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Por que o mundo está preocupado com a crise imobiliária na China?

Diante dos atrasos nas obras, os compradores de imóveis inacabados deixaram de pagar os créditos até que as obras sejam retomadas

Crise na China: endividamento de construtoras e atrasos nas obras preocupam o mercado (Zhang Peng/Getty Images)

Crise na China: endividamento de construtoras e atrasos nas obras preocupam o mercado (Zhang Peng/Getty Images)

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AFP

Publicado em 24 de julho de 2022 às 16h17.

Construtoras afogadas em dívidas e compradores que param de pagar as mensalidades: o setor imobiliário na China vive há meses uma crise que pode impactar toda a economia do país e, portanto, do mundo inteiro.

Em sua definição mais ampla, o setor imobiliário representa um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

A reforma imobiliária na China em 1998 criou um mercado autêntico que cresceu rapidamente. Entre os motivos, alguns são culturais, como o fato de que comprar uma casa muitas vezes é um pré-requisito para se casar.

Além disso, os bancos concederam créditos abundantes tanto para os promotores quanto para compradores. Ainda hoje, os créditos imobiliários representam cerca de 20% dos empréstimos do sistema bancário chinês, segundo um relatório do banco ANZ.

As construtoras trabalham na maioria das vezes com um sistema de pré-venda em que os bens são vendidos antes do início da construção. Sendo assim, o país tem 225 milhões de metros quadrados de imóveis para finalizar, segundo a agência de informações financeiras Bloomberg.

Qual é a origem da crise imobiliária na China?

A multiplicação dos promotores imobiliários foi acompanhada por um aumento dos preços, o que preocupa o governo porque muitos cidadãos não têm mais os meios de acesso à propriedade.

Outro ponto preocupante é o endividamento maciço das construtoras. Para reduzir as dívidas do setor, a China endureceu em 2021 as condições de acesso ao crédito para os promotores, cortando um canal de financiamento. Isso desencadeou uma onda de suspensão de pagamentos.

O caso mais importante foi o da ex-número um do setor Evergrande, com cerca de 300 bilhões de dólares em dívidas. Além disso, a incerteza ligada à pandemia de covid-19 desencoraja os compradores.

A crise da Evergrande provocou manifestações de compradores em setembro de 2021, mas uma nova forma de protesto surgiu em junho deste ano: uma greve de pagamento dos empréstimos imobiliários.

Diante dos atrasos nas obras, os compradores de imóveis inacabados deixaram de pagar os créditos até que as obras sejam retomadas. Em um mês, a greve se espalhou para mais de 300 projetos em 50 cidades na China.

O mundo deve se preocupar com a crise chinesa?

Devido à interconexão da China, segunda potência econômica mundial, com o resto dos países, um contágio da crise imobiliária ao setor financeiro teria repercussões internacionais, segundo analistas.

"Se a suspensão dos pagamentos se multiplicar, pode gerar sérias consequências econômicas e sociais", alerta a agência de classificação de risco Fitch.

Já em maio, o Banco Central dos Estados Unidos afirmou que o agravamento da crise imobiliária chinesa poderia ter consequências para o sistema financeiro do país. Nesse cenário, a crise impactaria o comércio mundial, diz Fitch.

Soluções

Analistas consideram improvável que haja um plano de resgate para o setor, já que tal operação afetaria "todo o risco no setor bancário ou no governo", destaca Ken Cheung, analista do banco japonês Mizuho. E poderia causar um efeito contrário ao que se buscava.

Diante da intervenção do Estado, proprietários e promotores imobiliários estariam tentados a esquecer suas responsabilidades e deixar de pagar, explica Cheung.

As administrações locais, promotores e proprietários poderão negociar, caso a caso, a isenção de juros ou adiamentos das mensalidades, estima o analista Chen Shujin, do banco de investimento americano Jefferies.

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