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As repercussões da tensão no Mar Vermelho na economia global

Desde novembro, a quantidade de porta-contêineres do comércio marítimo da região caiu 70%

O navio cargueiro Galaxy Leader, interceptado por rebeldes huthis na cidade iemenita de Hodeida, no Mar Vermelho (Agence France-Presse/AFP Photo)

O navio cargueiro Galaxy Leader, interceptado por rebeldes huthis na cidade iemenita de Hodeida, no Mar Vermelho (Agence France-Presse/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 17 de janeiro de 2024 às 13h18.

Os ataques dos rebeldes huthis do Iêmen a navios comerciais e militares no Mar Vermelho já têm consequências econômicas, limitadas neste momento, e a sua gravidade dependerá de quanto tempo durar esta crise, apontam especialistas.

Estes são os pontos-chave da situação:

Circulação marítima sob tensão

Os ataques a navios mercantes multiplicaram-se nas últimas semanas. Cerca de 12% do comércio marítimo global passa, em tempos normais, pelo Estreito de Bab al Mandeb, que controla o acesso ao sul do Mar Vermelho. No entanto, desde meados de novembro, a quantidade de porta-contêineres caiu 70%, segundo especialistas do setor.

Muitos armadores têm preferido interromper a sua atividade nesta zona e optar por um itinerário alternativo, que passa pelo Cabo da Boa Esperança sul-africano, muito mais longo e, portanto, mais caro.

Além disso, outra região está sendo afetada, neste caso por um fator climático. A seca que atingiu o Canal do Panamá desacelerou consideravelmente o tráfego de navios entre a Ásia e os Estados Unidos.

Em tempos normais, cerca de quarenta navios passam pelo Canal todos os dias. Esse número foi reduzido para 24 atualmente.

Atrasos e paralisações

Várias empresas já alertaram para atrasos nas suas entregas, entre elas a gigante sueca de móveis Ikea. "A situação no Canal de Suez vai causar atrasos", afirmou a empresa em um e-mail enviado à AFP.

A fabricação de automóveis está sendo igualmente interrompida.

A Tesla informou que a sua produção ficará suspensa por duas semanas na sua fábrica europeia, entre 29 de janeiro e 11 de fevereiro. A fábrica da Volvo em Gante, na Bélgica, planeja fechar por três dias este mês, por falta de caixas de câmbio, cuja entrega foi atrasada por "reajustes nas rotas marítimas".

"As empresas de bens de capital ou de eletrônica podem sofrer atrasos. E para aquelas que trabalham em um ritmo frenético e com pouco estoque, a situação pode ser problemática", confirma Ano Kuhanathan, economista da Allianz Trade, à AFP.

Na Espanha, a Associação de Fabricantes e Distribuidores (AECOC) anunciou que vários setores anteciparam as suas encomendas de determinadas matérias-primas e mercadorias, como mobílias e produtos têxteis, com os quais já observam problemas de entrega. O objetivo, destacou a aliança, é "evitar interrupções na cadeia de abastecimento".

Até o transporte de gás natural liquefeito será "afetado" pela escalada no Mar Vermelho, alertou nesta terça-feira o primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abdulrahman Al Thani, um dos principais produtores mundiais, no Fórum de Davos.

Pressões inflacionárias

As companhias de navegação aumentaram significativamente as suas tarifas para cobrir as despesas devido à crise atual.

Um dos índices de referência para medir o custo do frete de mercadorias enviadas da China, o Shanghai Containerized Freight Index (SCFI), dobrou em um mês.

O custo adicional do combustível é estimado em 20%, segundo o Container xChange.

Esta plataforma logística estima que a crise no Mar Vermelho poderá aumentar os custos do transporte marítimo em 60%, com um bônus de cerca de 20% para o seguro dos armadores.

Tudo isso alimenta receios de uma inflação renovada.

O centro de análise Oxford Economics estima que tudo isso poderá acrescentar sete décimos à inflação mundial no final deste ano, na hipótese de que "o Mar Vermelho esteja fechado aos navios durante vários meses e os custos de transporte permaneçam em torno do dobro dos preços de dezembro".

Tudo dependerá, portanto, da duração da crise.

"Contornar a África e não passar mais pelo Canal de Suez é mais caro e demorado. Mas no momento é mais um problema de segurança do que de logística", disse Siegfried Russwurm, presidente da BDI, a organização dos industriais alemães, na terça-feira.

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