a 200 km de Moscou e “estavam retornando” para seus campos de treinamento.
As forças do Grupo Wagner deixam a cidade, e alguns dos moradores saem às ruas para demonstrar apoio. Prigojin estava entre aqueles que bateram em retirada, dirigindo seu carro preto e fortemente protegido.
Fundado em 2014, o Wagner é um grupo paramilitar privado de mercenários composto por ex-soldados, prisioneiros e civis russos e estrangeiros. O líder da equipe de elite é o oligarca Yevgeny Prigozhin, com forte ligação ao Kremlin. As primeira missões do grupo ocorreram em Donbass, no leste da Ucrânia, e na península da Crimeia, quando os mercenários ajudaram as forças separatistas a tomar a região.
Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para lutar em conflitos no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Com a guerra da Ucrânia, Putin utilizou os mercenários no conflito. Segundo estimativas, os paramilitares têm mais de 20 mil soldados na guerra da Ucrânia.
O líder, Yevgeny Prigozhin, afirmou que 25 mil soldados estão prontos para derrubar o ministro da defesa russo.
Prigojin nasceu em São Petersburgo em 1961 e foi preso por cometer pequenos delitos na adolescência e foi condenado por quase 10 anos. Quando saiu da prisão, ele e sua mãe começaram a vender cachorro quente e depois abriram um restaurante, foi quando ele conheceu Vladimir Putin. Ele se tornou um oligarca rico após conseguir contratos lucrativos de refeições com o com o Kremlin, o ficou conhecido como o “chef de Putin”.
Ele virou um combatente de guerra ocorreu após os movimentos separatistas apoiados pela Rússia em 2014 no Donbass, no leste da Ucrânia. Prigojin fundou o grupo Wagner para ser um grupo paramilitar que lutaria em qualquer causa apoiada pela Rússia, em qualquer lugar do mundo.
Prigozhin ganhou influência política e se lançou em um confronto com autoridades políticas e militares que parece ter ido além da retórica.
O líder da milícia Wagner acusou na sexta-feira, 23, o exército de Moscou de bombardear suas bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar.
O exército negou as acusações, que chamou de "provocação", enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Yevgeny Prigozhin, por tentativa de motim.
A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.
Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o exército russo estava "se retirando" no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, que afirma que a contraofensiva de Kiev fracassa. "As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem", declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.
"Não há controle algum, não há vitórias militares" de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos "se banham em seu sangue", referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares. Putin e seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, afirmam, por sua vez, que o Exército está "repelindo" todos os ataques ucranianos.