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Sair da bolsa: uma escolha ousada de Elon Musk que deixa o Twitter sob pressão

Essa prática é antiga, com alguns precedentes famosos, como a bem-sucedida fabricante de computadores Dell, ou a falida loja de brinquedos Toys"R"Us

Na maioria das vezes, a saída da bolsa ocorre com empresas que ganham dinheiro, explica o acadêmico; mas o Twitter perde (LightRocket/Getty Images)

Na maioria das vezes, a saída da bolsa ocorre com empresas que ganham dinheiro, explica o acadêmico; mas o Twitter perde (LightRocket/Getty Images)

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AFP

Publicado em 7 de novembro de 2022 às 16h56.

Última atualização em 7 de novembro de 2022 às 18h34.

A decisão de Elon Musk de retirar o Twitter da bolsa permitirá que ele faça grandes mudanças rapidamente. Para isso, porém, teve de assumir grandes dívidas, uma escolha arriscada para uma empresa não lucrativa.

Essa prática é antiga, com alguns precedentes famosos, como a bem-sucedida fabricante de computadores Dell, ou a falida loja de brinquedos Toys"R"Us.

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Contudo, o exemplo do Twitter "é muito diferente de uma compra tradicional" com saída do painel de cotações, opina Steve Kaplan, professor da Universidade de Chicago.

Na maioria das vezes, a saída da bolsa ocorre com empresas que ganham dinheiro, explica o acadêmico; mas o Twitter perde.

Os negócios do Twitter estavam claramente em déficit nos dois primeiros trimestres de 2022.

A equação será mais complicada pelos créditos contraídos por Musk por US$ 13 bilhões, que devem ser pagos pela empresa e não por ele.

De acordo com um cálculo feito pela AFP, a empresa de São Francisco terá de pagar pouco menos de US$ 1 bilhão no primeiro ano de juros e capital, um valor muito alto para um grupo cujo faturamento atingiu US$ 5 bilhões em 2021.

"Haverá muita pressão para cortar custos e aumentar a receita para que a empresa possa honrar os vencimentos das dívidas", diz Kaplan. Em caso de impossibilidade, Musk terá de enfiar a mão no bolso como principal acionista, para evitar a falência.

Na sexta-feira, o empresário demitiu cerca de metade dos 7,5 mil funcionários do Twitter. Está também à procura de novas fontes de lucro, oferecendo aos usuários a possibilidade de assinatura por US$ 8 por mês.

Desenvolver o Twitter como imaginado pelo fundador da Tesla e da SpaceX exigirá investimentos significativos e provavelmente dinheiro novo, mais difícil de encontrar, em teoria, para uma empresa não listada na bolsa.

"Não acho que possa se endividar mais", opina Erik Gordon, professor da Ross School of Business da Universidade de Michigan. "A única maneira é levantar capital. Normalmente, seria muito difícil. (...) Mas há um fator Musk. Alguns tuítes... e o dinheiro vem", refletiu.

Protegido de Wall Street

Outra grande diferença na compra do Twitter, segundo Gordon, é que "a maioria das transações desse tipo é feita com uma lógica financeira ou industrial", que Musk "não tinha".

"Ele estava simplesmente insatisfeito com a forma como o Twitter tratava a questão da liberdade de expressão, achava que a empresa era mal administrada e que poderia fazer melhor", argumentou.

Geralmente a saída do painel da bolsa é o prelúdio de "mudanças radicais" em uma empresa, lembra Sreedhar Bharath, professor da Universidade Arizona State. E isso acontece a portas fechadas, porque a empresa em questão não precisa mais comunicá-las publicamente.

"A empresa, além disso, está protegida pelas punições infligidas pelos mercados financeiros caso não gostem das mudanças", destaca. Wall Street, "às vezes, se concentra excessivamente nos resultados trimestrais"; em contrapartida, com uma empresa não cotada na bolsa, "os gestores podem priorizar os objetivos de longo prazo", acrescenta.

"Mas com a visibilidade do Twitter, as decisões importantes serão filtradas" e o grupo continuará sendo escrutinado pelo público, diz Jagadeesh Sivadasan, professor da Universidade de Michigan. "Isso já foi visto com as primeiras decisões tomadas após a compra", há pouco mais de 15 dias.

De acordo com um estudo publicado em 2019 por dois pesquisadores da Universidade Politécnica da Califórnia sobre quase 500 operações entre 1980 e 2006, cerca de 20% das grandes empresas que são compradas por meio da dívida (procedimento conhecido como LBO nos Estados Unidos), vão à falência em dez anos.

No entanto, "a maioria está se saindo melhor do que as sociedades na bolsa", afirma Gordon. "Mas não ouvimos muito sobre elas. São os grandes fracassos que chamam a atenção e criam a ideia de que a dívida mata as empresas", diz.

"Na maioria das vezes, funciona, o que explica por que [o procedimento] continua sendo feito", enfatiza.

"Musk é uma das pessoas mais criativas do mundo", capaz de construir três empresas totalmente diferentes, como PayPal, Tesla e SpaceX, que atingiram mais de 100 bilhões de avaliações da bolsa, lembra Steve Kaplan. "E vai atrair [para o Twitter] talentos reais que não são vistos há algum tempo" na empresa. "Eu não apostaria contra ele", conclui.

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