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Inflação baixou, mas Fed ficou mais conservador: o que aconteceu?

Gavekal explica aparente descompasso entre dados do CPI e postura do banco central americano

Wall Street: mercado acionário americano se animou com inflação, contrariando Fed (Getty/Getty Images)

Wall Street: mercado acionário americano se animou com inflação, contrariando Fed (Getty/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 14 de junho de 2024 às 12h24.

Última atualização em 14 de junho de 2024 às 12h26.

Investidores desavisados podem ter ficado surpresos com a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em sua última decisão de juros. Na quarta-feira, 12, o Fed assumiu uma postura mais conservadora, e projetou apenas um corte de juros este ano – reduzindo a projeção de até três cortes anunciada em março.

Em um primeiro momento a sinalização parece um descompasso se observado o comportamento recente da inflação nos Estados Unidos. O Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado também na quarta-feira, recuou de 3,4% para 3,3% em maio e seu núcleo, de 3,6% para 3,4%. O número mostrou leve melhora em relação ao consenso, que projetava o CPI em 3,4% e seu núcleo em 3,5%.

Em tese, seria motivo para que o Fed fosse mais otimista em suas projeções. A “contradição” é explicada, segundo a Gavekal Research, por dois fatores: momento e confiança.

“Quanto ao momento, as projeções de corte reduzido das taxas são uma resposta atrasada ao susto da inflação do primeiro trimestre”, explicou Will Denyer, analista-chefe para Estados Unidos da Gavekal. 

A última decisão do Fed, em 20 de março, só tinha dois dados de inflação, de janeiro e fevereiro, que poderiam ser considerados como ruídos ou solavancos no caminho. Em março, no entanto, vieram dados mostrando o terceiro aumento consecutivo da inflação – acendendo um alerta vermelho.

“[A decisão desta] quarta-feira foi a primeira oportunidade desde então para os decisores políticos reverem suas expectativas de taxas para o ano, e eles fizeram proveito dela”, afirmou Denyer.

A confiança, por sua vez, explica por que o Fed não manteve a projeção de três cortes nas taxas de juros mesmo depois de dois meses de dados de inflação relativamente favoráveis em abril e maio. “O susto da inflação do primeiro trimestre efetivamente acertou o relógio.” 

A avaliação da Gavekal é que agora o Fed irá precisar de uma série mais consistente de números benignos de inflação antes de recuperar a confiança de que o indicador está no caminho da meta de 2% ao ano. “Isso significa que, mesmo que a inflação continue a ser favorável, a janela para cortes nas taxas deste ano é muito menor do que foi em março.”

Denyer indica que, se a inflação tivesse continuado a acelerar no segundo trimestre, haveria até mesmo o risco de projeções para aumentos de taxas ainda este ano.

O que esperar da inflação nos EUA

A Gavekal indica que a inflação continuará moderada, considerando quatro fatores:

  • a contração da oferta monetária; 
  • as positivas pressões na cadeia de abastecimento;
  • os dados de crescimento mistos;
  • e os preços da gasolina em baixa.

Existem, no entanto, alguns riscos para essa perspectiva que, segundo o analista, são “substanciais”. O primeiro deles é que um aumento da demanda, seguido pelo risco de que o aluguel da habitação, medido pelos índices de inflação dos EUA, possa moderar mais lentamente do que muitos esperam. 

Reação do mercado à inflação

Mesmo com o conservadorismo do Fed, o mercado se animou. A taxa de inflação implícita dos títulos de 10 anos do Tesouro protegidos contra a inflação caiu 5 pontos base, para o seu nível mais baixo desde fevereiro, contribuindo para uma queda de 8 pontos base no rendimento nominal de 10 anos. A redução dos rendimentos, por sua vez, alavancou os preços das ações americanas nos últimos dias.

“Mas com a moderação da inflação, as esperanças de cortes nas taxas ainda vivas, o entusiasmo contínuo em relação à IA e as grandes recompras de ações (graças à Apple), os investidores estão atualmente inclinados a ignorar as avaliações relativas e a aumentar o preço das ações”, completou Denyer.

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