Após 27 anos, a Nike retornou ao Super Bowl com a campanha "So Win", que celebra e destaca atletas femininas. (Divulgação/Nike)
Professor e colunista
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 16h34.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 16h59.
No mundo hiperconectado, conteúdos exibidos em um canal de TV podem alcançar uma audiência internacional caso sejam compartilhados nas redes. É isso que costuma acontecer no Super Bowl. Com uma audiência que supera os 120 milhões de espectadores, o evento oferece às marcas uma plataforma incomparável para lançar campanhas que se tornam tão aguardadas quanto o próprio jogo.
Este fenômeno cria um efeito de reverberação nas redes sociais, onde os comerciais exibidos nos Estados Unidos ganham uma segunda vida, sendo analisados, compartilhados e parodiados por milhões de pessoas em plataformas como YouTube, X e Instagram. Esse impacto amplificado, solidifica a presença das marcas no imaginário coletivo global.
A Polis Consulting desenvolveu um dashboard exclusivo para esta matéria por meio da plataforma Brandwatch, mapeando quais comerciais exibidos nos EUA repercutiram no Brasil. O estudo mostrou que, mesmo sem transmissão direta, campanhas criativas e inovadoras conseguem ressoar entre o público brasileiro.
No Brasil, o relatório de monitoramento identificou mais de 210 mil menções envolvendo o termo Super Bowl, originadas de quase 85 mil autores diferentes. Essas menções são provenientes de postagens públicas em redes sociais e sites, principalmente das plataformas X, Facebook, YouTube, Instagram, sites de notícias, Reddit, entre outros.
Segundo o algoritmo da plataforma Brandwatch, o alcance estimado superou 340 milhões de visualizações, evidenciando o impacto não apenas do evento esportivo, mas também de fatores como o show de Kendrick Lamar e a presença de nomes como Donald Trump, Taylor Swift, Serena Williams e SZA.
O monitoramento de social listening realizado durante as 24 horas após o Super Bowl revelou que, globalmente, as marcas mais citadas foram:
A Nike teve destaque não só pelo comercial enaltecendo atletas mulheres, mas também por menções sobre o rapper Kendrick Lamar que estava usando um tênis da marca. A Pfizer gerou reações mistas, com alguns espectadores emocionados e outros críticos, recordando o lucro da empresa com medicamentos para controle do câncer. Já a Jeep foi lembrada nas redes com elogios pelo seu filme publicitário com o ator Harrison Ford e o discurso bastante patriótico.
No cenário brasileiro, as marcas que mais se destacaram em termos de repercussão foram:
O volume de menções é significativamente mais baixo do que os números globais, contudo o alcance é grande. Juntas, somente as três marcas mais citadas alcançam cerca de 4,5 milhões de visualizações estimadas.
A campanha da Jeep repercutiu no Brasil pelo tom patriótico e as referências à liberdade, elementos que encontraram eco no público local. Já a Disney atraiu atenção com a aparição do personagem principal de Lilo & Stitch em meio ao campo de futebol americano, gerando comentários e engajamento. A Nike também teve um impacto significativo ao voltar ao Super Bowl após 27 anos com uma campanha que destacava as mulheres atletas, amplamente elogiada.
Outro destaque do relatório foi a Budweiser, que também obteve um alcance significativo no Brasil (1,2 milhões) com uma campanha que retomou a tradicional série de comerciais com cavalos da raça Clydesdale. No entanto, a publicação com maior alcance estimado foi do perfil @brasilparalelo, sugerindo que a Budweiser teria abandonado pautas progressistas, o que demonstra como percepções políticas influenciam a propagação.
Sob esse aspecto, ao analisar as publicações especialmente na plataforma X, observa-se que campanhas de marcas como Budweiser, Jeep e Doritos foram utilizadas para destacar ideais conservadores. Isso demonstra que a ressonância de uma pauta ideológica pode se manifestar em diversos aspectos da cultura, incluindo apropriação de propagandas de marcas para reforçar determinados valores e crenças.
O comercial polêmico de Kanye West exibido durante o Super Bowl foi veiculado em mercados específicos como a cidade de Los Angeles. Ele não foi transmitido nacionalmente nos Estados Unidos, o que permitiu um custo menor e, possivelmente, um processo de conferência menos rigoroso. Foi praticamente um golpe na emissora Fox, pois somente após a exibição do comercial é que o site da marca Yezzy trocou a página de entrada por outra que apresentava um único produto à venda: uma camiseta com símbolo antissemita.
A ação do rapper gerou reações negativas e discussões nas redes sociais devido à natureza ofensiva do produto. No Brasil, a marca Yezzy não foi a mais mencionada, mas foi a primeira em alcance, chegando a 3,2 milhões de visualizações estimadas.
A System1 Group, empresa global de pesquisa de marketing, utiliza uma ferramenta baseada em inteligência artificial (IA) para testar anúncios publicitários e medir seu impacto emocional, a fim de prever o potencial comercial de ideias e campanhas publicitárias. Nesse contexto, o estudo realizado pela System1 apontou a Lays como a marca que desenvolveu um filme publicitário com o melhor desempenho de resposta emocional nesta edição de 2025 do Super Bowl.
O confronto entre o estudo da System1 e o relatório de social listening da Polis Consulting mostra que comerciais com forte envolvimento emocional não são, necessariamente, aqueles que resultarão em melhor propagação espontânea.
Os dados ainda destacam a importância de estratégias de engajamento eficazes e a capacidade de captar a atenção do público durante eventos de grande escala como o Super Bowl. Ao inserir elementos que favorecem a propagação espontânea, a marca transcende as fronteiras da mídia em que foi exibida, impactando e influenciando audiências ao redor do mundo.