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Dos 105 mil aos 95 mil: 5 fatores que explicam a queda do Ibovespa

Principal índice da B3 toca mínima desde o fim de julho e especialistas veem possibilidade de quedas ainda maiores

Bolsa: Ibovespa chega à quarta semana consecutiva de queda (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Bolsa: Ibovespa chega à quarta semana consecutiva de queda (Patricia Monteiro/Bloomberg)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 26 de setembro de 2020 às 08h20.

Última atualização em 26 de setembro de 2020 às 15h08.

O Ibovespa, principal índice de ações da B3, tocou a menor pontuação desde o dia 1 de julho ao marcar 95.631 pontos no pregão desta sexta-feira, 25. O patamar ficou 9,5% abaixo da máxima pós-início da pandemia 105.703,62 pontos. Somente nas últimas quatro semanas, o Ibovespa teve queda de 5,04%, fechando todas elas no negativo.

No mercado, toda euforia observada entre abril e julho, quando a bolsa atingiu 40% de alta em quatro meses, já dá lugar à preocupação, com uma combinação de fatores que fazem aumentar a cautela dos investidores.

Segunda onda

O aumento repentino dos casos de coronavírus na Europa tem sido um dos principais pontos de tensão do mercado. Com Reino Unido e França voltando a apresentar recordes de infeções diárias, os investidores temem que sejam necessárias novas mediadas de isolamento social mais rígidas, como o lockdown – o que poderia atrasar ainda mais a recuperação econômica da Europa.

“O mercado teme que o número de casos de coronavírus levem a novos confinamentos na Europa. Toda alegria que se via com a recuperação em ‘V’ se transformou em uma preocupação real de que podemos estar próximos da segunda perna do ‘W’. Estamos falando de uma queda de 30% de novo”, afirma Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset.

Para Henrique Esteter, o debate sobre o aumento de casos de coronavírus deve continuar forte nas próximas semanas. “Tem que ver direitinho como vão fazer para reduzir o número de casos. Não acho que vão fazer um lockdown. Nacional. Mas se tiver, vai ser um cenário de caos porque estaremos a um mês das eleições americanas e com a Europa fechada.”

Eleições americanas

Com a aproximação das eleições americanas, os investidores acreditam que o presidente Donald Trump irá adotar uma postura (ainda) mais agressiva em relação a temas como China e coronavírus. “Esse tipo pronunciamento pode aumentar a popularidade dele. Mas essas ações geram mais volatilidade no mercado”, afirma Rodrigo Moliterno, sócio e diretor de renda variável da Veedha Investimentos.

Paulo Henrique Duarte, diretor da Valor Investimentos, vê as eleições como um ponto natural de instabilidade, “por ser um momento de grandes incertezas,”, mas acredita que a possibilidade do candidato democrata Joe Biden vencer a corrida eleitoral como um ponto adicional de cautela no mercado.

“Um dos pontos principais pontos de divergências entre republicanos e democratas e a taxação de empresas. O Trump passou um projeto no início do governo que deu um incentivo fiscal muito grande para as empresas. Os democratas acham que o que aconteceu é que grande empresas americanas usaram benefício para produzir no exterior e importar produtos para vender mais caro para a própria população americana. Então, deve ter um aumento dessas taxas e o aumento dos impostos, com certeza, faz preço. O mercado não gosta”, explica.

 

Falta de estímulos

Os estímulos econômicos que impulsionaram a forte recuperação dos índices acionários mesmo em meio à pandemia, tem perdido força e frustrado as expectativas do mercado. A necessidade de novas medidas fiscais para incentivar a economia tem sido reforçada até mesmo pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que voltou a bater nessa tecla durante as audiências no Congresso americano. Mas, com as eleições se aproximando, democratas e republicanos ainda seguem longe de um acordo sobre o tema e os debates sobre um pacote trilionário se arrastam desde o fim de julho.

“Essa falta de consenso sobre os estímulos pode levar a economia americana para um período de recessão ainda pior e, como maior economia do mundo, deve afetar fortemente os mercados mundo a fora”, comenta Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

Dados econômicos

A expectativa de que a economia global tivesse uma recuperação pujante ficou no primeiro semestre. Sem novos pacotes de estímulo para serem aprovados, os principais dados econômicos já começam a demonstrar fraqueza. O mais recente, divulgado nesta sexta, foi o de pedidos de bens duráveis nos Estados Unidos. Referente ao mês de agosto, os pedidos tiveram alta mensal de 0,4% ante expectativa de 1,5%. Em julho, o crescimento foi de 11,7%.

“Esses dados revelam se a população está com dinheiro, crédito e confiança para consumir e o consumo, que é a primeira tração da recuperação econômica”, comenta Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Durante a semana, o mercado também observou fracos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), principalmente relacionados ao setor de serviços, que representa a maior fração da atividade econômica global. Na França e na Alemanha, os PMIs de serviços de agosto chegaram a ficar abaixo dos 50 pontos que delimitam a queda da expansão da atividade.

Fiscal

Semana vem, semana vai, e as incertezas sobre o cumprimento do teto de gastos voltam à tona. Embora já não se fale -- por ora -- sobre uma possível saída do ministro da Economia Paulo Guedes do cargo, a lentidão em aprovar reformas tidas como essenciais para economia brasileira e o ímpeto gastador do presidente Jair Bolsonaro ainda são motivo de tensão no mercado.

“O consumo brasileiro está vivendo a base de programa assistencialista e o governo tomou gosto pelas medidas ao ver a popularidade subir. Então o mercado se pergunta se a economia vai ter consistência para seguir sozinha a partir de janeiro [quando acaba o coronavoucher] ou vai precisar de mais auxílio. Se precisar, será a que custo? Se as reformas não avançarem, as margens para continuar com auxílio vão cair por terra”, afirma Franchini.

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