Painel de negociações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 6 de outubro de 2022 às 10h38.
Última atualização em 6 de outubro de 2022 às 17h20.
O Ibovespa marcou seu quinto pregão de alta consecutivo nesta quinta-feira, 6, mais uma vez descolado das quedas do mercado internacional. Por aqui, o foco dos investidores ficou no segundo turno das eleições, que tem dado maiores sinais de uma guinada ao centro na visão do mercado.
O primeiro ponto positivo foi o apoio dos economistas Armínio Fraga, Pedro Malan e Persio Arida, criadores do plano real, à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em caso de vitória de Lula, que segue à frente nas intenções de voto, o apoio dos economistas indicaria uma postura mais moderada.
"Isso mostra que o Lula está indo mais para o centro. São nomes que o mercado aprova e isso acaba fazendo preço na bolsa", afirmou Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital.
Outro dado visto com bons olhos foi a nova pesquisa do PoderData, que mostra maior força do presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial no segundo turno – o que poderia forçar os principais candidatos a adotar posturas ainda mais centristas.
Segundo o PoderData, Bolsonaro teria 48% dos votos válidos contra 52% do ex-presidente Lula . A pesquisa foi a primeira após o primeiro turno realizada pelo instituto e aponta a menor diferença entre os dois candidatos.
"Há um prolongamento das mensagens das urnas no primeiro turno, com o Congresso mais à direita. Com uma eventual posse do líder nas pesquisas [Lula], terá que haver uma guinada ao centro. Mas ainda tem muito tempo até o segundo turno e novas pesquisas vão vir”, disse Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Para além do cenário político, dados macroeconômicos também repercutem positivamente. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro, medido pela FGV, saiu melhor que o esperado nesta manhã, revelando deflação mensal de 1,22% ante expectativa de que ficasse em 0,85%.
O dia foi de ganhos para as varejistas, que repercutem o cenário de deflação. O enfraquecimento dos preços, por sua vez, abre espaço para quedas de juros – esperadas para meados de 2023. A expectativa já se traduziu no preço das varejistas e empresas de tecnologia, que foram destaque de alta nesta quinta.
Ainda entre as maiores altas, as empresas de educação Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) voltaram a disparar na bolsa após declarações do ex-presidente Lula.
Na véspera, o petista afirmou que pretende retomar o programa de financiamento estudantil Fies se reeleito, durante evento com governadores e senadores. A declaração voltou a jogar os holofotes sobre as empresas de educação privada para o ensino superior.
Outro papel que sustenta os ganhos do índice foram as ações da Petrobras (PETR3/PETR4), que são o segundo papel com maior peso do Ibovespa. As ações repercutiram a decisão de ontem da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em cortar a produção dos países membros em 2 milhões de barris por dia, alegando instabilidade no mercado da commodity.
A Eletrobras (ELET3/ELET6) também teve um dia de fortes altas, de olho no cenário eleitoral.
“Havia muita incerteza sobre como a política de preços da companhia seria impactada num próximo governo, pois a energia faz parte do consumo essencial das famílias e poderia ser alvo de intervenção do controlador Estado. Porém, a nova composição do congresso diminui um pouco o receio do investidor, considerando uma a maioria é de centro ou de direita”, avaliam Régis Chinchila e Luis Novaes, analistas da Terra Investimentos.
A alta do Ibovespa só não foi maior por pressão negativa da Vale (VALE3), ação de maior peso no índice. O papel passa por uma correção após fortes altas nesta semana. Os grandes bancos, que também têm forte participação no Ibovespa, passaram por ajuste e operam em queda nesta quinta.
O tom positivo da bolsa brasileira descola da maior cautela em Wall Street, onde os principais índices de ações fecharam em queda.
Investidores avaliam os pedidos semanais de seguro desemprego que ficaram em 219.000 ante consenso de 203.000. Os pedidos acima das expectativas fortalecem a perspectiva de um aperto mais brando da política monetária americana e vão de encontro com os dados de atividade que saíram abaixo das expectativas no início da semana.
Bolsas de Nova York chegaram a reagir positivamente aos números desta manhã, mas investidores mantêm certa cautela à espera da bateria de dados de amanhã, os mais importantes da semana. Para esta sexta-feira, 7, estão previstas as divulgações do payroll, da taxa de desemprego e da variação do salário por hora dos Estados Unidos.