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EXAME Research: Já surgem, na crise, sinais de esperança para investimento

Segundo Renato Mimica, diretor da unidade de análise de investimentos da EXAME, combate à pandemia do novo coronavírus, que causa a covid-19, é encorajador

Renato Mimica, diretor da EXAME Research: investidor deve manter postura conservadora, mas pode começar a procurar oportunidades de maior risco (Divulgação/Exame)

Renato Mimica, diretor da EXAME Research: investidor deve manter postura conservadora, mas pode começar a procurar oportunidades de maior risco (Divulgação/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 1 de abril de 2020 às 13h13.

Última atualização em 2 de abril de 2020 às 09h00.

O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira B3, amargou perdas de 37% no período de janeiro a março deste ano – seu pior trimestre na história. A queda é resultado da maior crise desde a Segunda Guerra Mundial: a pandemia do novo coronavírus, que causa a infecção respiratória covid-19. Enquanto varre os países, a doença cria uma tragédia de saúde pública e danos à economia impossíveis de mensurar neste momento. Mas Renato Mimica, diretor da EXAME Research, unidade de análise de investimentos da EXAME, já vê alguns sinais de esperança no horizonte. No relatório "Luzes no fim do túnel", que acaba de ser lançado, Mimica e sua equipe listam as notícias encorajadoras que têm surgido na crise e apontam caminhos para o investidor aproveitar a retomada que há de vir. Leia, a seguir, trechos da entrevista com o diretor.


Esta crise é comparável à de 2008, em termos de turbulências e incertezas para os investidores?

Acho que não. É claro que é muito fácil falar ex-post [após os fatos, em latim], quando conhecemos o começo e o fim da história. Mas o fato de a crise de 2008 ter sido, desde a largada, financeira e econômica deixou as soluções mais visíveis. Agora temos uma crise humanitária, que não é possível resolver apenas com medidas econômicas. A incerteza sobre as consequências, a gravidade e a evolução da pandemia é muito grande. É uma crise mais ampla, de saúde e social, do que a de 2008. Não tem precedentes do ponto de vista de gravidade e falta de visibilidade.

Mesmo assim, vocês escrevem no relatório que há motivos para termos esperança de sair desta crise logo. Por quê?

A volatilidade de curto prazo deve continuar alta. Os números devem seguir negativos. A pandemia nos Estados Unidos e no Brasil se encontra em um estágio anterior ao da Ásia e da Europa. Os efeitos econômicos devem ser ferozes no segundo trimestre do ano. A grande pergunta agora é: quanto vai durar essa crise? Apesar de estarmos cautelosos no curto prazo, há razões para ter esperança.

Observemos a curva do número de mortes pela doença, por exemplo. Não sabemos com precisão a taxa de contágio, porque a testagem varia entre os países, mas podemos olhar para o número de fatalidades para tentar entender aonde a pandemia está indo. Essa é a variável mais confiável em termos de comparação. Já vemos alguns sinais de estabilização na Europa. Conforme as semanas passam, o número de mortes vai diminuindo, e quando chegar a zero significa que acabou. A Itália está em uma situação mais complicada, continua com uma taxa de crescimento de mortes de dois dígitos, porém menor do que antes, e essa é uma boa notícia em meio a tantas más notícias.

Outra é a profusão de testes no mundo inteiro com medicamentos que podem ajudar a combater a doença. Tem a hidroxicloroquina, combinada ou não com azitromicina, o medicamento usado contra o ebola... Existe um esforço descomunal para encontrar um tratamento efetivo. O mesmo se vê em relação a uma vacina. Há dezenas sendo estudadas e eventualmente testadas.

Mais um ponto que nos anima é a reação generalizada e rápida dos governos e da sociedade em minimizar as consequências da crise no mundo inteiro. Os bancos centrais estão reduzindo juros, os privados estão dando crédito, as empresas estão doando recursos e tentando manter os empregos. Também são iniciativas sem precedentes. Todas essas coisas que estão sendo feitas para mitigar a crise podem ajudar para que acabe mais rapidamente.

No mercado de capitais, temos visto muito pânico diante das incertezas que ainda pairam. Como o investidor pode tomar decisões racionais sobre o seu dinheiro em um momento de movimentos tão irracionais?

Primeiro, o investidor precisa estar com uma posição mais conservadora neste momento. Nosso conselho é que seja mais prudente agora do que em outros momentos. Que tenha uma reserva de emergência maior, que cubra mais meses das suas despesas. Depois, dizemos que este não é o momento de operar alavancado. A diversificação agora é ainda mais importante: não deixar todos os recursos concentrados em um ativo, porque o risco é maior. Na hora de escolher uma ação na bolsa ou um título de crédito privado, não tem por quê, agora, apostar em empresas com o balanço muito complicado, endividadas. O investidor precisa estar primeiro confortável com sua posição de liquidez, dormir tranquilo, e depois começa a separar uma parte que pode usar para tomar um pouquinho mais de risco. Não é um dinheiro para esquecer, mas que pode ficar parado por seis a 12 meses, pelo menos.

Aí, vai comprando ações que julgar que estão mais descontadas, devagar. Sabendo que o retorno pode demorar. Esperar um retorno antes de 12 meses é loucura. Olhando para o copo mais cheio, em um momento como este, em que economistas e analistas estão mais pessimistas, revisando suas projeções para baixo, surgem oportunidades de longo prazo. É possível comprar ativos com bom potencial de retorno por preços mais baixos.

Quais são as ações que vocês recomendam neste momento?

Na nossa carteira, temos um bom mix de setores. Há empresas com um perfil de caixa mais estável, como as de energia elétrica e saneamento, dois grandes bancos que obviamente não vão ter problema de funding [financiamento] e estão bem descontadas, uma de aluguel de escritórios. Algumas empresas têm receita dolarizada, como é o caso da mineradora Vale e da siderúrgica Gerdau, que recebe boa parte do seu faturamento dos Estados Unidos. Tem também o Magazine Luiza. Não achamos que a empresa esteja isolada, mas o comércio online deve sofrer menos do que o físico, por razões óbvias. E tem o Pão de Açúcar. O papel já estava barato antes porque a empresa tem sofrido com a competição, mas, dado que é uma provedora de bens de consumo básicos, de alimentos, é um player interessante para o momento.

Para quem está chegando agora ao mundo dos investimentos no mercado de capitais: como saber se uma ação está cara ou barata?

Quando analisamos investimentos, costumamos olhar qual é o preço justo da ação de uma empresa. Esse estudo é feito com base em diversos indicadores qualitativos: quais são seus vetores de crescimento, o que seus gestores estão fazendo, e como isso tudo pode se traduzir em lucros futuros. Usamos modelos matemáticos para estimar o chamado fluxo de caixa descontado, e aí comparamos as empresas com suas semelhantes. Um indicador de curto prazo, ou múltiplo, importante é a relação entre o preço da ação e a estimativa de lucro futuro, conhecido como P/L. É muito usado para verificar se uma ação está cara ou barata.

Para saber mais, baixe gratuitamente aqui o novo relatório: Luzes no fim do túnel

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