Carros elétricos na China: a WEG tem parceria para estação de carregamento com um grupo crescente de montadoras (VCG/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 22 de março de 2025 às 16h39.
Última atualização em 22 de março de 2025 às 16h42.
A China está avaliando a possibilidade de restringir voluntariamente a quantidade de alguns produtos exportados para os Estados Unidos — como veículos elétricos e baterias — em uma tentativa de reduzir as tensões comerciais com o presidente americano Donald Trump.
As informações foram trazidas com exclusividade pelo The Wall Street Journal, que ouviu autoridades chinesas sob a condição de anonimato.
A estratégia se assemelha à adotada pelo Japão nos anos 1980, quando, sob forte pressão dos EUA, Tóquio aceitou impor limites voluntários às exportações de automóveis.
A medida ajudou o Japão a evitar tarifas mais pesadas, ao mesmo tempo em que permitiu às montadoras japonesas cobrarem preços mais altos por veículos mais sofisticados. O preço médio de um carro japonês, à época, subiu cerca de US$ 1.000 — equivalente a US$ 3.500 em valores atuais.
De acordo com conselheiros do governo chinês ouvidos pelo WSJ, a ideia é utilizar essas chamadas restrições voluntárias de exportação (VERs, na sigla em inglês) como moeda de troca em futuras negociações com a equipe de Trump.
A China estaria disposta a limitar parte das exportações em troca de oportunidades de investimento nos próprios setores afetados dentro dos EUA — proposta que poderia atrair o ex-presidente, apesar da oposição de membros de sua equipe.
O interesse de Pequim em adotar essa abordagem ocorre num momento de crescimento econômico fraco na China e diante da perspectiva de um segundo mandato de Trump, que já elevou em 20% as tarifas sobre produtos chineses, além das impostas durante seu primeiro mandato — e mantidas, em boa parte, por Joe Biden.
A adoção de VERs, contudo, não implicaria uma mudança na política industrial da China. Autoridades chinesas destacam que a ideia seria usar as restrições como ferramenta tática de negociação, sem abandonar a ênfase na produção industrial voltada para a exportação — estratégia reforçada pelo presidente Xi Jinping como forma de garantir o funcionamento da economia mesmo diante de sanções ocidentais.
Segundo o economista Doug Irwin, professor da Universidade de Dartmouth e autor do livro Clashing over Commerce, o uso de tarifas como arma comercial por Trump pode tornar a China mais receptiva às restrições voluntárias.
No entanto, ele pondera que essas medidas dificilmente seriam suficientes para reequilibrar o comércio entre as duas potências, já que o superávit comercial da China com os EUA é de US$ 295 bilhões — o maior entre todos os parceiros comerciais americanos.
Outro desafio seria a fiscalização das restrições, especialmente diante do crescente uso de países terceiros, como México e Vietnã, por empresas chinesas para acessar o mercado americano.
Além disso, o WSJ destaca que Trump, conhecido por ver as tarifas como fonte de receita, pode não se interessar por acordos que limitem esse fluxo financeiro.
Por enquanto, Pequim aguarda os próximos passos da Casa Branca. Trump ordenou uma revisão da relação econômica com a China, cujo resultado deve ser apresentado em abril e poderá nortear a postura dos EUA nas negociações comerciais com o gigante asiático.