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Seca de IPO continua enquanto apoio a Dilma cai

País não teve nenhuma abertura de capital neste ano, mesmo com o Ibovespa tendo o maior ganho entre os países do BRIC

Operador da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa: UBS diz que as empresas continuarão evitando realizar aberturas porque o rali do Ibovespa será efêmero (Marcos Issa/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 6 de maio de 2014 às 17h08.

Nova York/São Paulo - Os investidores que estão apostando no resultado da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff estão impulsionando as ações do Ibovespa para o melhor rali nos maiores mercados emergentes do mundo. A demanda para que as empresas brasileiras realizem aberturas de capital é outro assunto.

O Brasil, que teve seis aberturas de capital nos primeiros quatro meses de 2013, não teve nenhuma neste ano apesar de que o Ibovespa tenha tido o maior ganho no grupo de países em desenvolvimento chamado BRIC, subindo 19 por cento frente a seu pico negativo, registrado em 14 de março.

Em março, a companhia aérea Azul Linhas Aéreas Brasileiras retirou seu pedido de abertura pela segunda vez. A Votorantim Cimentos cancelou a transação em 2013 e não estabeleceu planos novos. A Rússia, a Índia e a China tiveram juntas 62 aberturas de capital neste ano, frente a 13 no mesmo período do ano passado.

A UBS AG diz que as empresas continuarão evitando realizar aberturas porque o rali do Ibovespa será efêmero, já que os ganhos foram em grande parte impulsionados pela empresa de energia Centrais Elétricas Brasileiras e por outras empresas estatais na especulação de que Rousseff perca as eleições.

A Federated Investors, que diz que a perspectiva para as ações brasileiras melhorou, espera que a volatilidade antes das eleições de outubro continue desencorajando as aberturas.

“A ideia de tornar-se altista pela possibilidade de obter uma nova administração pula obstáculos demais”, disse Geoffrey Dennis, diretor de estratégia global para mercados emergentes na UBS, em entrevista por telefone.

“Se considerarmos a incerteza em relação a se ela vai ganhar as eleições, uma economia fraca e uma taxa de juros que será mais alta, acreditamos que os investidores devam reduzir os fluxos ao Brasil. Duvido que haja muita atividade de aberturas”.

Desaceleração do crescimento

A queda de Dilma nas pesquisas eleitorais desencadeou a especulação de que ela possa perder a eleição e de que um novo presidente possa fazer mais para incentivar o crescimento e intervir menos nas empresas controladas pelo governo.

As ações com direito a voto da Eletrobras, como é conhecida a Centrais Elétricas, subiram 58 por cento desde que o Ibovespa entrou em um mercado baixista em 14 de março, e a petroleira estatal Petróleo Brasileiro cresceu 37 por cento.

Projeta-se que o crescimento na maior economia da América Latina se reduza para 1,63 por cento neste ano frente a 2,3 por cento em 2013, conforme uma pesquisa do Banco Central com economistas publicada em 5 de maio.

A taxa de empréstimos almejada, que os decisores políticos elevaram em 3,75 pontos-base para 11 por cento durante os últimos 12 meses, provavelmente alcance 12,25 por cento até o final de 2015, segundo a pesquisa.

Dez empresas realizaram aberturas de capital no Brasil em 2013, incluindo a seguradora BB Seguridade Participações, cuja abertura de US$ 5,67 bilhões foi a maior do mundo naquele ano. A última foi a venda por US$ 247 milhões da agência de viagens CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens, em dezembro.

‘Maior espera’

“As aberturas ocorrem quando os vendedores acham que podem obter um bom preço, e neste momento, as ações brasileiras estão operando com desconto”, disse Audrey Kaplan, diretora de ações internacionais da Federated, que gerencia US$ 366,2 bilhões em ativos, em entrevista por telefone. “Haverá uma maior espera até que o mercado se recupere um pouco. Há muitas oportunidades para listar, mas levará tempo”.

As ações brasileiras continuarão se recuperando à medida que os investidores estrangeiros que retiraram dinheiro do País, em meio a um declínio mais amplo nas ações de países em desenvolvimento ocorrido neste ano, começarem a voltar, de acordo com Luiz Galvão, diretor administrativo da unidade atacadista do Banco Bradesco, a Banco Bradesco BBI. A liquidação levou o índice MSCI Emerging Markets para seu valor mais baixo em cinco meses em fevereiro.

“Não faz sentido lançar uma abertura de capital se você não puder obter um preço decente porque não há demanda”, disse Dennis da UBS. “A forma de obter demanda é que o mercado se desempenhe melhor. E, neste momento, este não é um ótimo mercado”.

