Incomodado com taxa de juros, presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a questionar independência do BC (Horacio Villalobos/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 3 de fevereiro de 2023 às 07h41.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2023 às 07h58.
Índices futuros americanos operam em queda na manhã desta sexta-feira, 3, com investidores digerindo os últimos resultados da temporada de balanços do último trimestre, enquanto aguardam pela bateria de dados econômicos dos Estados Unidos.
Os números referentes ao mercado de trabalho de janeiro serão divulgados às 10h30. A expectativa para o payroll, considerado um dos principais indicadores da economia americana, é de criação de 185.000 empregos urbanos ante a criação de 223.000 em dezembro.
Espera-se, no entanto, uma leve alta na taxa de desemprego, de 3,5% para 3,6%. Para o salário médio por hora trabalhada a projeção do mercado é de desaceleração do patamar atual de 4,6% de crescimento para 4,3%.
Mais tarde, às 12h, serão divulgados nos Estados Unidos os números do Índices de Gerente de Compras (PMIs, na sigla em inglês), que medem o nível da atividade econômica em relação ao mês anterior.
Dados mais fracos nessas frentes tendem a fortelaecer as apostas de um Federal Reserve mais brando na briga contra a inflação. Nesta semana, indicações de que o Fed estaria vendo pela primeira vez o início do processo desinflacionário nos Estados Unidos chegaram a provocar euforia no mercado internacional.
Ainda que os principais índices americanos ainda sigam no azul nesta semana, os últimos resultados das big techs decepcionaram investidores.
Alphabet (Google), Amazon e Apple divulgaram números abaixo do esperado para o último trimestre, provocando uma forte reação no maior mercado do mundo. As três companhias caem mais de 3% no pré-mercado desta manhã. Entre elas, a Amazon lidera as perdas, recuando mais de 5%.
As fortes quedas ocorrem apenas um dia depois de a Meta ter disparado 23,28% na Nasdaq, após ter surperado as expectativas em balanço do quarto trimestre. A dona do Facebook também revisou positivamente seu guidance de receita e despesas, além de ter aumentado o limite de recompra de ações em US$ 40 bilhões. O índice Nasdaq disparou 3,25% na última sessão, em sua maior alta desde novembro.
Desempenho dos indicadores às 7h50 (de Brasília):
Embora o dia anterior tenha sido positivo no exterior, a forte desvalorização da Vale derrubou o Ibovespa, que fechou o último pregão em queda de 1,72%. O movimento foi influenciado especialmente pela depreciação do minério de ferro na China, que caiu mais de 3% na véspera. Nesta madrugada, a commodity caiu mais 1%.
Alertas de reguladores chineses sobre o suposto "excesso de especulação" nesse mercado, segundo a Reuters, influenciaram na depreciação do metal.
Mas além do movimento de sua maior empresa, o mercado brasileiro segue exposto às trocas de farpas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central.
Em entrevista à RedeTV!, Lula voltou a criticar a independência do Banco Central. "Esse país está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber de que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão [Roberto Campos Neto, presidente do BC] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente", disse Lula.
Lula ainda afirmou que a independência do Banco Central é "irrelevante". "Isso não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juro."
Em outra ocasião, Lula chegou a classificar a independência do BC como "bobagem" -- fala que chegou a ser rebatida por Campos Neto. Segundo o presidente do Banco Central, haveria bem mais volatilidade no mercado brasileiro, se "se o Banco Central não tivesse autonomia pela lei".