O Twitter informou que tem "a intenção" de concluir a transação (Dimitrios Kambouris/Getty Images)
AFP
Publicado em 5 de outubro de 2022 às 20h54.
Última atualização em 5 de outubro de 2022 às 20h55.
Elon Musk abriu um novo capítulo na novelesca operação de compra do Twitter, após propor seguir adiante na segunda-feira com a compra da qual quis desistir meses depois de um acordo com a direção da rede social.
As duas partes negociam agora as próximas etapas, mas muitos pontos desta gigantesca transação de 44 bilhões de dólares são um mistério.
Elon Musk, que em abril propôs comprar a rede social a 54,20 dólares por ação antes de desistir da aquisição, em julho, enviou ao Twitter uma carta destacando que está disposto a seguir adiante com o compromisso ao preço combinado inicialmente.
O fundador milionário da Tesla deu duas condições: que o julgamento iniciado pelo Twitter contra ele para forçá-lo a concluir a compra seja suspenso e que receba o financiamento necessário.
O Twitter foi notificado da proposta e informou que tem "a intenção" de concluir a transação.
Segundo o jornal The New York Times, a juíza encarregada do caso em Delaware convocou as partes para uma reunião confidencial na terça-feira e pediu-lhes que entrem em um acordo entre si antes de voltar ao tribunal.
Se um acordo for alcançado, isto tornaria sem efeito o julgamento que devia começar em 17 de outubro.
Depois das idas e vindas desta operação, o Twitter vai buscar garantias de que a compra seguirá adiante, por exemplo, com o depósito de uma quantia de dinheiro para apoiá-la, segundo Adam Badawi, professor de Direito Comercial na Universidade de Berkeley.
Também poderia buscar que a concretização da compra seja supervisionada por um magistrado.
Os advogados do Twitter não responderam às perguntas da AFP por enquanto.
Elon Musk é um habitué de polêmicas, das promessas não cumpridas e dos julgamentos. Mas, inclusive para o homem mais rico do mundo, os valores em jogo são importantes.
Determinar as motivações por trás de sua última jogada por enquanto é uma especulação.
Muitos juristas sustentam que ele simplesmente se deu conta de que não venceria o julgamento porque não conseguia sustentar de forma coerente seu principal argumento para anular o acordo: a presença maior que a apontada pela rede social de contas falsas e automáticas no Twitter.
Para Carl Tobias, professor de Direito na Universidade de Richmond, também é possível que Musk tenha se incomodado com a difusão, no âmbito do processo judicial, de mensagens com outras personalidades do mundo dos negócios e tenha preferido evitar a publicação de outras comunicações.
O fato de que não tenha feito uma verificação do estado da empresa antes de sua oferta inicial, como ocorre em geral neste tipo de acordos, também o afeta, avalia Tobias.
"Acho que dos dois lados, a situação se tornou embaraçosa, reveladora e não muito construtiva", ressaltou.
A ação do Twitter subiu 22% na terça-feira, depois de divulgada a mudança de parecer de Musk.
Mas a empresa não está em seu melhor momento.
Sofre, assim como outros gigantes do setor, com uma redução dos gastos publicitários em um contexto de resfriamento da economia, e sua imagem foi afetada pelas turbulências e a incerteza em torno do interesse de Musk em comprá-la.
O grupo registrou uma queda em seu faturamento de 1% no segundo trimestre e o ânimo dos funcionários não é o melhor.
Acusações recentes de seu ex-chefe de segurança demitido em janeiro, Peiter Zatko, corroeram sua reputação. O ex-funcionário critica a direção do Twitter por não levar em conta suficientemente graves falhas de segurança.
"É bastante irônico que, para Musk, a parte mais fácil deste acordo fosse comprar o Twitter", refletiu Dan Ives, analista da Wedbush Securities. "A parte mais difícil será tratar os problemas vinculados à monetização e ao compromisso dos assinantes", acrescentou.
Musk se apresenta como um defensor fervoroso da liberdade de expressão e já afirmou que pretende deixar os internautas se expressarem como acharem conveniente, desde que não infrinjam a lei.
Também se disse partidário a cancelar a suspensão da conta do ex-presidente americano Donald Trump no Twitter, decidida pela empresa depois da invasão ao Capitólio, em janeiro de 2021.
A juíza a cargo do caso destacou nesta quarta que o processo está aberto e previsto para 17 de outubro até que a rede social e o fundador da Tesla peçam oficialmente sua suspensão.
Por enquanto, "as partes não pediram a interrupção do procedimento", afirmou a juíza Kathaleen McCormick em carta aos advogados nesta quarta. "Continuo com os preparativos para o processo", acrescentou.