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Com inflação alta, Tesouro Selic e CDBs têm 2 meses de rendimento negativo

Taxa Selic e CDI perderam para a inflação em novembro e em dezembro e, em janeiro, rentabilidade real deve ser zero

Desde 1996, juros reais mensais só foram negativos 24 vezes (Getty Images/Getty Images)

Desde 1996, juros reais mensais só foram negativos 24 vezes (Getty Images/Getty Images)

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Juliana Elias

Publicado em 26 de dezembro de 2019 às 05h01.

Última atualização em 26 de dezembro de 2019 às 06h01.

São Paulo - Os cortes na taxa básica de juros da economia, a Selic, já fazem com que a poupança tenha rendimento real negativo ao longo do ano, isto é, ela já rende menos do que a inflação e, na prática, é como se o investidor estivesse perdendo dinheiro.

O aumento imprevisto da inflação nos últimos dois meses, entretanto, por conta de uma pressão vinda de um choque no preço das carnes, faz com que mesmo outras opções de renda fixa que rendem um pouco mais do que a poupança também tenham começado a ficar no negativo em termos reais.

É o caso do Tesouro Selic, título mais negociado do Tesouro Direto e que rende exatamente a Selic, e de CDBs, LCAs e LCIs que remuneram pouco mais do que o CDI, taxa de referência do sistema bancário que anda colada à Selic.

Atualmente, tanto o CDI quanto a Selic rendem 0,38% ao mês - no início de dezembro, a Selic foi reduzida a 4,5% ao ano. Em novembro, o IPCA, índice oficial de preços do país, foi de 0,51% e, em dezembro, a projeção é que fique em 0,8%.

Isso significa que a remuneração tanto do Tesouro Selic quanto de aplicações de renda fixa que pagam 100% do CDI ficaram negativas nesses meses: em novembro, a perda real foi de 0,13% e, em dezembro, deve ser de 0,42%. Em janeiro, a projeção de mercado é de que a inflação perca um pouco de força e fique em 0,38%, o que, no melhor dos cenários, deixa esses investimentos com ganho zero.

As contas foram feitas pela corretra Necton a pedido de EXAME. Elas consideram o rendimento bruto, quer dizer, antes de impostos. Tanto o Tesouro Selic quanto CDBs sofrem desconto de imposto de renda sobre os rendimentos, o que significa que o ganho líquido é ligeiramente menor e a perda para a inflação ainda maior.

O desconto de IR nessas aplicações é regressivo e varia de 22,5%, (para saques anteriores a 6 meses) até 15% (para saques posteriores a 2 anos) - para render 0,38% líquidos, já depois do desconto de IR, um CDB precisa pagar cerca de 120% do CDI. Para não dar prejuízo para o investidor em dezembro, quando o IPCA deve atingir a maior variação mensal do ano (0,8%), o CDB teria que remunerar mais de 200% do CDI, de acordo com a Necton. As LCAs e LCIs são isentas de IR.

Brasil à beira dos juros reais negativos

"A inflação vem de patamares muito baixos e, passado o efeito dos choques de preço da carne, deve voltar a ficar baixa nos próximos meses", disse Sabrina Cassiano, analista da Necton. Isso, explica, deve permitir que a Selic e o CDI voltem logo a ter rendimentos reais positivos. "No ano, o ganho real deve ser positivo, mas serão rendimentos, ainda assim, muito baixos e com muita volatilidade, podendo ficar negativo novamente em um mês ou outro."

Na prática, a Selic a 4,5% por ano, do ponto de vista dos poupadores, deixa muito pouca margem para a inflação subir - toda vez que o índice de preços passar dos 0,38% no mês, o rendimento real da Selic ou do CDI serão negativos. É por esse "aperto" entre um e outro que muitos economistas começaram a falar da possibilidade de juros reais no Brasil negativos, ou, ao menos, muito baixos.

Em 2019, nos cálculos da Necton, o ganho bruto do Tesouro Selic e do CDI, em um ano, será de 1,8% acima da inflação (considerando alta acumulada de 5,8% do CDI e de 3,9% do IPCA). A Selic e o CDI começaram o ano pagando 6,5% e foram sendo reduzidos aos poucos pelo Banco Central.

Em 2020, a margem promete ser ainda mais apertada: a taxa anual dos juros deve ficar em 4,5% o ano todo e a inflação deve ser próxima de 3,6%, nas projeções de mercado, o que significa lucros reais de apenas 1%.

Veja a variação dos juros e da inflação ao longo de 2019, ao mês:

jan/19fev/19mar/19abr/19mai/19jun/19jul/19ago/19set/19out/19nov/19dez/19jan/20
Juros nominais0,54%0,49%0,47%0,52%0,54%0,47%0,57%0,50%0,46%0,48%0,38%0,38%0,38%
Inflação (IPCA)0,32%0,43%0,75%0,57%0,13%0,01%0,19%0,11%-0,04%0,10%0,51%0,80%0,38%
Taxa Real0,22%0,06%-0,28%-0,05%0,41%0,46%0,38%0,39%0,50%0,38%-0,13%-0,42%0,00%

 

Menores juros reais desde 1996

Se confirmadas as projeções, o Brasil terá em 2020 um dos menores juros reais desde que a Selic foi criada, em 1996 - em alguns momentos de 2013 (quando os juros eram baixos, mas a inflação alta), os juros reais chegaram a ser de apenas 0,5% em 12 meses.

Considerada a variação mensal, os juros reais foram negativos em apenas 24 meses,dos 286 meses corridos desde 1996 até aqui. Destes 24, quatro foram em 2019 (março, abril, novembro e dezembro). O cálculo da série histórica dos juros reais foi feito pelo professor do Insper Michael Viriato para a EXAME.

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