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Carros compactos são naturalmente inseguros?

Resultados ruins em crash tests mostram que economia na compra de modelos sub compactos, como Ford Ka e Fiat Uno, pode não valer a pena pensando do ponto de vista da segurança


	Fiat 500 em teste de segurança realizado pelo Instituto de Seguros dos Estados Unidos para Segurança nas Estradas (IIHS)
 (Divulgação/IIHS)

Fiat 500 em teste de segurança realizado pelo Instituto de Seguros dos Estados Unidos para Segurança nas Estradas (IIHS) (Divulgação/IIHS)

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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2014 às 13h28.

São Paulo - Os resultados desastrosos dos carros sub compactos, como Fiat 500 e Honda Fit, em um importante teste de colisão realizado nos Estados Unidos deixam a dúvida: vale a pena comprar um carro desse tipo?

No teste do Instituto de Seguros dos Estados Unidos para Segurança nas Estradas (IIHS), dentre 11 carros da categoria, apenas um foi classificado em um nível considerado aceitável.

Os veículos de menor porte têm uma desvantagem inerente: pelas leis da física, a estrutura enxuta resulta em menor espaço de deformação, por isso eles tendem a absorver mais energia do que um carro grande em qualquer batida. 

Além disso, são veículos que, por serem menos equipados, na maioria dos casos também trazem menos itens de segurança no seu interior. Geralmente não possuem airbags laterais, por exemplo, e os sistemas de frenagem são mais simples. 

Mas, para Décio Assaf, membro da comissão técnica de Segurança Veicular da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), apesar da maior complexidade, é possível desenvolver um carro compacto sem abrir mão da segurança. 

“Com um projeto estrutural bem desenvolvido é possível proporcionar a um carro menor o mesmo nível de segurança de um carro maior. O Volkswagen Up! é um exemplo disso”, diz.

O Up! recebeu a classificação máxima de cinco estrelas nos testes de colisão (crash test) da entidade internacional Latin NCAP e entrou para o grupo dos carros mais seguros do Brasil. Ele começará a ser vendido no Brasil ainda neste ano.

O teste da NCAP avalia batidas laterais e frontais sob as perspectivas de segurança do condutor, do passageiro adulto no banco da frente e de dois ocupantes crianças em cadeirinhas no banco de trás. Trata-se do único tipo de crash test realizado no Brasil para mensurar a segurança dos ocupantes em batidas.

Décio Assaf afirma que os crash tests são a melhor referência para consumidores que priorizam segurança na hora da compra. “O ideal seria que o comprador sempre consultasse os resultados desses testes e só optasse por carros que tivessem pelo menos nível quatro ou cinco estrelas”, afirma.

Infelizmente, dentre os veículos de entrada do mercado nacional, apenas o Up!, que ainda não começou a ser vendido por aqui, possui essa qualificação. No segmento, as melhores qualificações entre os que já são vendidos foram obtidas pelo Volkswagen Gol e pelo Fiat Palio, que ficaram com três estrelas no resultado para adultos e duas estrelas para crianças.

Na tabela a seguir estão os resultados dos carros testados pelo Latin NCAP que fazem parte da categoria sub compacto, segundo classificação do Inmetro. 

Carro Resultado adulto Resultado criança
VW Gol (versão Trend 1.6) 3 estrelas (c/ airbag) 1 estrela (s/airbag) 2 estrelas (com e sem airbag)
Fiat Uno (versão Evo sem airbag) 1 estrela 2 estrelas
Fiat Palio (ELX 1.4) 3 estrelas (c/ airbag) 1 estrela (s/airbag) 2 estrelas (com e sem airbag)
GM Celta (versão sem airbag) 1 estrela 2 estrelas
Renault Clio 3 estrelas (c/ airbag duplo) 0 estrelas (sem airbag) 1 estrela (com ou sem airbag)
Ford Ka (versão Fly Viral sem airbag ) 1 estrela 3 estrelas
Peugeot 207 (versão Compact 5P 1.4) 2 estrelas (c/ airbag) 1 estrela (s/ airbag) 2 estrelas (com e sem airbag)
Volkswagen Up! (versão com airbag duplo) 5 estrelas 4 estrelas
Nissan March (versão com airbag duplo) 2 estrelas 1 estrela

Fonte: Latin NCAP


Dentro do segmento sub compacto ainda não contam com a avaliação no Brasil os seguintes carros: smart, Mini, Fiat 500, Chery QQ, Chery Face, Kia Picanto e Volkswagen Fox.

O Honda Fit, considerado sub compacto nos Estados Unidos, é classificado como compacto pelo Inmetro. O modelo da Honda e o Fiat 500 obtiveram os piores resultados entre os 11 testados na categoria pelo IIHS.

Apesar de os modelos sub compactos tenderem a ficar com os piores resultados, mesmo em outras categorias é possível contar nos dedos das mãos os modelos que receberam classificação máxima do NCAP aqui no Brasil.

Além do Up!, apenas possuem cinco estrelas o Ford EcoSport, o Ford Focus terceira geração e o Volkswagen Jetta, sendo que estes dois últimos obtiveram cinco estrelas no resultado da segurança para os adultos e quatro estrelas para as crianças.

Justamente por isso, o Brasil tem sido tão criticado em relação à segurança veicular. Apenas neste ano o airbag e os freios ABS passaram a ser obrigatórios. Nos Estados Unidos, por exemplo, os airbags são exigidos desde 1998.

Mesmo sem muitas opções de carros com preços acessíveis e níveis de segurança minimamente aceitáveis, Décio Assaf é enfático ao dizer que o comprador não deve levar um veículo com resultados ruins nos crash tests.

“Para mim, o comprador deve desistir de um modelo mal avaliado, sem dúvidas. O mundo desenvolvido em geral entende que na hora de comprar um veículo um dos critérios principais é a segurança. Essa conscientização infelizmente não existe no Brasil”, diz o especialista.  

Para quem realmente preza por segurança, uma alternativa seria a compra de carros seminovos. Um Ford Ecosport 2013 (modelo que ganhou as cinco estrelas), por exemplo, pode ser comprado por 48.500 reais na versão 1.6, segundo valores da tabela Fipe.

Um Ford Fiesta ano 2012, que recebeu quatro estrelas, é vendido por 25.104 reais e um HB20 2013, que teve quatro estrelas, é vendido por 31.583 reais, também segundo preços divulgados pela tabela Fipe.

Os resultados dos crash tests podem ser consultados no site da Latin NCAP, no campo “Quão seguro é o seu carro”. Ao selecionar a opção “Todas as marcas” e “Todos os modelos” é possível visualizar a lista completa dos carros testados.

Caso o carro não tenha sido avaliado no Brasil, Assaf afirma que os testes internacionais podem ser usados como indicativos, mas infelizmente não garantirão a mesma precisão. “Alguns componentes do mesmo modelo podem ser mais sofisticados nos carros do exterior do que no Brasil e pode haver diferenças na linha de produção”, comenta. 

Na ausência de avaliações, optar por carros de maior porte pode ser uma alternativa, mas também não é um critério tão garantido quanto os crash tests. “É mais fácil obter resultados bons com veículos maiores, mas tudo depende do projeto da montadora. Veículos grandes também têm avaliações catastróficas em alguns casos”, afirma Assaf.

A dica pode ser válida, por exemplo, caso o comprador esteja em dúvida entre comprar um Toyota Corolla ou um smart, ambos com versões na faixa de 60 mil reais. Se a segurança for prioridade, mesmo que o smart não tenha sido testado pelo Latin NCAP, o Corolla será a melhor opção.

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