Mundo

Chile busca saída para crise social na qual EUA vê participação russa

Estados Unidos ofereceram apoio ao presidente chileno, que pretende fazer diversas reformas sociais

Protestos: manifestações no Chile já deixaram 20 mortos (Ivan Alvarado/Reuters)

Protestos: manifestações no Chile já deixaram 20 mortos (Ivan Alvarado/Reuters)

A

AFP

Publicado em 1 de novembro de 2019 às 06h38.

Última atualização em 1 de novembro de 2019 às 06h39.

São Paulo — O governo chileno se reuniu nesta quinta-feira (31) com a oposição para buscar uma saída consensual da crise social sem precedentes no país, que já deixou 20 mortos e uma perspectiva sombria em Santiago, mas o encontro não convenceu os partidos da esquerda.

A maior crise registrada no Chile desde o retorno à democracia levou o presidente do país, Sebastián Piñera, a cancelar na quarta-feira a reunião de líderes do fórum econômico da Apec e a cúpula climática da ONU COP-25, que seriam realizadas em algumas semanas na capital Santiago. A decisão teve um grande impacto no turismo e comércio, áreas afetadas por duas semanas de manifestações, várias delas muito violentas.

Ao contrário do primeiro encontro organizado três dias após o início dos protestos, no dia 18 de outubro, o governo de Piñera não excluiu nenhum partido representado no Parlamento, entre eles o Partido Comunista, que não participou da reunião no palácio presidencial.

Após duas horas de deliberações, Álvaro Elizalde, presidente do Partido Socialista, o principal grupo da oposição, garantiu que "não existe disposição para ouvir as demandas dos cidadãos".

Já o líder do Partido Pela Democracia (PPD), Heraldo Muñoz, disse que não há "sinais claros ainda a favor do diálogo".

Com um perfil mais aberto ao diálogo do que seu antecessor, o novo ministro do Interior, Gonzalo Blumel, assumiu a missão de liderar o diálogo político destinado a encontrar uma saída para a crise social, que gerou uma queda na popularidade de Piñera.

Blumel, que foi empossado na segunda-feira passada após uma reforma ministerial comandada por Piñera, disse à imprensa que durante o encontro se definiu com a oposição chegar a "um entendimento, idealmente nos próximos dias, nas próximas semanas".

Também anunciou que o governo se mostrou disposto, pela primeira vez, a revisar um projeto de reforma tributária já enviado ao Congresso para substituir uma reforma aprovada durante o último governo da socialista Michelle Bachelet (2014-18) e que, na opinião dos opositores, significava reduzir a cobrança de impostos aos mais ricos.

Em relação à mudança da Constituição em vigor desde a ditadura de Augusto Pinochet, considerada como uma das saídas para a crise, Blumel afirmou: "O governo não descarta qualquer opção, mas nos parece importante, em primeiro lugar, realizar esse amplo processo de diálogo participativo".

As manifestações prosseguiram nesta quinta-feira, com milhares de chilenos na Praça Itália, no centro de Santiago, usando máscaras de Halloween e trajes de alienígenas, uma referência à declaração de Cecilia Morel, mulher do presidente Sebastián Piñera, que qualificou a atual situação do Chile de "invasão alienígena".

Mais cedo, centenas de manifestantes caminharam pela Alameda - principal avenida de Santiago - até o palácio presidencial de La Moneda, onde foram reprimidos pela polícia com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo.

"Participação russa"

Acuado pelos protestos, Piñera cancelou a organização da reunião dos líderes do fórum da Apec - que contaria com a participação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - e a cúpula climática da COP25 das Nações Unidas, que reuniria cerca de 25 mil delegados em Santiago, em um momento em que a discussão sobre a redução das emissões de carbono capturam a atenção global.

Após o cancelamento, a Casa Branca revelou que o presidente Trump ligou para Piñera para expressar seu apoio em meio a onda de protestos e denunciou que há "esforços estrangeiros para minar as instituições" no país.

Mais tarde, um funcionário do Departamento de Estado que pediu para não ser identificado alertou que há indicações de "atividades russas" que deram uma orientação negativa ao debate na opinião pública no Chile durante a onda de protestos.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, denunciou na semana passada um "padrão" de desestabilização da Venezuela e Cuba, orientado primeiro para a Colômbia e Equador e depois para o Chile, atribuindo a esses países a responsabilidade pelas grandes mobilizações contra os governos na região.

Piñera anunciou nesta quinta-feira que a Espanha se ofereceu para sediar a COP25 em Madri, à qual a ativista sueca Greta Thunberg compareceria.

Esta reunião de cúpula estava prevista para ser realizada no Brasil, mas assim que tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro se recusou a organizá-la e Piñera aceitou o desafio em uma clara tentativa de se tornar um líder regional em questões ambientais.

Acompanhe tudo sobre:América do SulChileEstados Unidos (EUA)Protestos no mundoSantiago (Chile)

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia