Fed: dado "explosivo" da economia americana reduz chance de corte de juros nos EUA
Jerome Powell já vinha afastando a possibilidade de ciclo de queda dos juros iniciar na próxima decisão de política monetária, em março
Repórter
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 14h15.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2024 às 14h42.
Vista como o cenário mais provável no início do ano, investidores vêm dando como cada vez mais rara a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) iniciar o ciclo de queda de juros em março, para quando está prevista a próxima reunião de política monetária dos Estados Unidos. Nesta sexta-feira, 2, o mercado reduziu significativamente essa probabilidade, precificando em apenas cerca de 20% de chance de o Fed começar a cortar os juros no próximo mês. No começo de janeiro, essa chance era precificada em 70%. O último baque sobre as previsões mais otimistas do mercado veio nesta manhã, com os dados oficiais do mercado de trabalho americano.
O payroll, considerado um dos principais termômetros da economia americana, revelou a criação de 353 mil empregos urbanos em janeiro, quase o dobro dos 187 mil esperados para o mês. A taxa de desemprego se manteve estável em 3,7% ante expectativa de alta para 3,8% e a pressão sobre os salários também saiu mais forte que o projetado por economistas do mercado. A variação do salário por hora trabalhada subiu de 4,3% para 4,5% no acumulado de 12 meses ante o consenso de queda para 4,1%.
Com o mercado de trabalho apertado e empregados exigindo aumentos salariais, investidores veem um menor espaço para que o Fed inicie os cortes em março. Somente hoje. a probabilidade de corte em março precificada na curva de juros caiu 18 pontos percentuais (p.p.), enquanto o cenário de manutenção da taxa tem se consolidado.
"O dinamismo na criação de empregos está novamente a aumentar, mas desta vez de forma mais espalhada setorialmente do que foi em 2023. Orelatório explosivo de Janeiro sobre o emprego – aumento das folhas de pagamento, aumento dos salários, queda do desemprego – significa que a Reserva Federal não terá pressa em cortar as taxas de juro", escreveu James Knightley, economista-chefe da área internacional do banco ING.
Mercado ainda prevê mais cortes que o Fed
Os fortes dados do mercado de trabalho foram divulgados em um contexto em que os investidores já estavam reduzindo as apostas em cortes em março. O gatilho para a mudança de chave veio da decisão do Federal Reserve desta semana, especialmente da fala de seu presidente, Jerome Powell. "Não creio que seja provável que a comissão atinja um nível de confiança na altura da reunião de março para identificar março como o momento para fazer isso [ cortar a taxa de juro ]", afirmou Powell, na quarta-feira, 31.
Muitas águas vão rolar até a decisão de março, especialmente na frente de dados econômicos. Mas ainda que decida por manter a taxa de juro, a próxima decisão é considerada de extrema importância para entender o ciclo de afrouxamento monetário dos Estados Unidos, já que serão divulgadas as projeções trimestrais para a taxa de juro do fim deste e dos próximos anos. No último relatório, o Fed considerou apenas três cortes de 0,25 ponto percentual para este ano, o que levaria a taxa para entre 4,5% e 4,75%. Investidores, no entanto, ainda têm uma visão mais otimista, precificando pelo menos cinco cortes de 0,25 p.p até o fim do ano. Antes do payroll desta sexta, o mercado dava como o mais provável pelo menos seis cortes dessa magnitude neste ano.
Confira as últimas notícias de Invest:
- Por que Luís Stuhlberger, da Verde, reduziu pela metade sua alocação em ações
- Para o CEO da Neo, o mercado está otimista demais: "se estiverem errados, vão sofrer pesado"
- "Cenário é positivo para mercado de ações e é só o início", diz Padovani, economista-chefe do BV
- O pesadelo que tem tirado o sono de um dos maiores gestores do mercado brasileiro
- Na contramão do mercado: por que o UBS prefere China a Estados Unidos