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Diante de alta do petróleo, gestora de R$ 8 bi aumenta aposta em commodities do futuro

Empresas de lítio, urânio e grafite compõem a maior posição da Ace Capital; investimento tem como tese a mudança de matriz energética

Tiago Cunha, gestor de ações da Ace Capital: "catalizadores da guerra na Ucrânia nos levaram a investir na Cameco" (Leandro Fonseca /Exame)

Tiago Cunha, gestor de ações da Ace Capital: "catalizadores da guerra na Ucrânia nos levaram a investir na Cameco" (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 31 de outubro de 2023 às 14h18.

Última atualização em 1 de novembro de 2023 às 08h08.

Enquanto as discussões sobre o preço do petróleo tem pautado o mercado internacional nas últimas semanas, a gestora Ace Capital, com mais de R$ 8 bilhões investidos, tem olhado para o outro lado das commodities. A gestora até tem alguma posição no setor de petróleo, mas a grande aposta são nas produtoras de lítio, grafite e urânio. Tiago Cunha, gestor de ações da Ace, contou em entrevista à Exame Invest que a tese tem como base a mudança de matrizes energéticas, além de ajudarem a blindar o portfólio contra a inflação.

"Os catalizadores da guerra na Ucrânia nos levaram a investir na Cameco, que é uma empresa de urânio. A guerra entre a Ucrânia e a Rússia tem forte influência sobre pela dependência da Europa em gás russo, o que levanta a necessidade de uma matriz de energia mais autônoma", afirmou Cunha. Essa busca, disse, deve aumentar a demanda por energia nuclear e, consequentemente, por urânio e grafite. 

Além de sua utilidade em usinas nucleares, o grafite, assim como o lítio, também é uma matéria prima importante na fabricação de baterias para carros elétricos. A exposição da Ace ao mercado de grafite é feita por meio da minerado South Star Battery Metals, que tem uma mina na Bahia. Em urânio, a aposta é na Cameco e, em lítio, na Sigma Lithium, que ocupa a maior posição na carteira de ações da gestora.

Quanto ao cenário macroeconômico, Cunha acredita que a dificuldade em devolver a inflação americana para a meta de 2% deve levar o Federal Reserve (Fed) a manter a taxa de juro alta por mais tempo. Isso, segundo, ele pode limitar o espaço para cortes de juros por parte do Comitê de Política Monetária (Copom).

"É possível que haja algum tipo de comunicação indicando a discussão sobre o impacto de fatores externos na extensão do ciclo de cortes. Dificilmente haverá mudança no tamanho do corte de forma brusca, mas condicionalmente, o aspecto crítico do tamanho do ciclo está em discussão", afirmou.

Leia a entrevista com Tiago Cunha, gestor de ações da Ace Capital.

Tiago Cunha: "O ambiente tem sido marcado por um ruído externo, decorrente de eventos políticos e macroeconômicos, além das complexidades de duas guerras em curso" (Leandro Fonseca /Exame)

Como o senhor tem visto o cenário econômico?

O ambiente tem sido marcado por um ruído externo, decorrente de eventos políticos e macroeconômicos, além das complexidades de duas guerras em curso. Há uma grande influência das taxas de juros americanas. A grande questão é: até que ponto as taxas de juros devem subir para combater a inflação e por quanto tempo devemos mantê-las em um equilíbrio de longo prazo. Esses fatores têm gerado uma significativa volatilidade no cenário global.

Como a discussão de juro alto por mais tempo nos Estados Unidos influencia o mercado brasileiro?

O corte de juros, hoje, depende muito das condições externas. Anteriormente se pensava em reduzir a Selic para 7%, mas essa queda para é inviável se a taxa de juros nos Estados Unidos for de 6%. As taxas de juros também têm um impacto significativo no mercado cambial, já que a taxa de câmbio responde às taxas de juros. A desvalorização do real, por exemplo, levaria à inflação. Todas essas variáveis têm implicações diretas na decisão do Banco Central de cortar as taxas de juros.

Já vimos uma revisão para cima da Selic para este e o próximo ano no último Focus? Preocupações sobre juros altos por mais tempo nos Estados Unidos podem ganhar mais relevância no comunicado do Copom desta semana?

É possível que haja algum tipo de comunicação indicando a discussão sobre o impacto de fatores externos na extensão do ciclo de cortes.

Dificilmente haverá mudança no tamanho do corte de forma brusca, mas condicionalmente, o aspecto crítico do tamanho do ciclo está em discussão.

No meio disso tudo, ainda atravessamos duas guerras importantes. Vocês fizeram alguma mudança de portfólio devido aos conflitos?

Os catalizadores da guerra na Ucrânia nos levaram a investir na Cameco, que é uma empresa de urânio. Isso não se relaciona diretamente com armas nucleares, mas sim com uma mudança na matriz de energia, que, em nossa opinião, tende a se tornar mais nuclear. A guerra entre a Ucrânia e a Rússia tem forte influência sobre pela dependência da Europa em gás russo, o que levanta a necessidade de uma matriz de energia mais autônoma.

Quanto ao Oriente Médio, é uma região propensa a diversos tipos de conflito. Nesse caso, o principal foco está relacionado às sanções que o Irã eventualmente sofrerá, se seu envolvimento no ataque do Hamas for comprovado. No curto prazo, se o conflito se espalhar, o preço do petróleo pode ficar mais pressionado, dependendo das respostas do Irã e da Arábia Saudita.

O petróleo pode subir ainda mais?

Recentemente, houve uma queda no preço do petróleo porque Israel decidiu adiar sua entrada em Gaza. Isso pode estar relacionado à pressão dos Estados Unidos de evitar um confronto sangrento. Isso reduz a chance de envolvimento de outros países árabes no conflito. Se esses outros países não entrarem na guerra, não há pressão sobre o preço do petróleo.

Tem alguma posição em petróleo?

Temos 3R e Petrobras. Aumentamos recentemente, mas devido a fatores relacionados à empresa e não ao cenário.

Onde o senhor está mais confortável em investir nesse cenário?

Temos uma grande posição em lítio, grafite e urânio. Esses ativos são boas proteções em cenários de inflação e transição energética. 

O lítio é usado em baterias de veículos elétricos, enquanto o urânio é relevante para a energia nuclear. E o grafite?

O grafite é um pouco das duas coisas. As baterias têm mais peso de grafite do que de lítio e ele também é utilizado em reatores nucleares

Cerca de 90% da produção mundial de grafite vem da China, e qualquer tipo de exportação de grafite requer autorização prévia. O preço do grafite tende a crescer e o Brasil está bem posicionado nesse aspecto. Estamos posicionados em grafite por meio da South Star Battery Metals, que tem uma mina no Brasil e está listada no Canadá. No lítio, temos Sigma Lithium.

Na bolsa brasileira, onde estão as maiores posições?

Temos grande interesse em empresas reguladas, especialmente aquelas com possibilidades de privatização, como Sabesp e Copel. Também gostamos de Eletrobras, que já foi privatizada, mas segue negociada como estatal. O risco de interferência governamental na empresa está superestimado. 

E em qual setor o senhor tem menos confiança em investir?

Apesar de já ter acompanhado bastante, ainda não estamos confortáveis com o varejo. A depender do que sair da reforma tributária, tem potenciais negativos importantes para o setor. Olhando para a atividade, começa a se ver desaceleração. Acreditamos que isso pode pegar bastante no próximo ano, especialmente olhando múltiplos do varejo, que sempre com embutem algum crescimento esperado para a frente. Se o crescimento falhar, deve haver revisão de múltiplos e algum tipo de pressão sobre as ações. 

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