Bradesco (BBDC4): lucro líquido do banco caiu 75,9% na comparação anual (Paulo Fridman/Bloomberg)
Beatriz Quesada
Publicado em 9 de fevereiro de 2023 às 19h10.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2023 às 15h08.
O Bradesco (BBDC4) teve queda de 76% no lucro líquido do quarto trimestre de 2022, bem abaixo da estimativas. O banco teve lucro líquido recorrente de R$ 1,595 bilhão no período, contra R$ 6,613 bilhões apurados na mesma janela do ano anterior. O consenso da Refinitiv esperava um lucro de R$ 4,4 bilhões.
O resultado foi impactado por “recentes eventos envolvendo um cliente large corporate específico”. O banco provisionou 100% da dívida com o cliente – um montante de R$ 4,8 bilhões. Embora não tenha sido citada nominalmente, o valor corresponde à dívida que a Americanas (AMER3) tem com a instituição.
A varejista pediu recuperação judicial em janeiro, após se tornar público o escândalo de inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões que ampliaram os lucros nos últimos anos e reduziram artificialmente os compromissos financeiros.
“Com os recentes eventos envolvendo um cliente large corporate específico, ocorridos no início de 2023, a administração reavaliou os riscos inerentes e, de forma prudencial, provisionou 100% da operação, afetando o lucro do quarto trimestre de 2022”, afirma o banco no release de resultados.
O impacto da Americanas já havia sido observado nos balanços de Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11). O Itaú teve alta de 7,1% no lucro na comparação anual, mas teve redução de R$ 719 milhões no lucro líquido do período, quando considerado impostos. Já o Santander sofreu uma redução de 47% no lucro líquido do quarto trimestre, impactado pelas provisões.
O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do Bradesco, que indica sua capacidade do banco de rentabilizar seu capital, caiu para o patamar de apenas um dígito, em 3,9% – bem abaixo dos 17,5% registrados no mesmo período do ano anterior. O ROE acumulado do ano foi de 13,1%, queda de 5 pontos percentuais (p.p.) em 12 meses.
A margem financeira total foi de R$ 16,6 bilhões, queda de 1,7% na comparação anual. A carteira de crédito cresceu 9,8% em 12 meses e 1,5% no trimestre, com destaque para as pessoas físicas, especialmente em operações com cartões de crédito.
“Esse aumento significativo da carteira ao longo dos períodos, aliado ao mix de riscos e às condições específicas de mercado, refletiu na alta dos índices de inadimplência e maiores despesas com provisões para devedores duvidosos, que também foram impactadas pelo provisionamento do caso específico”.
O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 4,3 -- alta de 1,5 ponto percentual (p.p.) no período.
O Bradesco divulgou sua projeção para o ano de 2023. A expectativa é de um crescimento de 6,5% a 9,5% na carteira de crédito expandida. A margem financeira deve crescer de 7% a 11%.
Já a receita com prestação de serviços deve crescer de 2% a 6%. A expectativa com despesas operacionais é de crescimento de 9% a 13%. O banco espera ainda montar provisões para devedores duvidosos (PDD) na ordem entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões.