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Apoiado por manifestantes, Nobel da Paz vai liderar governo interino em Bangladesh

Muhammad Yunus vai comandar o país depois de a primeira-ministra, Sheikh Hasina, no poder há 15 anos, ter fugido após onda de protestos

Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, diz estar disposto a assumir governo interino de Bangladesh (AFP)

Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, diz estar disposto a assumir governo interino de Bangladesh (AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 6 de agosto de 2024 às 19h04.

Última atualização em 6 de agosto de 2024 às 19h28.

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O vencedor do Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, de 84 anos, vai liderar um governo interino em Bangladesh, anunciou a Presidência do país um dia depois que os militares tomaram o controle em meio a uma onda de protestos que derrubou o governo de Sheikh Hasina.

A decisão de "formar um governo interino" chefiado por Yunus foi tomada em uma reunião entre o presidente, Mohamed Shahabudin, os comandantes militares e os membros do movimento estudantil que lideraram as manifestações.

O nome de Yunus, economista laureado com o Nobel em 2006 pela criação de um sistema de microcréditos para pessoas pobres, à frente do governo era uma exigência dos líderes estudantis. Em declaração escrita enviada à AFP, o Nobel disse que "a confiança dos manifestantes” o comoveu.

"Sempre mantive a política a distância (...) Mas hoje, se for necessário agir em Bangladesh, pelo meu país e pela coragem do meu povo, então o farei", garantiu o Nobel, que também pediu a realização de eleições "livres".

Yunus é conhecido por ter tirado milhões de pessoas da pobreza por meio da concessão de microcréditos, iniciativa que também o rendeu o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia, em 1988. Hasina, no entanto, o acusava de "sugar o sangue" dos pobres.

A ex-primeira-ministra, de 76 anos, estava no poder há 15 anos, mas seu último mandato, que começou em janeiro, foi marcado pelo boicote da oposição às eleições, que segundo eles não eram livres e justas.

Nesta segunda-feira, ela renunciou ao cargo e fugiu de Bangladesh sob pressão da onda de protestos que começou no início de julho com um movimento estudantil contra um sistema de cotas para funcionários, mas que evoluiu rapidamente para uma mobilização mais ampla contra o governo.

O chefe do Exército, general Waker Uz Zaman, anunciou, também ontem, que os militares formariam um governo interino — que agora será liderado por Yunus. Enquanto isso, o presidente, Mohamed Shahabudin, anunciou, nesta terça, a dissolução do Parlamento, uma das principais exigências dos estudantes e da principal formação de oposição, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP).

Ambos pedem que novas eleições sejam convocadas nos próximos três meses.

Polícia pede ‘perdão’

O Exército reestruturou nesta terça-feira a cúpula militar e destituiu altos comandantes considerados próximos de Hasina. Também retirou do cargo Ziaul Ahsan, um oficial envolvido no Batalhão de Ação Rápida, uma força paramilitar sob sanções dos Estados Unidos por acusações de violar os direitos humanos.

Em um comunicado publicado nesta terça-feira, o principal sindicato da polícia de Bangladesh pediu "desculpas" por ter disparado contra estudantes. A federação afirmou que os policiais foram obrigados a "abrir fogo" contra os jovens e que, depois, foram apresentados como os "vilões".

Desde o início das mobilizações pelo país, pelo menos 432 pessoas morreram, segundo um levantamento da AFP com base em relatórios da polícia, autoridades e médicos em hospitais. A onda de protestos terminou com a fuga de Hasina em um helicóptero após os manifestantes invadirem a residência oficial.

Apenas nesta segunda-feira, os confrontos deixaram ao menos 122 mortos e, apesar de a situação ter se tornado menos tensa nesta terça, com a reabertura do comércio e a suspensão do toque de recolher, houve o registro de dez novas mortes.

No final do dia, ontem, as pessoas detidas durante as manifestações e a principal rival política de Hasina, a ex-primeira-ministra Khaleda Zia, do BNP, que esteve anos em prisão domiciliar, foram libertadas.

Além disso, milhões de pessoas tomaram as ruas da capital, Daca. Os manifestantes invadiram o Parlamento e incendiaram estações de televisão. Alguns destruíram estátuas do pai de Hasina, Sheikh Mujibur Rahman, que liderou a luta pela independência contra o Paquistão em 1971.

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