Wall Street (Alexander Spatari/Getty Images)
O ano de 2022 poderia ser um recorde negativo para Wall Street. Pelo menos considerando o número de ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de novas empresas, que caíram 80% desde o começo do ano.
A palavra de ordem nos últimos dez meses parece ser: “fique longe do mercado”. Os IPOs estão em níveis tão baixos quanto durante o biênio 2008-2009, ano da crise dos subprimes e falência do Lehman Brothers.
A contração do mercado acionário está sendo provocada pela inflação, riscos geopolíticos e sinais de recessão, desencorajando investidores e empresas com projetos de listagem. Mas, principalmente, a isso se soma a alta das taxas básicas de juros por parte do Federal Reserve (Fed), que decidiu atuar uma política monetária muito restritiva, fechando a janela de oportunidades para novas estreias nas Bolsas de Valores de Nova York.
Os números mostram que neste 2022, em Wall Street, os IPOs que movimentaram pelo menos US$ 50 milhões foram apenas 64. Um colapso vertical em relação ao recorde do ano passado, quando as ofertas públicas iniciais no mercado de capitais norte-americano foram 397 e chegaram a inflar uma bolha. Mas também um número longe das 221 listagens registradas em 2020, ano do começo da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
E essa sangria dos números também se reflete nos valores dos IPOs, que esse ano arrecadaram nos mercados apenas US$ 6,5 bilhões, contra os US$ 142 do ano passado. E se é verdade que o ano ainda não acabou, é no mínimo improvável que aconteçam reversões dessa dramática tendência. Especialmente pelo péssimo vento que está assoprando nos mercados.
Mas existe uma crise dentro da crise, que se manifesta de forma ainda mais evidente: a dos títulos tecnológicos.
Se por cerca de vinte anos as Big Tech fizeram a fortuna dos touros de Wall Street, agora estão em um momento muito delicado. O Nasdaq 100, que reúne os principais papéis das empresas de tecnologia, perdeu mais de US$ 5 trilhões desde o início do ano, registrando um prejuízo de mais de 33%. Um resultado bem pior do que o S&P 500, por exemplo, que por enquanto está em -24%.
Desde o início do ano, empresas do calibre de Netflix (NFLX34), Meta (M1TA34) e Nvidia (NVDC34) deixaram no terreno mais da metade de sua capitalização, acumulando prejuízos de centenas de bilhões e colocando todo o setor digital diante de uma crise de identidade.
O mercado urso está se demonstrando muito mais forte do que a resistência dessas empresas. Essas doses maciças de incerteza estão desencorajando os operadores do setor a abrir o seu capital. Tanto que há mais de 250 dias não se registra em Wall Street um IPO do setor de tecnologia com um valor superior a US$ 50 milhões. Um recorde superior a aquele estabelecido após a crise financeira de 2008 e até maior do que na época do crash das pontocom, no início dos anos 2000.
A lista de empresas que deveriam ter estreado em Wall Street neste 2022, mas que preferiram adiar o processo em busca de tempos melhores, é longa. Entre elas, a gigante de chips Arm, que o SoftBank queria listar, a Mobileye, controlada da Intel, passando por toda uma série de startups como MobiKwik, boAt, Oyo Hotels e Homes, Snapdeal, Droom. Na maioria dos casos, os motivos do adiamento do IPO se devem à queda do mercado de ações e à incerteza global alimentada por problemas de energia.
No entanto, há empresa que optaram por continuar seu percurso de listagem, provavelmente cientes de que a dinâmica externa pode afetar apenas parcialmente seu sucesso. O caso mais marcante é o da Porsche, cujo IPO ocorreu em 29 de setembro e foi bem sucedido, se tornando a maior oferta pública inicial da última década. Pena que ocorreu em Frankfurt, e não em Wall Street.