Relembre algumas das companhias que desistiram da IPO em 2013:

São Paulo – As inúmeras dúvidas quanto ao rumo dos mercados nos próximos meses têm derrubado algumas companhias na Bovespa e inibido a entrada de outras. Em janeiro, o Ibovespa , principal termômetro da bolsa brasileira, registra queda de 6,6%, após terminar 2013 com um tombo de 15,50%. No ano passado, 17 companhias recorreram ao mercado de ações, com 10 IPOs e 7 follow-ons. Veja a seguir quais foram as empresas que, recentemente, desistiram de listar suas ações devido a condições adversas do mercado.
  • 2. Unidas

    2 /9(Divulgação/Sérgio Sampaio)

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    A empresa de locação e venda de veículos Unidas informou na última sexta-feira que desistiu de uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), devido a condições desfavoráveis, segundo fato relevante. A empresa disse ter enviado carta à Comissão de Valores Mobilários (CVM) informando sua desistência do pedido de oferta apresentado em julho do ano passado. Em novembro de 2013, a empresa havia pedido que a CVM interrompesse até 14 de fevereiro o pedido de oferta, para a qual havia contratado Banco Espírito Santo, Bank of America Merrill Lynch, Bradesco, BTG Pactual e JP Morgan como coordenadores.
  • 3. Sascar

    3 /9(Paulo Fridman/Bloomberg)

  • A empresa comunicou, em outurbo, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que desistiu de sua oferta inicial de ações. Fontes afirmaram que o preço que o mercado estava disposto a pagar pelos papéis não era condizente com o que a companhia queria com a operação – a empresa não comentou. A Sascar havia pedido registro para o IPO no fim de agosto. A operação destinava-se, principalmente, a engordar o caixa para financiar o plano de aquisições da companhia.
  • 4. Azul

    4 /9(Dado Galdieri/Bloomberg)

    Em agosto de 2013, a empresa desistiu de seu IPO sob a alegação de que as condições macroeconômicas eram desfavoráveis. Em setembro, em um cenário de alta nos custos do setor aéreo, a Azul havia afirmado que não via urgência no IPO e estava se viabilizando sem a oferta pública de ações. No mês seguinte, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) cancelou o pedido da Azul de registro de companhia aberta. Com o IPO, a Azul pretendia expandir seus negócios.
  • 5. Votorantim Cimentos

    5 /9(Marcos Rosa/VEJA)

    A Votorantim Cimentos também alegou a “deterioração das condições do mercado” para afastar seu IPO em agosto. A oferta distribuiria 400 milhões de units, podendo ser aumentada em 15% (lote suplementar) e outros 20% (lote adicional), totalizando 540 milhões de papéis. A faixa de preço sugerida por unit era de 16,00 reais a 19,00 reais. No teto dessa faixa, e incluindo os lotes extras, poderia alcançar 10,26 bilhões de reais.
  • 6. Nova Cedae

    6 /9(Dado Galdieri/Bloomberg)

    Após 16 dias do começo de 2013, a Nova Cedae, empresa estatal de saneamento do Rio de Janeiro, desistiu de realizar sua oferta inicial de ações. Na época, comentou-se que as condições de mercado e as incertezas sobre setores regulados como o de saneamento teriam motivado a desistência.
  • 7. Vix Logística

    7 /9(BM&FBovespa/Divulgação)

    Também em janeiro, a Vix Logística havia anunciou que desistiu de realizar seu IPO, planejado para ocorrer em abril. A oferta pública inicial de ações era estimada em torno de 600 milhões de reais. O motivo para o cancelamento? Novamente as tais "momentâneas condições desfavoráveis do mercado de capitais nacional e internacional".
  • 8. Queiroz Galvão Óleo e Gás

    8 /9(REUTERS/Nacho Doce)

    Fora da Bovespa, em fevereiro, a Queiroz Galvão Óleo e Gás Constellation (QGOG) resolveu adiar uma oferta pública de ações nos Estados Unidos. O motivo teria sido a demanda baixa pelos papéis, segundo fontes.A operação era estimada em 550 milhões de dólares e as ações da empresa seriam negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). O objetivo inicial era vender 27,5 milhões de ações a um preço por papel no intervalo de 19 dólares a 21 dólares. O comentário no mercado na época era que havia demanda para ações a uma faixa menor que isso e os bancos de investimento optaram por não reduzir a faixa de preços e adiar a operação.
  • 9. Veja agora as maiores altas da última década; ganhos passam de 3.000%

    9 /9(Getty Images/Matt Stroshane)

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