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Após demissões em massa no Estado, governo Milei enfrenta protestos e ameaças de greve

Servidores afastados tentaram ocupar ministérios em Buenos Aires e foram reprimidos por forças de segurança

Javier Milei, presidente da Argentina (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina (Luis Robayo/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 4 de abril de 2024 às 19h36.

Última atualização em 4 de abril de 2024 às 19h44.

Depois de a Casa Rosada ter confirmado, esta semana, que desde a chegada de Javier Milei ao poder, em dezembro de 2023, cerca de 15 mil servidores públicos não tiveram seus contratos de trabalho renovados, movimentos sociais e sindicatos redobraram sua ofensiva contra o governo. Esta semana, grupos de ex-trabalhadores do Estado tentaram ocupar ministérios em Buenos Aires e foram reprimidos por forças de segurança.

Algumas cenas que viralizaram em redes sociais mostraram organismos como o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) ocupados por forças de segurança, que exigiram a cada trabalhador sua documentação, para confirmar que a pessoa não estava na lista dos despedidos durante a Semana Santa. Manifestações pacíficas, por exemplo, em frente ao Congresso Nacional, foram reprimidas pela polícia.

A tensão está escalando, em meio a negociações do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), nas quais a Casa Rosada pretende conseguir a antecipação de pagamentos para continuar financiando um programa econômico que ainda não mostra sinais de recuperação. O sindicato dos professores realiza uma greve nacional nesta quinta-feira, o dos caminhoneiros ameaçou “paralisar" o país semana que vem, e a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) analisa futuras ações. Com este pano de fundo, o governo também tenta uma aproximação com os governadores que facilite a aprovação de um novo projeto de reformas no Parlamento — entre elas uma profunda mudança nas normas trabalhistas.

A crise pela demissão em massa de servidores levou à renúncia da agora ex-subsecretária de Trabalho, Mariana Hortai Sueldo, que alegou “motivos pessoais” para solicitar seu afastamento em momentos de fortes embates entre a Casa Rosada e importantes sindicatos locais. Nesta quinta, a ATE anunciou uma greve geral para esta sexta, em repúdio aos cortes implementados pelo governo de Milei.

Nas redes sociais, sindicalistas argentinos avisaram que a mobilização dos trabalhadores estatais está apenas começando. "Os demitidos entraram [aos ministérios e órgãos públicos] abraçados e chorando. O presidente deve saber que essas lágrimas que foram derramadas não serão em vão”, escreveu em sua conta na rede X (ex-Twitter) o secretário-geral da ATE, Rodolfo Aguiar.

Na conta da ATE, o sindicato afirma que “as demissões têm uma clara marca de gênero, deixando, em sua maioria, mulheres que sustentam suas famílias sem renda. Também vale esclarecer que os contratos não renovados não chegam ao salário mínimo, deixando sem recursos famílias que mesmo com emprego viviam abaixo da linha da pobreza”.

Segundo informações publicadas pela imprensa local, longe de recuar Milei pretende continuar avançando com as demissões no Estado. Em reunião com seus ministros, esta semana, o presidente orientou todo o gabinete, de acordo com reportagem do jornal El Cronista, a continuar cortando postos de trabalho nos próximos meses. “Aconteça o que acontecer, temos de continuar avançando para alcançar o déficit [fiscal] zero, porque assim as metas de recuperação da economia serão cumpridas e vamos melhorar a situação da Argentina”, disse Milei a seus ministros, segundo o jornal argentino.

A União de Servidores Civis da Nação (UPCN, na sigla em espanhol), apresentou um recurso na Justiça para pedir que as demissões sejam suspensas. Os sindicatos argentinos estão dispostos a tudo, até mesmo a convocar uma segunda greve geral contra o governo de Milei (a primeira foi em 24 de janeiro), apesar de o chefe de Estado ainda contar com uma expressiva base de apoio social. Segundo recentes pesquisas, a imagem positiva do presidente está entre 48% e 50%, e quase 40% dos argentinos acreditam que Milei conseguirá derrotar a inflação, hoje o principal problema que afeta a classe média e os setores mais vulneráveis da Argentina.

Lideranças sindicais estão em estado de alerta, avaliando a convocação de novas paralisações. O sindicato dos caminhoneiros é um dos mais combativos e um de seus principais dirigentes, Pablo Moyano, anunciou que se o governo não der seu aval ao acordo de reajuste salarial fechado com empresas privadas — que prevê um aumento de 45% — a Argentina ficará paralisada.

"Se o acordo não for autorizado nem uma folha vai se mexer no país", ameaçou Moyano, filho do histórico líder dos caminheiros argentino Hugo Moyano.

O dirigente peronista e líder de grupos da sociedade civil Juan Grabois, é outro dos mais duros críticos do governo de Milei na mídia e nas redes sociais. Em seus últimos posts, Grabois disse que todos os dias recebe mensagens de pessoas pedindo ajuda: “São famílias que ficaram sem renda, famílias desesperadas, ainda por cima humilhadas por um discurso oficial no qual todos são acusados de não trabalhar ou de seus trabalhos sáo corruptos”.

Do lado do governo, a narrativa é diametralmente oposta. O porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que por trás de cada demissão “existe um contribuinte que sustenta [esse servidor] e tem problemas para chegar ao fim do mês”.

"Isso não é justo… o que estamos fazendo é parte do plano para reduzir os gastos públicos, para que os servidores que não sejam necessários não continuem recebendo recursos do Estado", declarou Adorni.

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