Biden começa viagem ao Oriente Médio e encara situação delicada
A viagem ao Oriente Médio começa por Israel nesta quarta-feira, 13, mas todos os olhares estarão voltados para a escala em Jidá, na Arábia Saudita
AFP
Publicado em 13 de julho de 2022 às 06h00.
Última atualização em 13 de julho de 2022 às 06h20.
Joe Biden fará sua primeira visita à Arábia Saudita como presidente dos Estados Unidos na sexta-feira, 15, na esperança de convencer Riade a produzir mais petróleo para reduzir os preços do petróleo, que estão levando a inflação ao maior nível em décadas. A viagem ao Oriente Médio começa, na verdade, por Israel nesta quarta-feira, 13, mas todos os olhares estarão voltados para a escala em Jidá, na Arábia Saudita.
Antes de sua eleição, Biden disse que a Arábia Saudita deveria ser um país "pária", após o assassinato em 2018 do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, e prometeu que "recalibraria" as relações com esse parceiro estratégico dos Estados Unidos.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, causando um forte aumento no preço do petróleo, que atingiu níveis não vistos desde a crise financeira de 2008, a situação é diferente.
A inflação nos Estados Unidos atingiu sua taxa mais alta em quatro décadas, o que levou Biden a deixar de lado as preocupações com os direitos humanos e diminuir a tensão com seu aliado.
A visita mostra "o desespero de Biden diante das eleições de meio de mandato para dar, pelo menos, a impressão de que ele está tentando reduzir a tensão no mercado e fazer os preços baixarem", afirmou Craig Erlam, analista da OANDA.
LEIA TAMBÉM: EUA e México reafirmam cooperação em temas como imigração
Prazo de validade
As chances de Biden seriam reforçadas pela proximidade do fim de um acordo do grupo Opep+ que regula a suspensão de sua produção.
Esse grupo – 13 países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderados pela Arábia Saudita, mais dez países liderados pela Rússia – cortou a produção em 2020, quando a demanda se viu atingida pelos fechamentos provocados pela pandemia ao redor do mundo.
Desde o ano passado, eles aumentaram gradualmente a produção, à medida que as economias se recuperavam.
A OPEP+ concordou em manter os aumentos previamente decididos, descartando os apelos pra que aumentasse sua produção para conter o aumento dos preços. Este acordo expira no final de agosto e, em setembro, a OPEP+ voltará ao seu nível de produção pré-pandemia.
"O vencimento do acordo da Opep+ em setembro cria uma oportunidade e, talvez, (Biden) não fizesse isso, se não tivesse certeza de que é possível conseguir algo", acrescentou Erlam. O grupo fará sua próxima reunião em agosto para discutir a produção.
Esperanças frustradas?
A esperança de Biden de poder contar com mais ouro negro pode se ver frustrada pelos preços elevados, que alavancaram receitas e economias dos países do Oriente Médio.
"Seria uma grande surpresa, se a Arábia Saudita produzisse mais petróleo", disse o analista independente Stephen Innes.
A economia da Arábia Saudita cresceu 9,6% no primeiro trimestre, sua maior expansão em uma década.
Existe um "incentivo econômico significativo para não aumentar a produção", disse o analista da XTB Walid Koudmani. Na verdade, Riade está produzindo perto de sua capacidade máxima.
O ministro saudita das Relações Exteriores, príncipe Faisal bin Farhan, afirmou em maio que o reino "fez o que pôde" pelo mercado de petróleo. Declarou, ainda, que a indústria precisa aumentar sua capacidade de refino, em vez de extrair mais barris de petróleo.
Questão iraniana
O Irã é outro ponto sensível entre Washington e Riade. A Arábia Saudita lidera a luta contra os rebeldes huthis no Iêmen, apoiados por Teerã, enquanto os Estados Unidos buscam ressuscitar o acordo nuclear iraniano. Este pacto foi abandonado de forma unilateral, em 2018, pelo então presidente Donald Trump, antecessor de Biden.
O acordo nuclear "parecia alcançável no passado recente, em especial após o início do conflito Rússia-Ucrânia", disse Koudmani.
"Mas não se conseguiu progredir e ele pode ser abandonado pelos Estados Unidos, se obtiver garantias (de uma maior produção de petróleo) da Arábia Saudita após esta visita do presidente Biden", acrescentou.
LEIA TAMBÉM