O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa durante a reunião da Força-Tarefa do G20 para estabelecer uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza em 24 de julho de 2024 (Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 10h13.
Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 06h20.
Rio de Janeiro - Uma aliança global contra a fome e a pobreza foi lançada na manhã desta segunda-feira, 18, na primeira das três sessões da reunião de cúpula do G20 no Brasil.
O projeto, proposto pelo Brasil, começa com 82 países integrantes, além de 24 instituições internacionais e 9 bancos e entidades de fomento. A União Europeia e a União Africana também fazem parte da aliança.
A Argentina não havia entrado até a hora do anúncio, mas depois se juntou à iniciativa. Mais países ainda podem aderir.
Segundo dados da FAO (setor de agricultura e alimentos da ONU), há 733 milhões de pessoas que vivem com falta de comida no mundo.
"A aliança nasce no G20 mas seu destino é global. Que esta cúpula seja marcada pela vontade de agir. Se agirmos contra a fome e a pobreza, poderemos ter sucesso em pouco tempo", disse o presidente brasileiro.
"O G20 representa 85% do Pib mundial. Compete aos que estão aqui a inadiável tarefa de acabar com esta chaga que atinge a humanidade. Este será o nosso maior legado. Não se trata apenas de fazer justiça. É uma condição indispensável para construir comunidades mais prósperas e de paz", afirmou.
Lula lembrou que esteve presente na primeira reunião do G20, quando os líderes globais buscavam saídas para a crise econômica global surgida em 2008. "Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior. Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e o maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada", disse o presidente.
Ele apontou ainda que o mundo produz 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano e que o gasto militar global supera 2,4 trilhões de dólares anuais. "A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenônemos naturais. É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade."
Os chefes de estado começaram a chegar ao MAM (Museu de Arte Moderna), no Rio de Janeiro, às 8h40. O presidente Lula recebeu os convidados na entrada do evento, um a um. A reunião começou com uma hora de atraso e deve seguir até a hora do almoço.
A Aliança opera por meio de três pilares principais, nacional, financeiro e de conhecimento, projetados para mobilizar recursos para políticas adaptadas às realidades de cada país membro.
No domingo, 18, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) anunciou que fornecerá até US$ 25 bilhões para a iniciativa. Os recursos serão direcionados para os países da América Latina e Caribe e liberados entre 2025 e 2030.
“Juntos, temos o poder de alcançar progresso real na luta contra a pobreza e a fome na América Latina e Caribe e além”, disse Ilan Goldfajn, presidente do BID, em comunicado.
“Com a liderança do Brasil e o apoio de bancos multilaterais e parceiros internacionais, teremos a estrutura, recursos e expertise para transformar nossos compromissos em ações concretas com impacto duradouro", prosseguiu.
O BID buscará garantir que 50% dos novos projetos beneficiem diretamente aos mais pobres, especialmente mulheres, negros e indígenas.
“O que eu quero dizer para 733 milhões de habitantes que passam fome no mundo, crianças que vão dormir e acordam sem ter certeza se vão ter algum alimento para colocar na boca é: hoje não tem, mas amanhã vai ter. Porque nós temos que ter coragem e dignidade para mudar a história da humanidade que está tão perversa”, disse Lula, durante o festival Aliança Global, no sábado, 16. O evento, paralelo ao G20, buscou impulsionar o lançamento da Aliança.
De tarde, às 14h30, será feita a segunda reunião, sobre reforma das instituições globais, como a ONU.
Ao fim do dia, às 18h, haverá uma recepção aos líderes estrangeiros, oferecida por Lula. Na terça-feira, 18, haverá a última reunião de cúpula, sobre transição energética e mudanças climáticas, na parte da manhã. Em seguida, haverá uma cerimônia de encerramento e a transmissão simbólica da presidência do G20 para a África do Sul.
Ao final do evento, será emitida uma declaração conjunta dos líderes, com diretrizes, posicionamentos e medidas defendidas por todos eles.
Na última edição, em 2023, na Índia, a declaração final buscou ressaltar que o G20 é mais um fórum de cooperação econômica do que política. Sob pressão de Rússia e China, houve uma menção branda à guerra da Ucrânia.
O documento final daquele ano teve 76 itens, com medidas para ampliar o combate à corrupção e ao terrorismo, fortalecer o empoderamento das mulheres e estimular a digitalização da economia, entre outras ações.
Neste ano, há novo debate sobre mencionar a Guerra da Ucrânia, e também o conflito entre Israel e Hamas. Alguns países defendem que haja uma menção aos excessos de Israel na invasão de Gaza.
Um dos pontos defendidos pelo Brasil é incluir na declaração final uma proposta de taxação de super-ricos. O país defende um imposto global de 2% sobre o patrimônio de cerca de 3 mil super-ricos. Isso poderia trazer um potencial de arrecadação de US$ 250 bilhões por ano.
O grupo une 19 países dos cinco continentes (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia), integram o fórum a União Europeia e a União Africana. O G20 agrega dois terços da população mundial, cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional.
Um grupo que reúne as maiores economias do mundo e os maiores países desenvolvidos, que se reúne anualmente para debater questões geopolíticas e econômicas. O G20 não tem poder para determinar medidas obrigatórias aos países, mas serve como espaço de debate e trocas de experiências e iniciativas, a serem adotadas posteriormente pelos países-membros.