Macro Day: "O problema está na origem da estratégia para controlar as dívidas" (Leonidas Santana/Getty Images)
Repórter de Invest
Publicado em 6 de novembro de 2023 às 16h45.
Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h23.
Diante de uma desaceleração econômica nos Estados Unidos frente a uma aceleração moderada na China, a economia brasileira tem espaço para crescer — mas tudo vai depender se o cenário fiscal não se tornar uma pedra no caminho. Pelo menos é essa a avaliação feita por Sara Delfim, da Dahlia Capital, Bruno Serra, do Itaú Asset, Rodrigo Azevedo, da Ibiúna Investimentos e Júlio Filho, do BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), durante o evento Macro Day, organizado pelo BTG Pactual.
Como aponta Sara Delfim, sócia-fundadora da Dahlia Capital, a última vez que as duas maiores economias do mundo passavam por situação parecida foi em 2010, momento que beneficiou mercados emergentes como o brasileiro. "Investimentos perseguem países que crescem mais, e se a China continuar em crescimento será bom para desvalorização do dólar. No Brasil, com PBI para cima, inflação para baixo, ciclo de corte de juros, balança comercial recorde e reformas saindo do papel, esse ciclo parece mais benigno do que maligno", afirma.
A mesma linha é defendida por Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiúna Investimentos, que destaca que o processo de desinflação por aqui teve uma boa condução pelo Banco Central. No entanto, segundo ele, ainda que a atual equipe fiscal esteja fazendo esforços para manter as contas públicas, o controle das dívidas ainda traz incertezas ao investidor brasileiro.
"O problema está na origem da estratégia para controlar as dívidas. A história e a literatura mostram que ela não vai dar certo, já que ela foca a receita e não os gastos. É mais fácil controlar os gastos do que a arrecadação." Para o gestor, esse é o ponto que tem alimentado as incertezas do mercado ante ao terceiro governo Lula. "É só olhar a curva de juros, que mostra as apostas de que no médio e longo prazo há uma perspectiva de que será difícil [para essa estratégia] dar certo."
Enquanto isso, Júlio Filho, co-head de renda fixa de Asset Management do BTG, lembra que a arrecadação fiscal tem sido paulatinamente colocada em debate no Congresso. "Nos propomos a fazer um arcabouço fiscal que apenas para de pé se houver medidas de arrecadação. Sem essa sustentação, não dará certo."
Outro ponto que tem ocupado a atenção do mercado são as mudanças na composição do Banco Central. Nas últimas semanas, foram anunciados dois novos nomes e, em 2025, será a vez de Roberto Campos Neto deixar de presidir a entidade financeira. "Será um momento desafiador quando houver a troca do presidente do BC, ainda temos um pouco mais de cautela sobre essa perspectiva", destaca Bruno Serra, portfolio manager do Itaú Asset.
Ainda assim, segundo o gestor, as nomeações deste ano foram bem-recebidas. A preocupação no momento, contudo, ainda é em relação aos cortes na Selic. Na última quarta-feira, 1º, o Copom manteve a redução anunciada de 0,5 ponto percentual. "Agora, o mercado está com preço razoavelmente mais justo. E onde há muito premio, há inflações implícitas. Se o BC estender o ciclo [de juros] abaixo de 10% é porque a inflação está boa."