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Novo patamar: até onde vai a disparada do dólar contra o real?

Moeda americana enfrenta mini rali após anúncio do pacote fiscal do governo

Dólar: moeda americana avança contra o real após divulgação de pacote fiscal (Yuji Sakai/Getty Images)

Dólar: moeda americana avança contra o real após divulgação de pacote fiscal (Yuji Sakai/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 29 de novembro de 2024 às 15h19.

Última atualização em 30 de novembro de 2024 às 08h58.

O dólar comercial ganhou o impulso de um mini rali nesta última semana de novembro com o mercado reagindo negativamente à aprovação do novo pacote fiscal do governo. A moeda ultrapassou pela primeira vez o valor nominal de R$ 6 nesta quinta-feira, 28, e acumula alta de mais de 3% apenas nesta semana.

Vale lembrar que o recorde é para o dólar comercial, aquele utilizado em grandes transações  financeiras, comércio exterior e operações entre empresas. O dólar turismo, utilizado por pessoas físicas, já havia superado a marca dos R$ 6.

Dólar hoje

  • Dólar comercial: + 0,31%, cotado a R$ 6,008
  • Dólar turismo: + 1,21%, cotado a R$ 6,298

O que esperar do dólar

Depois da disparada dos últimos dias, investidores estão na expectativa sobre os próximos passos do câmbio. Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a volatilidade deve continuar – mas o patamar dos R$ 6 deve ficar para trás.

“Estamos vendo uma reação um pouco exagerada com os últimos anúncios: em algum momento a taxa de câmbio vai se acomodar. É normal acontecer [esse tipo de movimento] quando vem uma notícia diferente do esperado pelo mercado”, avalia.

A notícia em questão é a da isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil, incluída junto ao anúncio do corte de gastos. A medida, que aumenta os gastos do governo, roubou o protagonismo do anúncio e fez o dólar disparar, alcançando a máxima de R$ 6,11 nesta sexta-feira.

“Dólar a R$6,10 é um patamar muito estressado para a moeda. A única coisa que pode acomodar o câmbio neste momento é uma política monetária mais restritiva dado que o fiscal está desancorado”, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research (do mesmo grupo de controle da EXAME). 

Spiess projeta que o Copom irá acelerar o ritmo de corte de juros para 0,75 ponto percentual na próxima reunião, levando a taxa Selic para 12% ao ano. O analista defende que será importante uma postura unânime do BC nas próximas reuniões, especialmente quando Gabriel Galípolo, indicado do governo, assumir a presidência. “Se houver crise de credibilidade na política monetária, o dólar tende a desancorar ainda mais.”

Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, reforça que é preciso um reforço do comunicado do Copom em seu mandato de trazer a inflação par a meta. "[A possibilidade da moeda] voltar para R$ 5,50 já ficou distante, mas qualquer sinal de que inflação acima da meta será tolerada pela nova diretoria do Bacen pode abrir caminho para a busca dos R$ 6,50", afirmou.

Já Quartaroli, da Ouribank, acredita que a estabilização dos ânimos leve o câmbio para próximo da projeção do Boletim Focus. A expectativa é de que o dólar feche 2024 cotado a R$ 5,70. Há quatro semanas, a expectativa do mercado financeiro estava em R$ 5,45. Para os anos subsequentes (2025 e 2026), as cotações são projetadas para R$ 5,55 e R$ 5,50, respectivamente.

Pontos de atenção

Para além do fiscal, o dólar está se fortalecendo globalmente após o republicano Donald Trump ser confirmado na presidência dos Estados Unidos. As promessas protecionistas de Trump tem potencial de elevar a inflação – e os juros – dos EUA, atraindo capital estrangeiro para o dólar e, consequentemente, elevando a cotação global da moeda.

Existem desafios também do lado da China. O crescimento mais lento do gigante asiático pode impactar os preços das matérias-primas, prejudicando economias emergentes, como o Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial.

“O prêmio que vemos hoje no dólar deriva sim de vetores internacionais. O dólar está fortalecido ao redor do mundo, principalmente após a vitória de Trump. Mas mesmo com esse fator, existe uma ‘gordura’ [na cotação da moeda] muito mais relacionada ao fiscal”, completa Spiess.

Daqui para frente investidores devem acompanhar como as medidas propostas serão tratadas no Congresso. Nem todos os pontos deverão ser aprovados, e os deputados provavelmente farão mudanças no texto original. Essa incerteza pode, por sua vez, ser um elemento adicional de volatilidade nos próximos meses.

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