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Ibovespa afunda 3% e retorna aos 110 mil pontos; dólar vai a R$ 5,42

Temores de inflação nos Estados Unidos, com alta dos juros dos títulos de 10 anos, e a possível extensão do auxílio emergencial no Brasil derrubam índice

Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

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Beatriz Quesada

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 17h22.

Última atualização em 28 de setembro de 2021 às 21h36.

Após leve alívio no pregão de ontem, o Ibovespa voltou a cair nesta terça-feira, 28. O principal índice da B3 acompanhou o cenário pessimista nos Estados Unidos, com os investidores receosos com o avanço da inflação e uma possível alta nos juros antes do previsto. 

Em meio ao cenário externo já negativo, o Ibovespa aprofundou as perdas com a notícia de uma possível extensão no auxílio emergencial. O índice encerrou o pregão em queda de 3,05%, aos 110.123 pontos. Na mínima do dia, o Ibovespa chegou a perder a marca dos 110 mil pontos.

O mau humor nos mercados internacionais foi causado por um discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), aos congressistas americanos sobre a alta generalizada nos preços.

Powell, que antes via a inflação como meramente passageira, mudou o discurso e já afirma que a alta nos preços é mais duradoura que o esperado. Para o mercado, a sinalização é de que o Fed poderá subir os juros antes do esperado, prejudicando opções de investimento mais arriscadas, como a renda variável. 

Antes a previsão era de elevação de juros apenas em 2023 mas, na última reunião de política monetária, cresceu o apoio interno para um ajuste já em 2022. Até lá, o banco central americano deverá reduzir gradualmente a injeção de 120 bilhões de dólares mensais via recompra de títulos processo conhecido como tapering.

As preocupações tiveram implicações na curva de juros americana. Por lá, os rendimentos dos títulos de 10 anos atingiram o pico de três meses, superando 1,558% na máxima do dia. 

Com a maior atratividade dos títulos, tidos como os mais seguros do mundo, o dólar subiu no mundo inteiro. Contra o real, a moeda americana avançou 0,89%, a 5,42 reais maior patamar desde 4 de maio. O índice Dxy, que mede a variação do dólar contra uma cesta de divisas fortes (como euro e libra), subiu 0,38%.

Com os juros mais altos, ações de empresas de capital intensivo e perspectiva de crescimento mais longa, como costumam ser as de tecnologia, são as que mais sofrem. No mercado americano, o índice Nasdaq, com maior peso do setor, voltou a ter o pior desempenho em relação ao S&P 500 e ao Dow Jones, mais ligados à economia tradicional. 

O Nasdaq fechou o dia em queda de 2,83% – no maior recuo desde março – enquanto S&P 500 e Nasdaq recuaram 2,04% e 1,63%, respectivamente.

Por aqui, investidores voltaram a ficar preocupados com o cenário fiscal. Em discurso nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é um país rico e pode atender "os mais necessitados por mais tempo", em uma indicação de que o governo federal pode estender, mais uma vez, o auxílio emergencial pago desde o surgimento da pandemia de covid-19.

Segundo a Bloomberg, já há um estudo no governo que avalia estender o auxílio emergencial até abril de 2022. 

Para analistas, a possibilidade aumenta as incertezas de se investir no Brasil já que não há espaço no orçamento para novos gastos sem contrapartidas. Além disso, a sinalização indica que o governo está encontrando dificuldades para custear o Auxílio Brasil, novo programa de transferência de renda que substituiria o Bolsa Família.

Destaques da bolsa

A bolsa brasileira seguiu os passos da americana e penalizou mais fortemente as ações ligadas à tecnologia e ao financiamento intensivo. Os papéis do Inter (BIDI11/BIDI4) recuaram 11,82% e 11,70%, liderando as baixas do dia.

A queda foi seguida pelas ações de outra fintech, a Méliuz (CASH3), que caiu 8,65%, enquanto o Banco Pan (BPAN4), 4,39%. Ainda no setor, Locaweb (LWSA3) e Totvs (TOTS3) tiveram respectivas perdas de 4,65% e 3,45%. 

Ações de empresas de e-commerce também ficaram na ponta negativa do índice, com Americanas (AMER3) e Magazine Luiza (MGLU3), caindo 6,2% e 5,53%, respectivamente. A Petz (PETZ3), com grandes expectativas de crescimento embutidas no preço, tombou 5,89%.

Entre as maiores quedas estiveram ainda as ações da Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermádica (GNDI3), que recuam 5,74% e 5,88%, respectivamente, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitir nota classificando como ‘complexa’ a possível fusão entre as companhias. O órgão antitruste teme que o negócio gere concentração regional no mercado de saúde e solicitou informações complementares para aprofundar a análise do acordo.

Entre as ações com maior peso no índice, a Vale (VALE3) caiu 5,01%, puxando o Ibovespa para baixo. Os papéis acompanharam a queda no preço do minério de ferro, que caiu 6,08%, para 112,06 dólares por tonelada. Siderúrgicas também foram impactadas, com e CSN (CSNA3) caindo 7,84%.

Maiores altas

Maiores quedas

MinervaBEEF3

1,75%

Banco InterBIDI11

-11,82%

BRFBRFS3

0,99%

Banco InterBIDI4

-11,70%

MarfrigMRFG3

0,25%

MéliuzCASH3

-8,65%

Apenas quatro ações das 89 que compõem o Ibovespa fecharam o dia no campo positivo. Os maiores destaques ficam com os papéis de frigoríficos, com a Minerva (BEEF3) subindo 1,75% e liderando as altas do setor.

Na última sexta-feira, o Cade autorizou a aquisição de ações da BRF (BRFS3) pela Marfrig (MRFG3), o que deu fôlego ao setor. Os papéis da BRF subiram 0,99%, enquanto Marfrig avançou 0,25%. Já a JBS (JBSS3) opera em queda de 0,54%.

Vale lembrar que, na última passada, o Morgan Stanley recomendou a compra de Minerva e JBS e, hoje, o Santander recomendou compra dos ativos, bem como manutenção de BRF e Marfrig.

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