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Trading compra US$ 36 milhões em cobre e recebe pedras pintadas

A saga se desenrola como um thriller de organizações criminosas, e a operadora suíça diz que foi vítima de fraude de carga

O caso bizarro destaca a vulnerabilidade de operadores commodities à fraude, mesmo quando controles de segurança e inspeção estão em vigor (Sonali Paul/Reuters)

O caso bizarro destaca a vulnerabilidade de operadores commodities à fraude, mesmo quando controles de segurança e inspeção estão em vigor (Sonali Paul/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 11 de março de 2021 às 17h24.

A trading de commodities Mercuria Energy fechou um acordo em meados do passado para comprar US$ 36 milhões em cobre de um fornecedor turco. Mas, quando as cargas começaram a chegar à China, tudo o que encontrou foram contêineres cheios de pedras pintadas.

A saga se desenrola como um thriller de organizações criminosas, e a operadora suíça diz que foi vítima de fraude de carga. Antes mesmo da jornada de um porto perto de Istambul para a China começar, cerca de 6 mil toneladas de cobre em mais de 300 contêineres foram trocadas por pedras de pavimentação pontiagudas, pintadas com spray para que se parecessem com o metal semirrefinado.

O caso bizarro destaca a vulnerabilidade de operadores commodities à fraude, mesmo quando controles de segurança e inspeção estão em vigor. Em 2014 e 2015, a Mercuria fez provisões para cobrir perdas potenciais depois que o metal contido em um depósito no porto chinês de Qingdao foi apreendido por autoridades como parte de uma investigação de fraude.

A polícia turca prendeu 13 pessoas relacionadas ao esquema do cobre falso. A Mercuria, uma das cinco maiores tradings de petróleo independentes do mundo, busca indenização nos tribunais turcos e em um caso de arbitragem no Reino Unido contra o fornecedor do cobre, a Bietsan. Também entrou com uma ação criminal formal junto à polícia turca e promotores alegando substituição de carga e fraude de seguro, deixando que as autoridades determinem quem é o responsável.

Várias ligações para os escritórios da Bietsan, em Tekirdag, não foram atendidas. “Foram presos suspeitos de estarem envolvidos em várias partes desse crime organizado contra a Mercuria”, disse a empresa de Genebra em comunicado por escrito no qual agradeceu ao Departamento de Crimes Financeiros de Istambul.

A reportagem se baseou em documentos legais, entrevistas e reportagens da mídia local.

Cobre trocado

Em junho passado, a Mercuria concordou em comprar cobre da Bietsan, um fornecedor turco com o qual já havia feito negócios, de acordo com Sinan Borovali, advogado da trading na Turquia. Parece que o cobre foi inicialmente carregado na primeira remessa de contêineres, antes de ser inspecionado por uma empresa. Selos usados para evitar fraudes foram então afixados nos contêineres.

Mas, sob o manto da escuridão, alega-se que os contêineres foram abertos e o cobre substituído por pedras de pavimentação, disse em entrevista o escritório de advocacia KYB Borovali, de Istambul. Os fraudadores alternaram entre lacres de contêineres falsos e reais em um esforço para evitar a detecção.

Como os navios saíam do terminal de Marport no porto de Ambarli em intervalos de poucos dias, a mesma coisa acontecia: o cobre era secretamente descarregado à noite e substituído por pedras pintadas. “Foi assim que atuaram”, disse Borovali.

Com as embarcações no mar, a Mercuria pagou US$ 36 milhões em cinco parcelas, sendo o último pagamento feito em 20 de agosto de 2020, segundo documentos fornecidos pela trading de commodities a investigadores turcos. A fraude não foi descoberta até que os navios começaram a chegar ao porto chinês de Lianyungang no final daquele mês. Àquela altura, todos os oito navios estavam a caminho da China.

Crime organizado

“Houve uma petição de investigação criminal do comprador contra o vendedor e dois intermediários”, disse a polícia turca em comunicado. “Foi determinado que o incidente é resultado de fraude perpetrada de forma organizada.”

Normalmente, em tais casos de não entrega, uma trading pode fazer uma reclamação contra a apólice de seguro de uma carga. Mas a Mercuria descobriu que apenas um em cada sete contratos usados pela empresa turca para segurar a carga era real. O resto foi forjado.

Os 13 suspeitos de fraude foram presos neste mês em uma série de batidas policiais. Alguns, desde então, foram colocados em prisão domiciliar, de acordo com notícias de agência locais. Mais audiências sobre o caso são esperadas a partir desta semana.

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