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Casa Branca afirma que repressão a protestos na Venezuela é 'inaceitável'

Desde o anúncio do resultado do pleito, protestos foram registrados em 17 dos 24 estados do país, incluindo a capital Caracas

Opositores de Maduro fazem manifestação na Venezuela contra resultados da eleição (RAUL ARBOLEDA/AFP)

Opositores de Maduro fazem manifestação na Venezuela contra resultados da eleição (RAUL ARBOLEDA/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 30 de julho de 2024 às 17h22.

Última atualização em 30 de julho de 2024 às 17h30.

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A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, classificou nesta terça-feira como "inaceitável" a repressão do governo venezuelano à oposição e aos manifestantes que contestam a reeleição do presidente Nicolás Maduro. Desde segunda-feira, uma onda de protestos maciços tomaram as ruas de 17 dos 24 estados do país, incluindo a capital Caracas. Ao todo, quatro pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e mais de 700 foram detidos, incluindo menores, segundo o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos.

"Qualquer repressão política ou violência contra os manifestantes ou opositores é obviamente inaceitável", disse Jean-Pierre a repórteres durante uma coletiva de imprensa em Washington.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou que parte dos detidos que foram flagrados destruindo o patrimônio público será processada por “atos de terrorismo”, acusação que pode ser estendida a líderes opositores que "instigaram" a população sair às ruas — em referência a María Corina Machado, principal nome da oposição do país.

Saab culpou a oposição por "incitação ao ódio" e disse que o grupo fez um "chamado para exterminar e matar venezuelanos" ao convocar as pessoas a protestarem.

"Os apelos para irmos com nossas famílias a tal ou tal local, vocês acreditam na realidade virtual de que estão falando sobre ir com as famílias para caminhar? Vocês estão colocando suas famílias na frente para incendiar sedes públicas e matar venezuelanos", disse o procurador-geral.

Na segunda-feira, após um dia de protestos ao redor do país contestando o resultado anunciado pelo CNE, María Corina convocou as famílias venezuelanas a voltarem às ruas nesta terça-feira e se manifestarem em frente às seções eleitorais.

"Hoje estamos vendo expressões de cidadãos que resistem que roubem o seu futuro, que se desconheça a verdade. São expressões espontâneas nas zonas populares, legítimas frente a um regime ilegítimo", afirmou a ex-deputada em coletiva de imprensa na segunda. "Por isso, hoje queremos convocar a todos os venezuelanos que ontem foram votar pela mudança que queremos. Amanhã vamos nos encontrar em família."

Entre os detidos pelas forças de segurança do regime está o líder opositor Freddy Superlano, do Vontade Popular (VP), que alertou nesta terça-feira para uma “escalada da repressão” em meio aos protestos contra a reeleição de Maduro. Em um vídeo divulgado nas redes sociais é possível ver o político sendo levado por agentes da Inteligência Bolivariana e se desfazendo de seu celular.

“Devemos denunciar responsavelmente ao país que há poucos minutos nosso coordenador político nacional Freddy Superlano foi sequestrado”, disse o partido VP no X.

Ao menos cinco estátuas em homenagens ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foram derrubadas em meio aos protestos. Além da peça localizada no estado de Falcón, a primeira a ser derrubada, também foram registradas quedas de estátuas no estado de Guárico, em Carabobo, no estado de Aragua e na cidade de Los Teques, no estado de Miranda, de acordo com o jornal venezuelano La Patilla. Segundo o jornal local, desde a morte de Chávez em março de 2013, mais de dez estátuas foram erguidas em homenagem ao líder chavista em todo o país.

O procurador-geral mencionou durante seu pronunciamento nesta terça a destruição dos monumentos, além do outros casos, como os incêndios à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no estado de Falcón e ao gabinete do prefeito em Puerto La Cruz, no estado de Anzoátegui. Mostrando vídeos dos ataques, Saab classificou os atos de criminosos e rejeitou os protestos seriam espontâneos, como María Corina havia afirmado na segunda-feira.

"[São] grupos criminosos armados, que agem encapuzados para atacar, criar o caos e fazer com que isso se amplie em nível nacional e se transforme em eventos de massa, porque a mensagem deles é buscar intervenção estrangeira", afirmou o procurador-geral.

Resultado contestado

Com 80% das urnas apuradas, o CNE anunciou na madrugada de segunda-feira a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) ante 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, o diplomata Edmundo González Urrutia — escolhido após María Corina ser inabilitada de concorrer pela Justiça e sua substituta, a professora Corina Yoris, ser impedida de registrar sua candidatura.

Segundo a oposição, no entanto, González recebeu 73% dos votos, o equivalente a 6 milhões, ante apenas 2,7 milhões de votos de Maduro, menos de 30%. O grupo político acusa o CNE de esconder parte do boletins das urnas, e justificou a sua contabilização a partir das atas das seções eleitorais obtidas até o momento e pesquisas de boca de urna de quatro institutos de pesquisa independentes.

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos “com total transparência” e a liderança política a agir “com moderação”.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse nesta terça-feira que está "extremamente preocupado" com as tensões pós-eleitorais na Venezuela e pediu às autoridades que respeitem o direito de "protestar pacificamente".

"A Venezuela está enfrentando um momento crítico. Insto as autoridades a respeitarem os direitos de todos os venezuelanos de se reunirem e protestarem pacificamente, e de expressarem suas opiniões livremente e sem medo", disse em comunicado.

O Brasil solicitou, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, a publicação das apurações das atas para dar “transparência e legitimidade” à contagem dos votos. Em Caracas, o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, se encontrou com Maduro e com González na segunda-feira para discutir a votação. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os encontros tiveram um "clima cordial" e o chavista prometeu ao ex-chanceler brasileiro que seu governo apresentaria as atas eleitorais "nos próximos dias".

O Centro Carter, que atuou como um dos poucos observadores internacionais no país, pediu ao CNE na segunda-feira que publicasse “imediatamente” os registros eleitorais. Uma das fontes consideradas mais confiáveis pela missão chefiada por Amorim é o instituto.

Suposto ataque hacker

Na segunda-feira, Saab já havia dito à imprensa venezuelana que María Corina estaria vinculada a um suposto ataque hacker contra o sistema eleitoral para modificar os resultados das eleições. Ele afirmou, sem provas, que o "principal envolvido" no ataque era Lester Toledo, dirigente do partido Vontade Popular que está exilado nos Estados Unidos.

— Junto a ele aparecem como envolvidos o fugitivo da Justiça venezuelana Leopoldo López e María Corina Machado — disse Saab. — Conseguiram pausar e desacelerar a leitura do boletim final dos resultados — continuou ele, afirmando que até a noite de domingo 17 pessoas foram detidas por descumprimento das normas durante as eleições, a maioria por "destruição de material eleitoral".

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, referiu-se a uma suposta tentativa de interferência no sistema de transmissão de votos ao anunciar o resultado da contagem, que deu vitória a Maduro. O próprio Amoroso, um ex-controlador-geral da República e chavista veterano, afirmou que os ataques não tiveram sucesso em interferir nas informações.

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