A OMS foi informada sobre essa publicação no Gisaid no domingo, não pela China, mas por cientistas (Christopher Black/World Health Organization/Reuters)
Redação Exame
Publicado em 17 de março de 2023 às 20h58.
Última atualização em 17 de março de 2023 às 20h59.
"Três anos depois, foram registradas cerca de sete milhões de mortes por covid-19, embora saibamos que esse número é muito maior", afirmou nesta sexta-feira, 17, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesu. "Apesar de termos cada vez mais esperanças de chegar ao fim da pandemia, a questão de como ela começou segue sem resposta."
Em coletiva de imprensa, Tedros questionou a China, que, sem notificar a OMS, publicou no final de janeiro informações na maior base de dados mundial sobre sequências do SARS-CoV-2, a Gisaid, que podem ser úteis para descobrir a origem da pandemia. No entanto, pouco depois as retirou do ar.
A organização reiterou seu apelo a Pequim para aumentar a transparência na troca de dados sobre a covid, depois que especialistas internacionais descobriram que a China havia publicado online - antes de retirá-los por razões desconhecidas - novos dados genéticos de amostras coletadas em janeiro de 2020 no mercado de Wuhan, cidade onde o vírus foi detectado pela primeira vez.
Em seu discurso, Tedros relatou ter pedido aos pesquisadores do CDC chinês e ao grupo internacional de cientistas que apresentassem suas análises dos dados.
"Esses dados não fornecem uma resposta definitiva à questão de como a pandemia começou, mas todos os dados são importantes para nos aproximar dessa resposta e todos os dados relacionados ao estudo das origens do COVID-19 precisam ser compartilhados com a comunidade internacional imediatamente", afirmou.
"Esses dados poderiam e deveriam ter sido compartilhados três anos atrás. Continuamos a pedir à China que seja transparente no compartilhamento de dados e conduza as investigações necessárias e compartilhe os resultados. Compreender como a pandemia começou continua sendo um imperativo moral e científico", disse Tedros.
Para ele, só é possível enfrentar ameaças compartilhadas com uma resposta compartilhada, "baseada em um compromisso compartilhado de solidariedade e equidade". "É disso que trata o acordo pandêmico que os países estão negociando agora, um acordo entre as nações para trabalhar em cooperação umas com as outras, não em competição, para se preparar e responder a epidemias e pandemias, disse.
A OMS foi informada sobre essa publicação no Gisaid no domingo, não pela China, mas por cientistas. Os dados, provenientes do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, referem-se a amostras colhidas no mercado de Huanan, em Wuhan, em 2020, principalmente de cães-guaxinins.
Esses dados, que os pesquisadores chegaram a baixar e analisar, "não fornecem uma resposta definitiva à questão de como a pandemia começou", explicou Tedros, mas "poderiam – e deveriam – ter sido compartilhados três anos atrás".
Até agora, circularam várias teorias sobre a origem da covid, desde uma possível transmissão para humanos por um animal intermediário presente no mercado de Wuhan até um vazamento de laboratório.
Os novos dados chineses fornecem novos elementos, segundo Maria Van Kerkhove, médica responsável pelo combate à covid na OMS, mas ainda há muitas questões a serem respondidas sobre os animais que eram vendidos no mercado, como se eram ou não domésticos e de onde vinham.
Em breve, a covid-19 poderá ser comparável à ameaça da gripe sazonal, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira (17). A organização espera reduzir ainda mais seu nível máximo de alerta este ano.
Três anos após o surgimento da covid-19, sua origem ainda é um mistério.
"Chegamos a um ponto em que podemos considerar a covid-19 da mesma forma que consideramos a gripe sazonal, ou seja, uma ameaça à saúde, um vírus que vai continuar matando, mas um vírus que não atrapalha nossa sociedade nem nossos sistemas hospitalares", disse o chefe dos programas de emergência da OMS, Michael Ryan, em coletiva de imprensa.
"Estou muito satisfeito ao constatar que, pela primeira vez, o número semanal de mortes comunicadas no último mês é inferior ao registrado quando usamos a palavra 'pandemia' pela primeira vez, há três anos", destacou Tedros, mostrando-se "confiante" de que a organização consiga baixar seu nível de alerta ainda "este ano".
A agência da ONU declarou uma "emergência internacional de saúde pública" devido à covid-19 em 30 de janeiro de 2020, em um momento em que havia menos de 100 casos positivos e nenhuma morte fora da China. Mas só quando Tedros classificou a situação como "pandemia", em março de 2020, o mundo tomou consciência da gravidade da ameaça sanitária.
Com informações da AFP.