Imóveis em Pinheiros, São Paulo (SP) (Reprodução/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 21 de março de 2024 às 06h53.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 06h54.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros da economia de 11,25% para 10,75% ao ano. Esta é a sexta redução consecutiva da taxa, que começou a cair em agosto de 2023. Principal instrumento de controle da inflação, a Selic afeta todas as demais taxas praticadas pelo mercado. Com a redução da Selic, espera-se que o custo do crédito pese menos para as famílias brasileiras.
Mas como a queda da Selic vai, de fato, influenciar nas diferentes modalidades de crédito? Os juros do cartão de crédito e do cheque especial caem? E o financiamento da casa própria, já fica mais barato? O GLOBO ouviu especialistas que traçaram perspectivas para os juros no país. Veja a seguir:
Os juros praticados nas operações de crédito com recursos livres costumam acompanhar a trajetória da Taxa Selic, conforme apontam números compilados por Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a partir de dados do Banco Central.
Assim, a tendência é que os cortes que vêm ocorrendo na Selic continuem se refletindo em taxas bancárias menores às pessoas físicas. Desde que o Copom começou a cortar os juros, em agosto do ano passado, os juros têm ficado menos pesados na ponta.
Em janeiro deste ano, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas atingiu 52,42% — menor patamar desde junho de 2022.
— A cada movimento de 1 ponto percentual na Selic, isso corresponde a uma taxa de 2,5 pontos percentuais. Se a taxa Selic está com tendência contratada de queda até o fim do ano, isso sugere que a taxa de juros na ponta vai estar menor do que estava no final do ano passado — diz Bentes.
A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) calcula o efeito que a redução da Selic tem sobre algumas das principais modalidades de crédito, como cartão de crédito, cheque especial, CDC (crédito direto ao consumidor) para compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, a queda pontual da Selic na reunião desta quarta-feira tem impacto imperceptível no bolso do consumidor. No entanto, como o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, vem reduzindo os juros seguidamente, essas reduções têm um efeito importante na ponta.
Tem ficado menos custoso contrair dívidas na maioria das modalidades de crédito. Mas Oliveira alerta que é preciso distinguir o efeito sobre dívidas de curto e longo prazos. Quem está com valores em aberto no cheque especial ou no cartão de crédito deve aproveitar o momento de redução dos juros para quitá-las:
— Os juros do cartão de crédito e do cheque especial são muito elevados. No ano, o consumidor chega a pagar quatro vezes mais do que o valor da dívida original. Portanto, ele deve liquidar essa dívida o quanto antes, ou fazer um empréstimo para liquidar, pois vai encontrar juros menores e será melhor — diz o executivo.
Já no caso do financiamento da casa própria, a recomendação é esperar. Isso porque a expectativa do mercado é que o BC reduza ainda mais a taxa nos próximos meses, com a Selic encerrando o ano entre 9% e 9,5%.
Além disso, as taxas de juros aplicadas em financiamentos imobiliários são contratadas. Ou seja, mesmo que a Selic caia nos próximos meses, quem contratar um financiamento com a taxa atual não vai se beneficiar de uma nova redução dos juros mais à frente.
Numa simulação rápida, um brasileiro que hoje financia em 30 anos uma casa própria de R$ 200 mil, numa taxa de 10% ao ano, paga 360 parcelas de R$ 1.696,32 por mês. No total, ele desembolsa R$ 610.675,20.
No entanto, caso o consumidor decida aguardar mais dois ou três meses e haja uma queda de 0,5 ponto percentual na Selic, a prestação pode cair para R$ 1.626,54, e o total do financiamento é reduzido para R$ 585.554,40 — uma economia de pelo menos R$ 25 mil.
— A prestação cai pouco, mas a economia no financiamento de longo prazo é muito grande. Por isso, a não ser que seja necessário, é recomendado que ele adie para esperar uma taxa menor para efetuar o financiamento. Quem esperar vai se beneficiar mais lá na frente — avalia Oliveira, da Anefac.
Redução do juro ajuda quem está endividado, mas efeito sobre a economia tende a ser limitado
As seguidas reduções na taxa básica de juros permitem que as renegociações de dívidas se deem de forma mais barata e favorável ao consumidor, lembra Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
— Uma pessoa que fez um empréstimo quando a Selic estava 13,75% e está com dificuldades de pagar, pode renegociar essa dívida a um juro menor e a um prazo maior — afirma.
Ainda assim, o efeito da Selic sobre o crédito acaba sendo limitado neste momento em função do nível de inadimplência ainda alto no país. Há 72 milhões de brasileiros com contas em atrasado, segundo dados da Serasa. Este patamar está estagnado desde o segundo semestre do ano passado, afirma o economista:
— O que realmente reduz a inadimplência são as condições macroeconômicas. A inflação está controlada, os juros e o desemprego estão caindo e a renda está crescendo. Está tudo posicionado para que a inadimplência entre numa tendência de queda. O problema é que isso leva um certo tempo.