Joe Biden: favorito nas pesquisas, o candidato democrata promete aumentar os impostos para as empresas e dar mais proteção aos trabalhadores (Brendan Smialowski/AFP)
À medida que se aproxima a eleição presidencial americana, marcada para 3 de novembro, e com o democrata Joe Biden mantendo a dianteira em relação ao republicano Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto, os investidores de Wall Street ficam mais apreensivos. Afinal, Trump, o atual ocupante da Casa Branca, é visto no mercado como um candidato mais "amigável" aos negócios. A seguir, veja cinco motivos para os investidores perderem o sono diante da possível vitória de Biden em novembro:
Trump costuma se gabar de ter promovido “o maior corte de impostos na história americana”. Na realidade, em termos de porcentagem do PIB, a redução de impostos em seu governo (0,9%) foi apenas a oitava maior na história dos Estados Unidos (em 1981, por exemplo, Ronald Reagan cortou impostos equivalentes a 2,89% do PIB). Quando se consideram apenas os impostos corporativos, porém, Trump, de fato, fez até hoje o maior corte ao reduzir a alíquota de 35% para 21%.
Biden já disse que considera “ridícula” a alíquota de 21% dos impostos cobrados das empresas. Se eleito, ele planeja aumentá-la para 28%. Além disso, quer elevar a alíquota máxima do imposto de renda de pessoas físicas de 37% para 39,6%, taxar mais pesadamente os ganhos de capital e reduzir as brechas legais que permitem deduções de impostos pelas grandes corporações. Com isso, Biden aumentaria a arrecadação fiscal do país em 3 trilhões a 4 trilhões de dólares em dez anos. Esse dinheiro serviria para cobrir os aumentos dos gastos planejados em áreas como saúde, educação, meio ambiente e infraestrutura.
Biden tem afirmado que sua eleição vai representar “o fim da era do capitalismo dos acionistas” – no qual a busca do lucro, ou a maximização do retorno aos donos das ações de uma empresa, é o principal condutor dos negócios. O que o candidato democrata apregoa é que uma empresa deve ter responsabilidade também “com seus trabalhadores, com a comunidade, com o país”.
É um discurso que assusta alguns investidores da bolsa, que temem reduzir seus ganhos. Trump, é claro, tem colocado mais lenha na fogueira, afirmando que os investimentos em ações vão se “desintegrar” caso Biden vença a eleição. Um estudo do banco Goldman Sachs estimou que, se o democrata colocar em prática seu plano fiscal, o lucro por ação das empresas que compõem o índice S&P 500 diminuiria em cerca de 12%.
A favor de Biden, um dado histórico: desde 1900, o índice Dow Jones teve uma alta média de 6,7% ao ano com presidentes democratas, ante apenas 3,5% de aumento com presidentes republicanos. Esse mesmo índice subiu até agora menos de 10% durante o governo Trump, abaixo dos 12% de alta registrada durante a administração de seu antecessor, o democrata Barack Obama.
Biden afirma que pretende implantar em nível federal uma legislação similar à que entrou em vigor no estado da Califórnia em 1º de janeiro deste ano, dando maior proteção social aos trabalhadores freelancers. A lei, conhecida como AB5, obriga as empresas a contratarem os trabalhadores autônomos que executem tarefas relacionadas à atividade-fim da companhia e que com ela mantenham uma relação de subordinação.
“Todos os trabalhadores têm o direito de negociar bons salários, benefícios e condições de trabalho — incluindo os gig workers”, disse Biden em setembro do ano passado, quando a lei foi aprovada na Califórnia. Gig workers são aqueles trabalhadores que fazem “bicos”, prestam serviços temporários ou atuam em um esquema mais flexível, como os motoristas de aplicativos.
Como empregados, esses trabalhadores passam a contar com garantia de salário mínimo e pagamento de horas extras, além de benefícios como um plano de saúde. Para as empresas, tudo isso, naturalmente, representa um aumento de custos. Na Califórnia, várias empresas dispensaram seus freelancers antes de a nova lei entrar em vigor.
Os Estados Unidos são o maior produtor de petróleo do mundo – extrai 12,2 milhões de barris por dia, quase 15% da produção global. Esse setor, responsável por quase 8% do PIB americano, tem contado com a ajuda valiosa do governo Trump, que eliminou ou relaxou cerca de 70 normas ambientais que criavam algum embaraço para a produção de petróleo e gás. Outras 30 normas para o setor estão sendo revistas atualmente, segundo um levantamento do jornal The New York Times.
Defensor dos combustíveis fósseis, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Clima de Paris, que traça metas globais para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. Mais sintonizado com as causas ambientais, Biden promete dar prioridade à produção de energias renováveis. Seu plano de governo prevê investimentos de 2 trilhões de dólares em quatro anos para aumentar o uso de energia limpa no país. E, em 15 anos, pretende zerar a emissão de carbono decorrente da produção de energia elétrica.
Biden afirma que, se eleito, vai proibir novas autorizações de exploração de petróleo e gás em terras e águas públicas. Ele também promete proteger áreas que Trump tem procurado abrir para a exploração de petróleo e gás, como o Alasca e o leste do Golfo do México. Segundo uma estimativa da consultoria Wood Mackenzie, a proibição de novos arrendamentos e perfurações de poços de petróleo poderá significar uma perda, no mínimo, de 76 bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos.
A primeira grande viagem internacional de Trump ao assumir a presidência dos Estados Unidos teve como destino o Oriente Médio. Ali, em maio de 2017, ele assinou com a Arábia Saudita o maior contrato de venda de armas da história americana, no valor de 110 bilhões de dólares. Em 2019, o Congresso apresentou um projeto de lei para impedir a exportação de armas para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, sob a justificativa de que os armamentos estavam sendo usados para matar civis no Iêmen. Trump vetou a proposta.
Biden afirma que adotaria uma posição diferente. Em novembro do ano passado, durante um debate de pré-candidatos democratas, ele fez duas promessas caso chegue à Casa Branca: barrar a venda de armas à Arábia Saudita e responsabilizar o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto em 2018 no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.
Os Estados Unidos são o maior exportador de armas do mundo (cerca de 47 bilhões de dólares por ano) e reúnem as três maiores fabricantes do setor (Lockheed Martin, Boeing e Raytheon), todas com ações na bolsa de Nova York. A Arábia Saudita é a maior compradora de armas do mundo, absorvendo 10% das exportações americanas nessa área. Entende-se por que a indústria bélica é uma das mais preocupadas com a possível chegada de Biden à Casa Branca.